Cidade Morena talvez seja a denominação mais usual e benquista, por isso mesmo afetiva e tão repleta de sentidos, que há décadas perpassa a história da cidade de Campo Grande, tanto que nem o termo Capital Morena – emblemático e cheio de pompa – sobrepujou a expressão Cidade Morena. Inclusive o termo, cognome em uma linguagem mais empolada ou técnica, não poucas vezes foi e é pronunciado, escrito, visto e até celebrado em diversos suportes e nas mais variadas situações.
Anúncios, letreiros, nomes de empresas e slogans de empreendimentos, discursos institucionais, políticos e acadêmicos, letras de músicas, placas comemorativas ou informativas, textos com variados enfoques também ajudaram e continuam contribuindo para perpetuar esta definição em nossa memória de tal modo que já é acertado pontuar que existem sentimentos e histórias que envolvem o cognome desde longa data.
Neste momento, salvo melhor juízo, não deve pairar dúvida de que a expressão Cidade Morena externa e reveste-se de simbolismos com conotações as mais positivas, essencialmente enaltecedoras à urbe e à municipalidade. No conjunto, as duas palavras – cidade e morena – albergam e difundem valores que, com o passar do tempo, se filiaram sobremaneira à matriz de ideias que procuram edificar Campo Grande como espaço civilizado, ordeiro e cordial, afeito às leis, aos bons costumes e detentor de progresso digno de destaque na região e também nos cenários brasileiro e internacional.
Nesse viés, o termo cidade seria o indicativo do moderno e faria referência à evolução material da sociedade em uma perspectiva que se auto-intitulava como ascendente, sinônimo de desenvolvimento pautado na filosofia da modernização que, cada vez mais, obtinha destaque diante de outros modos de vida e cotidianos, enfim, culturas; já o termo morena comportaria a dimensão do mundo físico, quase sempre visto como natural ou biológico, determinado e condicionado como questão além-humana, sagrada, e que por isso mesmo independeria da ação do Homem, remetendo também à noção de solo fértil, dadivoso e propício às culturas agrícolas, uma das fontes de manutenção da vida.
Se nos ativermos ao enfoque de uma linha temporal e aos indícios, caberá referir que a noção – tenhamos em mente que a palavra sugere conceito vago ou impreciso – de Cidade Morena pode ser localizada documentalmente ainda no final da década de 1910, fruto de versos creditados ao religioso Francisco de Aquino Corrêa, ou tão somente Dom Aquino Corrêa. Oportuno informar que a expressão, na forma literal, não consta na obra Terra Natal, publicação de 1922, que em linhas gerais contém poemas de exaltação a esta unidade federativa. Assim sendo, apenas por conjectura é possível indicar que sua “origem” reside nos versos a seguir. Nas palavras de Corrêa: “Campo Grande/ Ei-la a rir para o céu todo azulado,/ Sobre terras tão roxas e mimosas”.