Durante mais de duas décadas, Mato Grosso do Sul sustentou parte de sua estabilidade financeira com um tributo que parecia inesgotável: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado da Petrobras sobre a importação de gás natural da Bolívia. Foi essa arrecadação, fruto direto do gasoduto Bolívia–Brasil, que garantiu ao Estado uma receita constante, previsível e, em muitos momentos, salvadora.
Nos anos 1990, quando o governo estadual enfrentava atrasos salariais e dificuldades para honrar compromissos básicos, o gás natural surgiu como um divisor de águas. A arrecadação do ICMS proporcionou o equilíbrio das contas públicas e a retomada de investimentos em infraestrutura e políticas sociais.
O gás boliviano permitiu que o Estado deixasse para trás um período de crise e ingressasse em uma fase de estabilidade fiscal e crescimento.
O imposto do gás funcionou como um “colchão de segurança” para a administração pública. Era o dinheiro extra que assegurava o pagamento de servidores e o funcionamento da máquina estatal mesmo em tempos de retração econômica. O gás natural, portanto, não foi apenas uma fonte de energia: foi um pilar de estabilidade política e financeira.
Entretanto, esse ciclo começou a se encerrar. As jazidas bolivianas, que por anos abasteceram o Brasil, estão se esgotando. A redução na importação de gás natural é expressiva e seus efeitos já se refletem na arrecadação estadual. O que antes era uma fonte segura de receita se tornou uma variável incerta.
Diante desse cenário, Mato Grosso do Sul e o País precisam se reinventar. A dependência de uma única fonte de arrecadação mostra o risco de modelos econômicos baseados em commodities. O gás boliviano foi generoso, mas não eterno.
Agora, cabe ao Estado buscar alternativas que mantenham o equilíbrio fiscal, seja por meio da diversificação produtiva, da industrialização ou da aposta em novas fontes de energia.
Nesse contexto, a notícia de que a Petrobras começou a testar a compra de gás natural da Argentina usando o gasoduto Bolívia–Brasil é um sinal positivo.
Essa operação não apenas oferece uma solução técnica para o declínio boliviano, mas reforça a integração energética da América do Sul. Mantém viva uma estrutura já existente e abre espaço para novos fluxos comerciais e fiscais.
Mais do que compensar a queda da importação da Bolívia, essa mudança pode reposicionar Mato Grosso do Sul como um elo logístico e energético estratégico no continente. O Estado, por sua localização e infraestrutura, tem potencial para se tornar ponto-chave dessa nova rota do gás.
Que os testes da Petrobras representem o início de um novo ciclo de prosperidade, com mais segurança energética e equilíbrio fiscal. O gás argentino talvez não traga o mesmo volume do passado, mas já simboliza uma alternativa concreta.
O importante é que Mato Grosso do Sul continue capaz de se adaptar e transformar desafios em oportunidades – como fez tantas vezes em sua história.


