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Mato Grosso do Sul pode indicar um caminho para a economia brasileira?

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Nas últimas décadas, Mato Grosso do Sul vem registrando uma taxa de crescimento econômico muito superior à média brasileira. Mas o que explica esse desempenho? Diversos fatores podem ser destacados, mas aqui destaco um ponto que pode passar desapercebido, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) industrial.

O economista Nicholas Kaldor (1908-1986) tornou-se mundialmente conhecido por seus estudos sobre a importância do setor industrial no desenvolvimento econômico. Suas pesquisas demonstraram que as diferenças nas taxas de crescimento entre países e regiões estão diretamente relacionadas ao dinamismo industrial.

De forma simplificada, suas principais conclusões podem ser resumidas em três pontos: 1) O crescimento da indústria está diretamente ligado ao crescimento econômico geral. Quanto mais a indústria se expande, mais a economia como um todo se desenvolve, impulsionando inovações e ganhos de eficiência em outros setores. 2) À medida que a produção industrial cresce, a produtividade da indústria também aumenta, criando um círculo virtuoso em que o crescimento gera maior eficiência e, por consequência, ainda mais crescimento. 3) O aumento das exportações, especialmente de produtos industrializados, é fundamental para o desenvolvimento econômico, ajudando a equilibrar as contas externas, além de possibilitar um crescimento sustentável.

Ao analisar os dados das Contas Regionais do IBGE (2024), o PIB de Mato Grosso do Sul apresentou uma taxa média real anual de crescimento de 5,5%, enquanto o Brasil, no mesmo período (2005 a 2021, último dado disponível para as Unidades da Federação), cresceu, em média, 2,04% ao ano. À primeira vista, o dinamismo econômico do Estado pode ser atribuído ao setor agropecuário, o que de fato é verdade. O PIB da agropecuária em MS registrou um crescimento médio anual de dois dígitos (11,9%, comparado aos 5,4% do Brasil). Ou seja, o desempenho do Estado foi 120% superior ao nacional. No entanto, a diferença no setor industrial foi ainda mais expressiva.

Ao observarmos o desempenho do PIB industrial per capita, a taxa média anual de crescimento real no mesmo período foi de 4,9% em Mato Grosso do Sul, enquanto no Brasil foi de apenas 0,84%. Em outras palavras, enquanto o Brasil enfrentava estagnação no setor industrial, Mato Grosso do Sul teve um desempenho 483% superior. Quando analisamos o crescimento industrial total, independentemente do tamanho populacional, a média anual de crescimento do PIB industrial real foi de 7,29% em MS, contra 1,4% no Brasil no mesmo período.      

Embora a importância relativa da indústria de Mato Grosso do Sul no cenário nacional ainda seja modesta, o crescimento expressivo do setor, especialmente ligado à agroindústria, parece ser um fator determinante para o dinamismo econômico acima da média brasileira.

O desafio para Mato Grosso do Sul é manter esse ritmo de crescimento, enquanto o Brasil enfrenta o desafio de acelerar sua taxa de crescimento industrial, em meio a um cenário de desindustrialização em várias economias.

Uma lição que pode ser extraída dessa trajetória é a necessidade de fomentar a agregação de valor, promovendo a industrialização, ao menos, em cadeias produtivas nas quais o País já tenha alguma vantagem competitiva internacional.

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O que tem para dizer o MPF?

19/11/2024 07h45

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O que há de ser entendido no silêncio que o Ministério Público Federal (MPF) adotou – quando se calou e se mantém calado – diante da solução que os governos federal e estadual encontraram para pôr fim ao caso da Terra Indígena (TI) Ñande Ru Marangatu, em Mato Grosso do Sul?

Como é sabido, a questão abarcava conflitos violentos que vinham acontecendo há décadas entre indígenas e não indígenas. Esses conflitos foram desencadeados a partir da instrução do processo administrativo em que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) demarcou – pela ocupação indígena em passado remoto que ela mesmo declarou – um território inteiro de terras particulares em Antônio João, até então, integralmente ocupado, possuído e explorado há quase um século por seus respectivos proprietários. 

O que amparava esses conflitos era a teoria do indigenato, de 1912, do ministro João Mendes, que pela ocupação indígena em passado remoto identificou a TI Ñande Ru Marangatu. Essa forma de identificação de terra indígena tem sido a causa das incontáveis invasões indígenas às terras particulares que ocorreram e que ocorrem todos os dias em MS e em muitas regiões do território nacional.

Lado outro, a Comissão Especial de Autocomposição do Supremo Tribunal Federal (STF) homologou o acordo, o que leva concluir que a mais alta Corte de Justiça concorda com esse modus operandi de se identificar terras indígenas e o adota, como se tanto fosse possível, na solução das causas que julga envolvendo matéria indígena. O exemplo mais recente envolve o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.017.365/SC.

Aliás, a Corte faz confusão quando identifica terras indígenas. Ora adota a teoria do indigenato, ora adota a sua própria interpretação, proclamada na assertiva de que a “configuração de terras ‘tradicionalmente ocupadas’ pelos índios já foi pacificada com a edição da Súmula nº 650, que dispõe: ‘Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto’”.

Notadamente, o STF relativizou ainda mais o direito de propriedade constitucional diante da matéria indígena, proclamando que, uma vez constatada a ocupação indígena em passado remoto, não há que se invocar o direito de propriedade, o título translativo nem a cadeia sucessória do domínio como defesa. Em resumo, o posicionamento extremo do Supremo é de que a ocupação indígena – seja ela presente, seja ela em passado remoto (indigenato) – define a terra indígena da União. 

A seu turno, por que o MPF – ferrenho defensor dessa ordem jurídica – deixou que os governos federal e estadual pagassem aos particulares pelas terras indígenas que ocupavam e exploravam no distrito de Campestre, em Antônio João? Com a palavra, o MPF em Mato Grosso do Sul!

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A resiliência e a fé

19/11/2024 07h30

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Os desafios diários enfrentados por quem atua na proteção da natureza têm se tornado uma enorme prova de resistência e fé. As condições climáticas extremas, impulsionadas pelas altas temperaturas, ameaçam nossas reservas com o fogo e penalizam a fauna e a flora – já impactadas pela reincidência de incêndios violentos desde 2020.

Percebo que a fauna enfrenta o pior processo de extinção desde o período em que conseguimos a vitória no controle da caça, do tráfico de animais silvestres e da pesca predatória na década de 1980. O cenário atual é de destruição de habitat natural, em que espécies estão sendo dizimadas de forma assustadora, especialmente répteis e insetos. As chamas estão tão intensas que, somadas aos ventos fortes, invadem todos os lugares: locas, copas das árvores, etc, persistindo por meses de forma impiedosa.

Não há dúvidas de que estamos perdendo essa batalha. Somente neste ano já ultrapassamos os 3 milhões de hectares queimados. Esse trágico número foi alcançado mesmo com o empenho de recursos financeiros nas ações de combate, que certamente superam R$ 1 bilhão – entre os investimentos dos governos federal e estadual.

Nunca tivemos – em um histórico de 40 anos – uma infraestrutura de combate tão ampla, incluindo recursos humanos, equipamentos de logística, helicópteros, caminhões e embarcações. É importante destacar o trabalho pioneiro da Famasul, que contabiliza os prejuízos na produção das fazendas no Pantanal, já ultrapassando R$ 50 milhões.

Como podemos ser mais eficientes se nossa capacidade financeira já extrapola seus limites dos desafios e a força humana se mostra insuficiente, em algumas situações até incapaz? Estamos enfrentando algo sem precedentes e que excede nossa capacidade de resposta.

Não devemos nos omitir na identificação dos responsáveis. Eles existem, embora sejam poucos. Ainda assim, acredito que não haverá melhoras significativas na questão comportamental apenas com multas milionárias e possíveis prisões. 

A experiência de outros países, como Portugal e Austrália, nos indica que o ímpeto punitivo não traz uma solução completa. Esses países já lidam com incêndios gigantescos e perdas de vidas humanas em virtude deles há mais de 20 anos.

O mais impressionante – e certamente mais doloroso que as próprias chamas – são as acusações equivocadas e a ignorância de alguns que associam o crescimento dos incêndios às reservas de proteção. Ao contrário, as poucas áreas protegidas no Pantanal (menos de 5%) têm estruturas para evitar incêndios e ações preventivas em seus planos de trabalho, como a presença de brigadas.

Podemos reduzir a escalada dos incêndios ano após ano se implementarmos outras estratégias que não se restrinjam ao combate ao fogo, mas que incluam 
a prevenção. Devemos reconhecer que nossos planos atuais não estão trazendo os resultados esperados e que não será somente o aumento dos investimentos financeiros que nos trará a solução.

O ponto crítico é como um dos biomas mais preservados (cerca de 85%) passou a ser um grande emissor de gás carbônico no País. Os fenômenos naturais são impactados negativamente pelas condições climáticas extremas. Essa situação ameaça nosso bioma e exige novas estratégias que unam ciência e competência para enfrentar esses fenômenos sem precedentes.

Restaurar ao proprietário formas de manejo do fogo pode ser uma alternativa. Eles podem ajudar. Ao mesmo tempo, com mais tecnologia e grupos de ação de combate ao fogo, equipados com boa logística e equipamentos adequados, podemos reduzir o tempo de resposta. Não podemos desistir e precisamos ter fé e resistência para rever nossa relação com o planeta.

Poderíamos, em um gesto responsável, olhar e fazer algo pela nascente do Rio Paraguai. Não sou pessimista, mas talvez apenas a desesperança e o senso de urgência possam nos salvar.

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