Após o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ser acusado de financiar a invasão e destruição da Fazenda Ipuitã, em Caarapó, ocorrida no último dia 25 de outubro, a entidade emitiu uma nota de esclarecimento negando a acusação.
No esclarecimento, foi informando que o veículo que transportava as lideranças indígenas chegou ao território por volta das 12h do dia 25 de outubro, ou seja, cerca de oito horas após o início da retomada, momento em que a situação já se encontrava controlada.
Além disso, o Conselho fez questão de ressaltar que, não participou e nem financiou ações de retomada territorial, limitando-se a apoiar a organização da agenda de escuta e diálogo entre representantes indígenas e a missão federal.
Para entender, as acusações contra o conselho partiram do deputado estadual Coronel David (PL) afirmou que um grupo indígena Guarani-Kaiowá foi responsável por incendiar maquinários e a sede da Fazenda Ipuitã.
Na Assembleia, durante sessão ordinária realizada na quarta-feira (29), o parlamentar chamou o Cimi de "organização criminosa". "Começo falando da minha tristeza e constrangimento de uma instituição ligada à Igreja Católica se ligar à uma instituição criminosa, como Cimi [Conselho Indigenista Missionário]. Para nós, mais uma vez é um grupo da esquerda que está ligado ao planejamento da invasão. Um ato criminoso que deve ser responsabilizado”, criticou o deputado.
David disse que enviou requerimentos para que se instaure inquéritos para investigar os crimes ambientais, patrimoniais, de roubo e furto de animais e tentativa de homicídio contra os policiais militares que, segundo ele, foram recebidos a tiros enquanto sobrevoavam no helicóptero. Veja o trecho da fala do deputado:
Ainda conforme o parlamentar, existe um documento que, comprova o pagamento do transporte dos indígenas que foram lá "engrossar a invasão e meter fogo na fazenda, pago pelo Cimi". "Essa entidade que de religiosa não tem nada, é uma vergonha para nós, coloca dinheiro para facilitar uma invasão de terra e agora com destruição", afirmou.
Em sua fala, David ainda disse que o Cimi não foi o único culpado, insinuando uma "tramóia política", envolvendo a Coordenadoria da Funai de Dourados. "Houve um grupo político da esquerda, que tentou colocar na coordenadoria a senhora Valdelice, irmã da Dirce Veron, que já foi presa pela polícia pois tentou extorquir produtores em 2019 para não ter suas propriedades invadidas, sabotando inclusive a indicação feita pelo Ministério dos Povos Indígenas de colocar o senhor Cristopher Tupan, não aceitaram e, por conta disso, começaram a planejar a invasão, um ato criminoso", disse ele.
Esclarecimento
Diante das acusações, a Comissão Nacional de Enfrentamento à Violência no Campo (CNEVC), emitiu uma nota de esclarecimento. Leia a nota na íntegra:
Tendo tomado ciência de acusações infundadas que associam a chegada de conselheiras e conselheiros indígenas da Grande Assembleia da Aty Guasu Guarani & Kaiowá à retomada territorial ocorrida na Terra Indígena Guyraroka na madrugada do dia 25 de outubro de 2025, esta Comissão esclarece que:
- Os referidos conselheiros foram convidados oficiais da agenda de escuta promovida pela CNEVC, a qual convocou representantes de órgãos públicos, entidades da sociedade civil e lideranças indígenas para oitiva no contexto da missão interministerial de apuração de denúncias de violações contra comunidades indígenas no estado;
- A agenda da Comissão foi realizada no território de Guyraroka no dia 27 de outubro, conforme roteiro previsto, tendo a Comissão ciência de que os conselheiros indígenas chegariam antes da data para realizar assembleia interna de preparação à reunião com as autoridades federais e estaduais;
- O veículo que transportava as lideranças indígenas chegou ao território por volta das 12h do dia 25 de outubro, ou seja, cerca de oito horas após o início da retomada, momento em que a situação já se encontrava destensionada;
- Assim como a Aty Guasu, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) — que auxiliou na logística da viagem mediante aluguel de transporte — não participou nem financiou ações de retomada territorial, limitando-se a apoiar a organização da agenda de escuta e diálogo entre representantes indígenas e a
- missão federal.
A CNEVC reafirma que sua presença no Mato Grosso do Sul tem caráter institucional, interministerial e mediador, com o propósito de apurar, dialogar e propor soluções pacíficas e estruturantes para situações de conflito, violência e violações de direitos humanos no campo.


