O cargo de primeiro-ministro é ocupado pelos chefes de governos parlamentaristas e semipresidencialistas, uma figura central que distribui as cartas e dita as regras do poder enquanto o chefe de estado exerce funções meramente protocolares.
No Brasil, país de regime presidencialista, não há um primeiro-ministro, ou, pelo menos, não na teoria. Na prática, porém, ele existe e atua de forma intensa nos bastidores, especialmente nos momentos de maior crise.
Mesmo sem votos ou cargo oficial no Planalto, Michel Temer tem alta capacidade de influência e articulação em todas as esferas, características que o permitem assumir papel de protagonismo no jogo político.
Engana-se, no entanto, quem imagina que o ex-presidente entre na batalha do tabuleiro, misturando-se às peças do xadrez. Temer permanece do lado de fora da disputa, marcando o tempo de cada jogada.
É ele o relojoeiro que observa tudo a distância e, em silenciosa atuação, estabelece o ritmo das manobras de quem assume o papel oficial de jogador. Foi assim no passado e ainda é assim no presente, quando o País se encontra cada vez mais imerso no clima da polarização radicalizada.
Nos últimos dias, Temer voltou a assumir posição determinante nos bastidores da política nacional, em razão da crise institucional incendiária que se instalou no País após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) fez crescer a pressão da direita pelo perdão aos condenados por envolvimento nos ataques do 8 de Janeiro de 2023, em Brasília. Poucos sabem e quase ninguém viu, mas o ex-presidente assumiu as negociações.
À anistia, deu nome de pacificação e, em seguida, selou os acordos necessários para que a classe política pudesse respirar.
Para isso, falou com o Senado e a Câmara Federal; negociou com o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do Projeto de Lei da Anistia; e, após ver içadas as bandeiras brancas no campo da disputa política nacional, ainda arrematou a costura com um telefonema para Alexandre de Moraes.
Tudo dentro da elegância e discrição que lhe são peculiares, demonstrando mais uma vez sua habilidade de dialogar nos momentos em que a preservação da estabilidade institucional se torna prioridade no País.
Temer mostra que seu talento de líder estrategista não é apenas uma habilidade de ocasião. Sua experiência é fundamental para navegação nos mares revoltos da política brasileira, que exige liderança e entendimento aprofundado sobre as complexidades do processo democrático.
Já dizia o ditado: “O diabo é sábio porque tem idade”. Temer, por sua vez, vira oráculo porque tem bagagem.
A classe política sabe o quanto vale o apoio de Michel Temer, e as negociações para definição das chapas que entrarão na disputa presidencial em 2026 já passam por seu aval. A direita o respeita, a esquerda o monitora de perto. Ao fim, todos querem lhe pedir a benção.


