Nesta edição, trazemos a nossos leitores mais uma atualização sobre as obras dos corredores de ônibus em Campo Grande. O tema não é novo: há mais de uma década, a capital convive com planos, promessas, anúncios e frustrações em torno desse projeto, que, em sua origem, parecia representar uma revolução no transporte coletivo da cidade.
Vale a pena recapitular. Os corredores de ônibus foram idealizados em um contexto de modernização da malha viária urbana, especialmente das linhas troncais, que ligam regiões populosas ao centro.
O conceito previa vias pavimentadas com qualidade superior, pontos de ônibus estrategicamente posicionados para facilitar o embarque e o desembarque, veículos novos e confortáveis, além de um asfalto que seria, como se dizia na época, “um verdadeiro tapete”.
Era um plano que inspirava confiança e que dialogava com as experiências de cidades maiores, onde corredores exclusivos ajudaram a melhorar a mobilidade.
Corta a cena para 2025, e o que temos está bem distante daquele plano ideal. O leitor que diariamente circula por Campo Grande sabe disso melhor do que qualquer relatório técnico.
Hoje encontramos algumas vias com pontos de ônibus localizados no meio da pista, como previa o projeto, mas outras seguem no modelo antigo, sem nenhuma padronização. Não há coerência urbanística, tampouco uma sensação de transformação.
É verdade que, onde as obras chegaram, o asfalto é de melhor qualidade. E esse é, talvez, o único ganho concreto até aqui.
Não se trata de um benefício pequeno, já que ruas bem pavimentadas melhoram a circulação e reduzem custos de manutenção de veículos, mas a sensação que fica é de obra inacabada: o projeto como um todo não se materializou.
Ainda que possamos reconhecer a importância de um novo pavimento, é evidente que os corredores de ônibus não cumpriram até agora a função que lhes foi atribuída.
Não houve renovação significativa da frota e os pontos não oferecem o conforto prometido. O resultado é um conjunto de intervenções incompletas, e o asfalto segue ruim onde elas não ocorreram.
A ducha de água fria, agora, é a falta de recursos para custear a contrapartida necessária à continuidade dos projetos. Se na década passada os corredores representavam esperança, em 2025 eles simbolizam uma obra que envelheceu antes mesmo de ser concluída.
Perdeu-se tempo, dinheiro e, sobretudo, a oportunidade de dotar Campo Grande de uma estrutura de mobilidade condizente com seu porte.
É legítimo, portanto, cobrar do poder público – sobretudo dos gestores do passado – mais responsabilidade ao planejar obras dessa magnitude. Não se trata apenas de pensar grande, mas de pensar de maneira viável, com os pés no chão.
Projetos de mobilidade urbana são fundamentais para o desenvolvimento de qualquer cidade que cresce como Campo Grande, mas precisam sair do papel, ter começo, meio e fim, e entregar à população o que foi prometido.
Os projetos para o futuro bem que poderiam ser mais “pé no chão”. Os corredores de ônibus podem até ter sido um sonho legítimo, mas Campo Grande já não pode se dar ao luxo de sonhar sem realizar.


