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O petróleo pode turbinar a campanha em Corumbá

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O candidato a prefeito em Corumbá que souber explorar esse tema certamente sairá na frente dos demais concorrentes na corrida eleitoral. Contudo, deve conhecer o caminho a percorrer, ou seja, a história do petróleo em Porto Esperança. O petróleo é um produto símbolo de riqueza, e riqueza atrai riqueza.

Um assunto que, por si só, arrastaria a rápida recuperação da rede ferroviária para o transporte do ouro negro. Isso atrairia empresas especializadas em petróleo, máquinas, equipamentos e muita gente para tocar um grande projeto como esse.

Mas... em Porto Esperança tem petróleo? Se pesquisarem na Câmara Municipal de Corumbá os trabalhos do saudoso vereador Geraldino Martins de Barros, certamente encontrarão vasto material sobre o tema. Vale ressaltar que Geraldino de Barros foi eleito e depois reeleito por diversos mandatos com os votos dos eleitores de Porto Esperança.

Sou testemunha viva desse passado, pois meu pai, que era marítimo, foi transferido para esse distrito, e eu contava apenas sete anos de idade. Estudei no Colégio Barão do Rio Branco, que era mantido pela entidade S.S.C.H., e conheci o vereador Geraldino de Barros, muito presente na comunidade.

O famoso escritor brasileiro Monteiro Lobato abriu uma firma em Corumbá, cujo escritório ficava na Rua Delamare e se chamava Companhia Matogrossense de Petróleo, ele um entusiasta na prospecção do petróleo em Porto Esperança. Ele precisaria do apoio do Congresso Nacional para obter autorização para iniciar a empreitada.

Pelo que se sabe, era um homem rico e desejava concluir esse tão sonhado projeto. Bateu às portas do Congresso Nacional várias vezes, sem, contudo, conseguir o seu intento. Desolado, abandonou o seu sonhado projeto, fechando a empresa e desativando o escritório.

Posteriormente, ele teve conhecimento de que havia um lobby dentro do Congresso, isso ocorreu na década de 1940, que trabalhava em favor de uma companhia americana de petróleo, que ambicionava um projeto idêntico ao seu e que havia conseguido a autorização para a prospecção do petróleo em Porto Esperança.

E eles lá estiveram, iniciando a perfuração do solo pantaneiro. Segundo relato dos moradores, jorrou petróleo, um líquido escuro que muitos aproveitavam para recolher em vasilhames para serem utilizados em suas lamparinas. Quando lá cheguei, havia no local uma torre metálica, cuja base estava lacrada com concreto e uma placa da empresa.

Para nossa infelicidade, eclodiu em 1941 a Segunda Guerra Mundial, e os Estados Unidos dela participaram. Os investimentos do tipo foram paralisados, e, como a guerra levou alguns anos para terminar, tal projeto foi abandonado.

Como o distrito de Porto Esperança era o ponto final da rede ferroviária federal, a NOB, os moradores continuaram esperançosos na volta da exploração do petróleo, e o vereador Geraldino não abandonou a luta, sendo sempre prestigiado pelos eleitores, até que os trilhos da NOB chegaram em Corumbá, esvaziando Porto Esperança, isso por volta de 1954.

Como um marco dessa efeméride, ficou ali no distrito de Porto Esperança a Torre do Petróleo, que, corroída pelo tempo, acabou desabando. Tal e qual os moradores, a desilusão acabou com sua resistência. Mas acredito que vale a pena investir nesse tema, que, com certeza, empolgará a população corumbaense, porque, pelo que sei, o distrito de Porto Esperança hoje conta com 80 eleitores. Vamos lá candidatos, o povo precisa estar estimulado para Corumbá dar a volta por cima.

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O que tem para dizer o MPF?

19/11/2024 07h45

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O que há de ser entendido no silêncio que o Ministério Público Federal (MPF) adotou – quando se calou e se mantém calado – diante da solução que os governos federal e estadual encontraram para pôr fim ao caso da Terra Indígena (TI) Ñande Ru Marangatu, em Mato Grosso do Sul?

Como é sabido, a questão abarcava conflitos violentos que vinham acontecendo há décadas entre indígenas e não indígenas. Esses conflitos foram desencadeados a partir da instrução do processo administrativo em que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) demarcou – pela ocupação indígena em passado remoto que ela mesmo declarou – um território inteiro de terras particulares em Antônio João, até então, integralmente ocupado, possuído e explorado há quase um século por seus respectivos proprietários. 

O que amparava esses conflitos era a teoria do indigenato, de 1912, do ministro João Mendes, que pela ocupação indígena em passado remoto identificou a TI Ñande Ru Marangatu. Essa forma de identificação de terra indígena tem sido a causa das incontáveis invasões indígenas às terras particulares que ocorreram e que ocorrem todos os dias em MS e em muitas regiões do território nacional.

Lado outro, a Comissão Especial de Autocomposição do Supremo Tribunal Federal (STF) homologou o acordo, o que leva concluir que a mais alta Corte de Justiça concorda com esse modus operandi de se identificar terras indígenas e o adota, como se tanto fosse possível, na solução das causas que julga envolvendo matéria indígena. O exemplo mais recente envolve o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.017.365/SC.

Aliás, a Corte faz confusão quando identifica terras indígenas. Ora adota a teoria do indigenato, ora adota a sua própria interpretação, proclamada na assertiva de que a “configuração de terras ‘tradicionalmente ocupadas’ pelos índios já foi pacificada com a edição da Súmula nº 650, que dispõe: ‘Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto’”.

Notadamente, o STF relativizou ainda mais o direito de propriedade constitucional diante da matéria indígena, proclamando que, uma vez constatada a ocupação indígena em passado remoto, não há que se invocar o direito de propriedade, o título translativo nem a cadeia sucessória do domínio como defesa. Em resumo, o posicionamento extremo do Supremo é de que a ocupação indígena – seja ela presente, seja ela em passado remoto (indigenato) – define a terra indígena da União. 

A seu turno, por que o MPF – ferrenho defensor dessa ordem jurídica – deixou que os governos federal e estadual pagassem aos particulares pelas terras indígenas que ocupavam e exploravam no distrito de Campestre, em Antônio João? Com a palavra, o MPF em Mato Grosso do Sul!

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A resiliência e a fé

19/11/2024 07h30

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Os desafios diários enfrentados por quem atua na proteção da natureza têm se tornado uma enorme prova de resistência e fé. As condições climáticas extremas, impulsionadas pelas altas temperaturas, ameaçam nossas reservas com o fogo e penalizam a fauna e a flora – já impactadas pela reincidência de incêndios violentos desde 2020.

Percebo que a fauna enfrenta o pior processo de extinção desde o período em que conseguimos a vitória no controle da caça, do tráfico de animais silvestres e da pesca predatória na década de 1980. O cenário atual é de destruição de habitat natural, em que espécies estão sendo dizimadas de forma assustadora, especialmente répteis e insetos. As chamas estão tão intensas que, somadas aos ventos fortes, invadem todos os lugares: locas, copas das árvores, etc, persistindo por meses de forma impiedosa.

Não há dúvidas de que estamos perdendo essa batalha. Somente neste ano já ultrapassamos os 3 milhões de hectares queimados. Esse trágico número foi alcançado mesmo com o empenho de recursos financeiros nas ações de combate, que certamente superam R$ 1 bilhão – entre os investimentos dos governos federal e estadual.

Nunca tivemos – em um histórico de 40 anos – uma infraestrutura de combate tão ampla, incluindo recursos humanos, equipamentos de logística, helicópteros, caminhões e embarcações. É importante destacar o trabalho pioneiro da Famasul, que contabiliza os prejuízos na produção das fazendas no Pantanal, já ultrapassando R$ 50 milhões.

Como podemos ser mais eficientes se nossa capacidade financeira já extrapola seus limites dos desafios e a força humana se mostra insuficiente, em algumas situações até incapaz? Estamos enfrentando algo sem precedentes e que excede nossa capacidade de resposta.

Não devemos nos omitir na identificação dos responsáveis. Eles existem, embora sejam poucos. Ainda assim, acredito que não haverá melhoras significativas na questão comportamental apenas com multas milionárias e possíveis prisões. 

A experiência de outros países, como Portugal e Austrália, nos indica que o ímpeto punitivo não traz uma solução completa. Esses países já lidam com incêndios gigantescos e perdas de vidas humanas em virtude deles há mais de 20 anos.

O mais impressionante – e certamente mais doloroso que as próprias chamas – são as acusações equivocadas e a ignorância de alguns que associam o crescimento dos incêndios às reservas de proteção. Ao contrário, as poucas áreas protegidas no Pantanal (menos de 5%) têm estruturas para evitar incêndios e ações preventivas em seus planos de trabalho, como a presença de brigadas.

Podemos reduzir a escalada dos incêndios ano após ano se implementarmos outras estratégias que não se restrinjam ao combate ao fogo, mas que incluam 
a prevenção. Devemos reconhecer que nossos planos atuais não estão trazendo os resultados esperados e que não será somente o aumento dos investimentos financeiros que nos trará a solução.

O ponto crítico é como um dos biomas mais preservados (cerca de 85%) passou a ser um grande emissor de gás carbônico no País. Os fenômenos naturais são impactados negativamente pelas condições climáticas extremas. Essa situação ameaça nosso bioma e exige novas estratégias que unam ciência e competência para enfrentar esses fenômenos sem precedentes.

Restaurar ao proprietário formas de manejo do fogo pode ser uma alternativa. Eles podem ajudar. Ao mesmo tempo, com mais tecnologia e grupos de ação de combate ao fogo, equipados com boa logística e equipamentos adequados, podemos reduzir o tempo de resposta. Não podemos desistir e precisamos ter fé e resistência para rever nossa relação com o planeta.

Poderíamos, em um gesto responsável, olhar e fazer algo pela nascente do Rio Paraguai. Não sou pessimista, mas talvez apenas a desesperança e o senso de urgência possam nos salvar.

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