Depois dos estragos provocados pela tromba d’água do último sábado, que castigou as regiões norte e leste de Campo Grande, a prefeitura está sendo pressionada a adotar medidas urbanísticas restritivas para conter o processo de expansão imobiliária às margens dos córregos Sóter e Prosa, que com o temporal transbordaram deixando um rastro de destruição principalmente nas avenidas Ceará, Ricardo Brandão, Afonso Pena e Via Parque. A promotora de Meio Ambiente, Mara Cristiane Crisóstomo Bravo, abriu inquérito civil para apurar as causas do desastre. Ela solicitou um laudo técnico e vai recomendar ao prefeito Nelsinho Trad que suspenda a tramitação de todos os projetos de licenciamento ambiental, alvarás de construção, envolvendo novos empreendimentos. “Não pretendo promover um caça às bruxas. Não é hora de identificar culpados, mas buscar alternativas para evitar a repetição de tragédias como esta que aconteceu no final de semana”, comentou a promotora. Já o arquiteto e urbanista Angelo Arruda, ex-diretor da Planurb, tem uma proposta mais radical. Além da suspensão dos projetos em andamento, ele defende um amplo debate sobre o atual modelo de gestão urbanística da cidade. “Devemos juntar os técnicos da prefeitura, as inteligências de nossas universidades e a sociedade através das suas entidades representativas, para debruçar sobre a atual lei de uso e ocupação do solo e o plano diretor, em busca de um novo modelo de desenvolvimento sustentável, menos predatório”. O arquiteto diz que o atual processo de ocupação imobiliária foi desencadeado a partir de 2006 – administração do ex-prefeito André Puccinelli – quando o plano diretor foi alterado com um viés de estímulo à ocupação das regiões norte e leste da cidade, justamente as mais atingidas pelo temporal de sábado, que apresentam solos mais frágeis e têm córregos com maior vulnerabilidade (o Sóter e Prosa). A transformação destas áreas em regiões de alta densidade liberou a construção de edifícios de apartamento ao longo da Avenida Via Parque. Antes, em 87, quando foi inaugurado o Shopping Campo Grande, foram autorizados empreendimentos deste porte na Rua Antonio Maria Coelho e onde hoje é a Avenida Paulo Machado. Outro ponto da atual lei do uso do solo questionado por Angelo Arruda é o índice mínimo de 12,5% de permeabilidade dos terrenos, que é exigido nas edificações. Ele defende a adoção de percentuais diferentes, conforme a característica do solo de cada região da cidade. O deputado Paulo Duarte (PT) levou ontem assunto para a tribuna da Assembleia. Ele criticou o fato de terem sido feitas sete alterações no plano diretor e na lei de uso do solo nos últimos cinco anos. Foram mudanças, segundo o parlamentar, que facilitaram a construção dessas grandes torres às margens de córregos e perto de nascentes.