Quando a situação financeira não é das melhores na administração pública, normalmente, a corda arrebenta do lado mais fraco, que é o do servidor. Ao se falar em servidor, contudo, existe uma variação literalmente imoral. Na Prefeitura de Campo Grande, por exemplo, existem mais de 10 mil cujo salário-base é inferior a um salário mínimo. Por outro lado, existem aqueles que recebem R$ 70 mil líquidos ao fim de cada mês. No governo do Estado, embora a situação na base da pirâmide seja um pouco melhor, a disparidade é ainda maior. A casta recebe uma média de R$ 150 mil.
Nesta semana, depois de uma infinidade de sinais, a administração estadual admitiu que está em crise e determinou o corte de gastos. Mas de antemão já deixou claro que não pretende mexer no topo da pirâmide do funcionalismo. Isso ficou evidente no momento em que porta-vozes do governador Eduardo Riedel afirmaram que não podem fazer alterações no chamado duodécimo dos Poderes. Ou seja, segundo eles, não podem cortar os repasses à Assembleia Legislativa, ao Ministério Público, ao Tribunal de Justiça, ao Tribunal de Contas e à Defensoria Pública, como se estivéssemos na Idade Média e os porcentuais tivessem sido determinados por uma entidade divina capaz de jogar uma praga sobre aquele que ousasse questionar a pertinência dos valores bilionários.
Evidentemente que não se pode ser simplista e acreditar que alterar este “dogma” seria algo fácil, uma vez que o “poder de fogo” de magistrados, promotores, deputados, conselheiros e defensores públicos pode ser destrutivo contra aqueles que se atreverem a confrontá-los. Exatamente por conta disso é necessário olhar para os números. Para este ano, a Lei de Diretrizes Orçamentárias previu arrecadação de R$ 26,4 bilhões pela administração estadual.
Deste montante, R$ 3,35 bilhões foram reservados para as cinco instituições. Ao Tribunal de Justiça estão previstos R$ 1.364.912.200,00, sem contabilizar a arrecadação com pesadas taxas. Para o Ministério Público, são R$ 705.520.700,00. Em terceiro lugar está a Assembleia Legislativa, com R$ 520.2022.200,00. Na quarta colocação deste ranking está o Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul, com orçamento previsto de R$ 415.307.900,00. O “primo pobre” é a Defensoria Pública, que deve receber “apenas” R$ 347.325.900,00.
Juntas, essas instituições recebem o equivalente a quase 13% do orçamento estadual e destinam em torno de 90% ao pagamento de salários. Sendo assim, a cúpula destas instituições tem remuneração que pode ser considerada uma verdadeira afronta aos servidores da base da pirâmide e à grande maioria dos trabalhadores brasileiros. E o mais assustador é que, em vez de reconhecerem que realmente estão vivendo em mundo paralelo e se mostrarem dispostos a colocar o pé no freio, mais e mais criam formas para elevarem seus rendimentos.
Entra governo e sai governo, mas nenhum tem pulso para colocar limites nesta vergonhosa e imoral gastança. Pior que isso. Nem mesmo admitem colocar o tema em pauta. Quando isso acontece, como ocorreu recentemente em Brasília, rapidamente surgem as marchas para engavetar alguma possível mudança. E, quando isso ocorreu, o comando do Executivo estadual já havia deixado clara sua preocupação em ajudar a proteger as castas.


