A concorrência é um dos pilares do capitalismo e o principal motor das economias de mercado. É ela que impulsiona empresas a inovar, reduzir custos, melhorar serviços e oferecer ao consumidor produtos de melhor qualidade por preços mais justos.
Quando há competição real, todos ganham: o empresário é desafiado a evoluir, o consumidor tem opções e o mercado se torna mais eficiente e transparente.
Mas o que dizer de um cenário em que, mesmo com seguidas reduções no preço da gasolina nas refinarias, o valor final nas bombas permanece inalterado? Essa aparente “blindagem” dos preços é um sintoma claro de distorção, e toda distorção econômica, quando não explicada, deve ser investigada.
Se o mercado é regido pela livre concorrência, por que não há variação de preços quando o custo do produto cai na origem?
Quando o consumidor percebe que não há diferença de preço entre postos de uma mesma cidade, ou mesmo de um mesmo bairro, algo está errado. Pode haver falha na competição, cartelização disfarçada ou, no mínimo, uma ausência de transparência na formação dos preços.
A distorção pode estar em qualquer elo da cadeia: no atacadista, no varejista ou até mesmo na falta de fiscalização dos órgãos que deveriam zelar pelo equilíbrio das relações de consumo, como os Procons e as promotorias especializadas.
Até o momento, os proprietários de postos e as distribuidoras ainda não vieram a público explicar por que as sucessivas quedas de preço nas refinarias não resultaram em alívio para o bolso do motorista.
O problema se agrava porque, em situações opostas – quando há aumento no preço do combustível na origem –, o repasse ao consumidor costuma ser quase imediato. A assimetria na velocidade dos repasses revela que o mercado funciona com lógica própria, pouco sensível às oscilações que deveriam beneficiá-lo.
Há monopólio ou cartel entre distribuidoras e redes de postos? Não há resposta clara. Mas o comportamento padronizado dos preços e o silêncio do setor alimentam a desconfiança. O consumidor, que é a parte mais vulnerável dessa equação, tem o direito de saber como se formam os preços e por que não há redução quando a cadeia produtiva paga menos.
Por isso, é urgente que os órgãos de defesa do consumidor, especialmente os Procons e as promotorias, cobrem explicações públicas e detalhadas das empresas envolvidas.
A transparência é o primeiro passo para restabelecer a confiança no mercado e para evitar que o custo da inércia e da opacidade continue sendo pago por quem não tem escolha: o cidadão comum.
Em um ambiente saudável, a concorrência premia a eficiência e pune o abuso. Quando isso não acontece, o capitalismo deixa de ser um instrumento de progresso e passa a servir a poucos.
No caso dos combustíveis, é hora de devolver à concorrência o papel que ela sempre deveu ter: proteger o consumidor e garantir que o livre mercado não se transforme em um negócio fechado, caro e silencioso.


