Acusados pela morte de Sophia Ocampo, de dois anos, Stephanie de Jesus da Silva e Christian Leithem, mãe e padrasto da vítima, respectivamente, ficaram em silêncio e preferiram não responder o interrogatório , que seria realizado durante a última audiência do caso Sophia.
A recusa de responder às perguntas formuladas pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos foi uma orientação de ambas as defesas, que tentaram inclusive, no início da audiência adiar o interrogatório dos réus.
A defesa de Christian se manifestou para o juiz afirmando que realizar perguntas ao réu sem que os laudos de perícias pedidas pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, como a do celular do acusado, atrapalha o princípio da ampla defesa e do contraditório, sendo que o réu poderia sair prejudicado.
Por sua vez, a defesa de Stephanie acompanhou o pedido, afirmando que a ré também poderia sair em desvantagem, já que a Justiça ainda não teve acesso aos conteúdos do celular do investigado.
No entanto, Aluízio reforçou que este pedido já tinha sido indeferido em despacho dentro do processo e manteve o posicionamento sob a justificativa de que o conteúdo do celular, que será levantado na perícia, não tem muita relevância neste momento processual.
De acordo com ele, o interrogatório e testemunho das pessoas intimadas tem o objetivo de levantar indícios de autoria, ou seja, coletar informações que indiquem se os réus podem ser pos culpados ou não pelo crime.
O juiz ainda reforçou que será dada continuidade à investigação no celular, bem como nas nuvens de arquivos e e-mails do réu e, posteriormente, os relatórios serão fixados no restante do processo.
Em entrevista à imprensa após o término da audiência, as advogadas Camila Garcia e Katiuscia Prado, que atuam na defesa de Stephanie, afirmaram que orientá-la a ficar em silêncio não é uma estratégia, mas para que “seja respeitado o devido rito processual”.
Camila apontou que Stephanie só irá se manifestar em plenário, mas garantiu que ela tem muita coisa para contar, dando a entender que a mãe de Sophia tem revelações que irão movimentar o processo.
“Ela vai falar em plenário, até porque ela tem muita coisa para contar, inclusive tem coisas novas que a imprensa ainda não sabe, e que serão relevadas por ela”, afirmou.
Renato Franco, advogado de Christian, fez coro ao alegado pelas advogadas e afirmou que o réu apenas não falou no momento do interrogatório porque a falta do relatório de perícia vai contra ao princípio da ampla defesa.
Descontente e emocionado diante da recusa dos réus em falar durante a audiência, o pai de Sophia, Jean Carlos Ocampo, afirmou que o silêncio dos réus “apenas mostram o quanto são covardes”.
Conforme o alegado por ele antes do início da audiência, havia uma expectativa de que os acusados falassem, ao mesmo tempo que desconfiavam que isso não aconteceria, o que se concretizou, deixando ele e seu marido Igor de Andrade, pai afetivo de Sophia, frustrados.
“Eles foram capazes de matar minha filha, mas não foram capazes de assumir o que fizeram com ela. Se tivessem um pingo de vergonha, eles falariam. Ela era uma criança de dois anos e sete meses e não tinha capacidade de se defender, mas é fato que a Sophia morreu e morreu na casa deles”, afirmou Jean.
ÚLTIMA TESTEMUNHA
Além de dar espaço para os réus mostrarem suas versões do fato, a audiência de hoje também foi designada para ouvir a última testemunha de defesa de Christian, Josias Júnior, que havia sido intimado duas outras vezes, mas não compareceu ao Fórum em nenhuma delas. A oitiva neste caso também foi rápida, já que o homem disse que não acompanhava a vida de Christian em detalhes.
O homem afirmou que apenas tem ligação com o réu porque este é sobrinho da sua ex-esposa, sendo que o conhecia desde que criança, mas, atualmente, o tinha visto duas ou três vezes, quando o investigado foi à sua casa, acompanhado de Stephanie, de Sophia e dos outros dois filhos, o mais velho, que vem de outro casamento, e de um bebê, fruto do seu relacionamento com a acusada.
Em diversos momentos, Josias enfatizou que não conhecia a vida do casal com profundidade e que acompanhava apenas por redes sociais. De acordo com ele, a última visita dos dois à sua casa foi em julho do ano passado, quando a filha mais nova do casal nasceu.
No entanto, a testemunha também deixou claro a impressão que teve da Sophia nas poucas vezes que a viu e afirmou que “ela parecia uma criança triste, que sentia falta de carinho e afeto”.
Josias afirmou que a vítima sempre brincou sozinha nessas ocasiões e não mantinha contato com as outras crianças, descritas por ele como alegres e brincalhonas. A testemunha ainda acrescentou que percebeu uma certa negligência por parte de Stephanie em relação à filha.
Por fim, ele disse que ficou sabendo da morte da menina por meio da sua ex-mulher, que o ligou para contar, mas, no primeiro momento, não sabia que Christian e Stephanie estavam envolvidos.
A partir do encerramento das audiências, as defesas irão apresentar as últimas alegações para, só então, o caso ir a julgamento por júri popular.


