Cidades

Luto

Diretor do Cotolengo lamenta morte de Marcelly: "é uma menina que tinha muita coisa para viver"

Colegas da instituição ainda estão em choque com a perda repentina da jovem, que morreu na UPA aguardando por atendimento

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O dia foi de luto no Cotolengo Sul-mato-grossense. No fim da tarde da última terça-feira (23), a assistente social Marcelly Almeida, de 33 anos, morreu na Unidade de Pronto Atendimento Coronel Antonino, após ser deixada aguardando atendimento na ala amarela, segundo relato de familiares.

Durante entrevista, concedida nesta quarta-feira (24), o diretor do Cotolengo, Padre Valdecir Marcolino, lamentou a morte de Marcelly, e a descreveu como uma profissional exemplar, que irá deixar muita saudade em seus colegas e famílias assistidas.

Sala de Marcelly, no Cotolengo./Foto: Gerson Oliveira

"É uma menina jovem, que tinha um carinho muito grande pelos atendimentos e pelos atendidos da casa. Ela tinha muita amizade, as crianças tinham um carinho muito gostoso por ela, além de ser uma profissional muito correta, uma assistente social excelente, que ajudava muitas famílias em tudo aquilo que eles precisavam... A gente perdeu aqui nesse momento uma grande profissional que tem muito cuidado pelas pessoas".

Marcelly atuava na instituição há quatro anos e meio, e deixou o marido e duas filhas, de 11 e 14 anos.

"É mais do que a perda de um profissional, é a perda de uma humanidade muito grande. Isso nos dá um aperto no coração, porque é uma menina ainda, uma menina que tinha muita coisa para viver. Teria muita coisa para ensinar, para aprender", observou.

Segundo o diretor, nos últimos dias, a assistente social havia apresentado problemas de saúde, mas nada que aparentasse ser muito grave.

"A Marcelly sempre foi uma pessoa muito altiva, muito animada na instituição. Estava passando há alguns dias por um pouco de dor de cabeça, dor de estômago, mas nada anormal, aparentemente", comentou.

A chegada da notícia da morte surpreendeu a todos.

Diretor do Cotolengo, Padre Valdecir Marcolino./Foto: Gerson Oliveira

"Para nós foi um choque. Para nós, para os nossos assistidos. A gente começou a se perguntar 'como?', 'do que?', 'por quê?'. Foi um choque muito grande para toda a instituição e para todo o trabalho que ela faz aqui, que é muito bonito... Que era muito bonito", acrescentou Marcolino.

O padre garantiu que o legado de Marcelly, como profissional alegre, carinhosa e atenciosa, permanecerá na instituição.

"A gente nem imagina ainda [como vai ser], né? A gente vai continuar a caminhada na casa, mas sempre vai ter o jeito dela, a maneira dela, que é próprio de cada pessoa, e é próprio dela. A gente só pede que Deus abençõe bastante a família nesse momento. O Cotolengo vai sentir muita falta dela, é um momento triste e difícil", concluiu.

Nota de pesar

"É com muita tristeza que o Cotolengo Sul Mato-Grossense comunica o falecimento de sua colaboradora e Assistente Social Marcelly Márcia França Almeida.

Devido essa trágica notícia, amanhã o Cotolengo não funcionará. Estamos de luto e precisamos de tempo para processarmos essa notícia triste.

(...)

Que Deus abençoe a família e os amigos."

Publicou o perfil da instituição nas redes sociais, na noite de ontem.

Entenda o caso

Uma mulher de 33 anos morreu ontem na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino, em Campo Grande, e a família alega que houve demora no atendimento da paciente, que já estava passando mal quando chegou ao local.

De acordo com relatos, Marcelly Almeida, 33 anos, teria chegado à unidade por volta das 13h30min de ontem com dengue tipo 2, porém, ela teria passado pela triagem apenas às 15h e recebido classificação amarela, o que significa que a paciente não necessitaria de atendimento urgente.

Por outro lado, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), a triagem teria ocorrido pouco tempo depois, por volta das 14h, e que ela teria sido atendida logo em seguida. A Sesau ainda relata que depois da triagem Marcelly teria sido encaminhada para observação na enfermaria. 

“A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que a paciente deu entrada na UPA Coronel Antonino no início da tarde de hoje, passou por classificação e recebeu a cor amarela, sendo encaminhada diretamente para atendimento médico”, informou em nota a Sesau.

Essa cronologia é contestada pelos familiares de Marcelly e por outros pacientes que também estavam no local.

O marido de Marcelly, Thiago Lopes, 39 anos, contou ao Correio do Estado que, depois de passar pela triagem e receber a pulseira amarela, a esposa começou a passar mal e ele teve de pedir para alguém atendê-la.

“Ela começou a passar mal e eu fui procurar a assistência social. Achei uma responsável e pedi para ela atender a minha mulher, ela disse que iria ao banheiro e que depois atenderia. Demorou um pouco, ela chegou e disse que a ficha da minha mulher era amarela e que ela aguentaria esperar como qualquer outro.

Depois, minha mulher disse que as vistas dela estavam escurecendo e eu fui procurar ajuda de novo, foi aí que eles colocaram ela na maca, mas, mesmo assim, demoraram para dar atendimento”, relatou Thiago.
“Eu conheço uma pessoa que trabalha aqui e pedi para ela atender a minha mulher, porque ela não estava bem, daí ela atendeu e depois ela começou a ficar bem mal”, completou o marido.

Segundo a atendente de conveniência Nathiely Leonel, 28 anos, que também estava no local no momento da morte da jovem, a demora no atendimento na UPA foi geral. 

“Eu estava lá desde as 14h30min e fui atendida às 18h, deixaram eu, com Covid-19, por último”, reclamou a jovem, que chorou quando soube da morte da paciente.

Marcelly já havia sido atendida na segunda-feira. Conforme relato da família, administraram soro e ela foi liberada pelo médico. No dia seguinte, ela voltou à UPA.

A tia de Thiago, Marli Lima, 59 anos, também foi ao posto de saúde 24 horas e estava revoltada com a morte da jovem, que tinha duas filhas, uma de 11 anos e outra de 15 anos. Esta última fará aniversário no fim de semana e a família estava com uma viagem marcada para comemorar.

“Meu sobrinho trouxe ela no posto, ela entrou com as pernas dela, agora vai sair dentro do caixão, para o IML [Instituto Médico Legal]. A médica que atendeu ela disse que não era nada”, declarou a tia, indignada.

MORTE

De acordo com a Sesau, o estado de saúde da paciente começou a piorar por volta das 16h30min, quando teria sido levada para a área vermelha, onde foram feitos alguns procedimentos, mas a paciente não resistiu.

“Em função do rápido agravamento do quadro clínico, [ela] precisou ser encaminhada para a sala de emergência. Na sala de emergência, em razão da piora do estado clínico, a paciente evoluiu com uma parada cardíaca, sendo intermediada pela equipe de emergência, porém, sem sucesso”, diz trecho da nota.

“A Sesau também informa que todos os procedimentos aconteceram dentro do tempo protocolar conforme a classificação de risco e que lamenta o falecimento da paciente e aguarda o resultado de exames para a elucidação diagnóstica”, completa a secretaria.

O marido de Marcelly, porém, alega que questionou a equipe médica sobre a situação da companheira e foi informado de que só dariam notícias a partir do horário de visita, antes disso, segundo o marido de Marcelly, “não tem como você saber”. 

“Às 16h30min, voltei lá e [o profissional da saúde] disse: ‘Estou fazendo procedimento aqui, você quer que eu atenda você ou faça o procedimento na sua mulher?”, contou. Só depois disso ele foi informado da morte da esposa.

A família diz agora que quer saber a causa da morte de Marcelly e acusa a UPA de ter sido omissa e demorado a prestar o devido socorro. “Isso aí foi negligência desse posto”, lamentou o marido. 

Segundo pacientes que estavam no local, após receber a notícia da morte da esposa, Thiago precisou ser contido para não quebrar objetos do posto de saúde.

Greve

Sem ônibus, idosos enfrentam dificuldade com carros de aplicativo

Ao procurar atendimento médico no Centro Especializado Municipal, em Campo Grande, idosos enfrentam alto custo e confusão na hora de solicitar o serviço por aplicativo

16/12/2025 17h15

Crédito: Pagu / Correio do Estado

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Com a greve dos motoristas de ônibus, idosos que tinham consultas marcadas enfrentaram dificuldades para chamar veículos por aplicativo na tarde desta terça-feira (16), na saída do Centro Especializado Municipal, em Campo Grande.

Na ausência de pessoas para ajudar, a reportagem foi abordada pelo auxiliar de pedreiro Davi Soares, de 60 anos, que tentava voltar para casa, mas não conseguia auxílio.

O idoso relatou que iria de ônibus, mas, devido à greve do transporte público, teve de recorrer ao serviço por aplicativo. Ele compareceu ao Cem para uma consulta com o dentista, pois está em processo de confecção de uma prótese dentária.

Morador do Jardim Noroeste, Davi passou pela consulta, e o retorno está previsto para fevereiro de 2026. No entanto, ele enfrentava dificuldades para entender o funcionamento do aplicativo.

“Eu tô com dificuldade para chamar um carro e voltar para casa, né?”, disse.

Davi Soares, tentando entender o aplicativo / Crédito: Pagu / Correio do Estado

Além da mudança na forma de transporte, como noticiou o Correio do Estado, a greve dos ônibus aumentou em 140% as viagens por veículos de aplicativo.

Com isso, idosos que não podem perder consultas estão desembolsando valores mais altos. É o caso da artesã Shirley Aparecida Dias, de 64 anos, que levou a mãe para uma consulta.

“A corrida [quando o ônibus não está em greve] fica, em média, uns R$ 17 ou R$ 18, e hoje deu R$ 24”, informou Shirley, em uma situação em que a mãe dela aguardou um ano e meio para passar pela consulta com um médico entomologista.

Greve

Com o transporte parado pelo segundo dia consecutivo e a paralisação sem previsão de término, esta é a maior greve que a Capital enfrenta nos últimos 31 anos.

Hoje, mais uma vez, os terminais Morenão, Julio de Castilho, Bandeirantes, Nova Bahia, Moreninhas, Aero Rancho, Guaicurus, General Osório e Hércules Maymone amanheceram fechados sem nenhuma "alma viva".

Em contrapartida, as garagens amanheceram lotadas de ônibus estacionados. A greve foi alertada antecipadamente, estava prevista e não pegou passageiros de surpresa.

Por conta da chuva, ficou mais difícil recorrer a alternativas nesta terça-feira (16), sendo impossível chegar de bicicleta ao trabalho e complicado pagar o preço sugerido pelos transportes por aplicativo.

A greve ocorre por falta de pagamento. Com isso, os motoristas reivindicam por:

  • Pagamento do 5º dia útil, que deveria ter sido depositado em 5 de dezembro – foi depositado apenas 50% - está atrasado
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

** Colaborou: Naiara Camargo

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Cidades

Em meio à crise do transporte, comércio antecipa folga de funcionários

Na falta de clientes nas lojas da região central, empresas liberam colaboradores enquanto aguardam a resolução da greve de ônibus

16/12/2025 16h45

Crédito: Pagu / Correio do Estado

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O comércio da região central, que esperava aumentar o volume de vendas a oito dias do Natal, está tendo de antecipar a folga dos funcionários devido ao esvaziamento da região em decorrência da greve dos motoristas de ônibus em Campo Grande.

A reportagem percorreu o entorno da Praça Ary Coelho, onde os pontos de ônibus estão servindo de local de espera para trabalhadores ou consumidores que se aventuraram e aguardavam um veículo por aplicativo.

Na Rua 14 de Julho, vendedores de lojas se ocupam organizando o estoque, formando filas à espera de um ou outro cliente, mas o cenário de incerteza marca a época do ano em que os lojistas esperam faturar mais.

Alguns estabelecimentos estão optando por antecipar a folga dos funcionários, já que, com a ausência da população que acessa o centro por meio do transporte coletivo, o movimento praticamente desapareceu.

É o caso de uma loja de calçados Anita, cuja gerente da unidade, Rayssa Dias dos Santos, relatou à reportagem que, na segunda-feira (15), quando a greve teve início, a loja ainda manteve um movimento tímido.

“Hoje a gente antecipou algumas folgas, primeiro porque o movimento fica mais calmo e, segundo, por ser menos um gasto para ter que trazer o funcionário de Uber.”

Nem a caravana de Natal da Coca-Cola deixa o setor confiante, uma vez que grande parte da população que costuma ir ao local, inclusive para aproveitar as atrações da Praça Ary Coelho, depende do transporte coletivo.

“Hoje vai ter a passeata da Coca-Cola, e eu acredito que muita gente precisa do ônibus para vir até o centro. Então, acredito que a paralisação do transporte público dá uma desequilibrada”, explicou Rayssa, e completou:

“A gente fica preocupada porque, querendo ou não, muita gente depende desse meio de transporte.”

Do outro lado da rua, na loja do Boticário, a gerente Suelen Benites Vieira, de 31 anos, explicou que a alternativa para enfrentar a falta de clientes tem sido a entrega em domicílio, serviço oferecido pela rede.

Entretanto, a greve dos motoristas de ônibus diminuiu de forma significativa o número de clientes no estabelecimento.

14 de Julho vazia, em horário que costuma ter fluxo de pessoas / Crédito: Pagu / Correio do Estado

“Realmente, seria o dobro, porque esta semana e a próxima são decisivas. Estamos vendendo muito para quem possui veículo, porque os que dependem de ônibus não estão vindo”, disse Suelen.

Na loja de vestuário, o gerente da Damyller, Cesar de Araújo, de 23 anos, recebeu a reportagem em um espaço que normalmente teria fluxo intenso de clientes, mas que, devido à chuva e ao custo do transporte por aplicativo, acabou tendo o cenário alterado.

“A greve de ônibus está impactando bastante não só a gente, mas também os outros comerciantes. Por exemplo, fui pegar uma marmita e ouvi reclamações. Isso está afetando tanto a rotina dos funcionários quanto o movimento do centro, e a gente percebe claramente essa diferença no fluxo”, pontuou Cesar.

Além disso, os funcionários só não estão sendo mais afetados e conseguem ir trabalhar porque as empresas se comprometeram a custear o transporte por aplicativo.

“A empresa está dando todo o suporte. Os funcionários pedem Uber e a gente ressarce o valor”, explicou Cleber, iniciativa que outros estabelecimentos também tiveram de adotar para não perder o efetivo.

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