Em meio aos explosivos acontecimentos da Revolução Francesa, o filósofo Immanuel Kant escrevia um trabalho que buscava, em sua ideia universal de razão, os caminhos para alcançar uma nova ordem mundial.
Os sentidos dessas propostas, presentes em sua obra “À Paz Perpétua” (1795), lançariam as bases para a constituição da Organização das Nações Unidas (ONU). Para Kant, “a razão [...] condena absolutamente a guerra como procedimento de direito e torna, ao contrário, o estado de paz um dever imediato, que, porém, não pode ser instituído ou assegurado sem um contrato dos povos entre si”.
Exatos 230 anos depois, o presidente dos EUA, Donald J. Trump, tenta reescrever a história da paz por meio de outros contornos, enquadramentos, materiais e sentidos. Longe de ser um discípulo de Kant, Trump compartilha da ideia de que uma nova racionalidade deve compor as relações internacionais, em que o jogo de forças se deve ao poder de pressão comercial que cada país pode oferecer.
Ao contrário de Kant, Trump viu nascer uma potência mundial que não realizou nenhum projeto imperialista-militar para alcançar seus objetivos: a China.
Desse modo, em sintonia com seu primeiro mandato, Trump deseja ampliar e ratificar de vez os chamados Acordos de Abraão, firmados em 2020.
Tais resoluções visavam à normalização das relações diplomáticas entre Israel, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, com a perspectiva de um avanço futuro entre Israel e Arábia Saudita, principal país árabe da região.
A ideia central é diminuir a influência chinesa em diversos lugares do planeta. No entanto, em 7 de outubro de 2023, um grande ataque do Hamas suspendeu esses possíveis avanços.
De lá para cá, foram quase dois anos de muitas mortes e da destruição quase completa da infraestrutura de Gaza. O que resta do Hamas é, sobretudo, sua defesa do extermínio de Israel e a manutenção de alguns reféns.
Por outro lado, Israel vem sendo amplamente criticado pela comunidade internacional, sendo pressionado, inclusive, pelo cancelamento da venda de armas por parte de países da União Europeia.
Diante de tamanhos desafios, Donald Trump não poderá dispor da longa duração para restabelecer uma paz que insiste em não se concretizar, em razão de movimentos nacionalistas frágeis que redefiniram fronteiras sem levar em consideração o tempo histórico.
Assim, ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e em negociações com diversos países árabes, Trump propôs um importante acordo para se tentar, mais uma vez, uma paz duradoura na região.
A proposta norte-americana, com 20 pontos, inclui a libertação de reféns em até 72 horas, o desarmamento e a desmobilização do Hamas, o fim da ofensiva militar israelense em Gaza, a proibição de anexação do território, a entrada imediata de ajuda humanitária e a libertação de centenas de palestinos detidos.
Israel manteria um perímetro de segurança, enquanto reféns e prisioneiros seriam trocados em etapas para viabilizar o acordo.
Caso consiga estabelecer pontes para uma nova relação geopolítica no Oriente Médio, o presidente dos EUA terá conquistado seu principal legado internacional.
Resta saber se, dentro de Israel ou da Palestina, extremistas não tentarão novamente criar uma política de terror e fazer retroceder as negociações, como já ocorreu no passado.
Seja pela razão, pela tolerância religiosa ou por interesses comerciais, a expectativa é de que o Oriente Médio encontre sua paz.


