Cidades

JUSTIÇA

Em 33 anos de lei, MS tem apenas um réu por racismo, mas centenas de denúncias

Única denúncia oferecida pelo Ministério Público é de 2018; em paralelo a isso, há 107 boletins de ocorrência no Estado

Continue lendo...

Apesar das 107 ocorrências de racismo registradas pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) desde 2012, o único caso existente, em que o suposto agressor tornou-se réu, ou seja, em que houve uma ação penal catalogada no sistema e-SAJ do Tribunal de Justiça do Estado (TJMS), é o do candidato a deputado estadual Rafael Brandão Scaquetti Tavares (PRTB), que ocorreu em 2018, mesmo com a Lei do Racismo existindo há 33 anos.  

Tavares foi o primeiro caso de racismo em Mato Grosso do Sul. De acordo com o TJMS, desde então, não houve nenhum outro réu.  

Quanto aos casos de injúria racial, que consta no artigo 140 do Código Penal Brasileiro, também não há registros catalogados no mesmo período no Tribunal de Justiça.

O caso de Tavares segue aberto na 2ª Vara Criminal de Campo Grande. No início de agosto deste ano, o juiz responsável intimou as testemunhas para deporem contra o réu. 

O candidato foi acusado de crime de racismo propriamente dito, manifestado na forma de crime de ódio (imprescritível) contra negros, gays e japoneses, em uma página na rede social, na qual afirmou que faria uma “limpeza étnica”.  

“Já montamos um grupo no WhatsApp e vamos perseguir os gays, os negros, os japoneses e os índios, não vai sobrar ninguém. Estou até pensando em deixar meu bigode igual do Hitler”, disse o ex-candidato, agora “ativista pró-Brasil”.  

Na época, ele se defendeu declarando que usou ironia para criticar acusações de que o atual presidente do Brasil era a favor da violência contra minorias.

De acordo com o departamento de Segurança Pública, o número de registros de racismo é gradativo e crescente. Em 2012, de janeiro a julho, por exemplo, foram contabilizadas seis ocorrências no Estado. No ano seguinte, foram 9, no mesmo período. Já em 2014 o número subiu expressivamente para 17 ocorrências.  

Quatro anos depois, em 2018, o número caiu para 7. Em 2019, aumentou novamente, para 13. E este ano, de janeiro a julho, foram registradas 12 denúncias.  

As notificações expressam avanços a respeito do tema e coragem das vítimas em registrar boletins de ocorrências, mas, em contrapartida, exprimem a perpetuação do crime no Estado, visto que ainda existem casos.

A presidente da Comissão de Igualdade Racial (Comir) da OAB-MS, Silvia Constantino, ressaltou que as pessoas estão tendo mais consciência sobre os crimes, em virtude do número de vítimas que denunciam seus ofensores.

“Agora, cada vez mais as pessoas estão tendo o entendimento e a noção de que isso é crime e de que elas precisam denunciar. Quando são xingadas ou sofrem algum tipo de preconceito, as pessoas já entendem que elas têm um direito e que precisam ser respeitadas. Então, a partir disso, elas começam a fazer a denúncia. Sem dizer que hoje nós temos na palma da nossa mão um instrumento que faz com que se tenha provas, e isso é importante. Se você não tiver provas o suficiente, fica ainda mais difícil de se provar o tipo de crime”, pontuou.

Constantino explicou que há muita confusão sobre os termos racismo e injúria racial, ou discriminação racial. O primeiro consiste em conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade e, geralmente, refere-se a crimes mais amplos. Nesses casos, cabe ao Ministério Público a legitimidade para processar o ofensor.  

Já a injúria racial, ou discriminação racial, está associada ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou à cor com a intenção de ofender a honra da vítima. Aqui, cabe ao padecedor prosseguir ou não com a denúncia.

Constantino ressaltou um problema que, segundo a advogada, influencia no número de inquéritos registrados: tipificação adequada no ato do registro da denúncia.

“Muitas vezes, é desqualificado o crime. Por exemplo, uma injúria racial, a unidade policial não entende que é racial e acaba tipificando como injúria normal. Então acaba caindo essa conotação do racismo. Eu penso que, muitas vezes, é por falta de conhecimento. O sistema judiciário ainda precisa se capacitar para essas questões raciais, porque é importante que haja uma sensibilidade. Por isso o inquérito não vai para frente e, se ele não prossegue, não existe ação”, pontuou.

Procurado pelo Correio do Estado, o candidato a deputado estadual Rafael Brandão Scaquetti Tavares disse que o processo é “uma fake news”.  

“Fiz um comentário irônico, brincando com um colega no Facebook. Alguém, de forma anônima, recortou meu comentário e tirou de contexto me acusando de crime de ódio. Uma piada mal-entendida. Nunca pratiquei racismo e nenhum tipo de preconceito”, pontuou.

INJÚRIA RACIAL

Como já publicado pelo Correio do Estado, o número de crimes de discriminação racial cresceu 30% em Mato Grosso do Sul nos primeiros sete meses deste ano em relação ao ano passado. Os casos saltaram de 169 em 2021 para 221 em igual período deste ano.

Neste mês, o Estado teve três episódios de injúria racial que tiveram grande repercussão midiática. Um deles é do professor, mestre em Bioquímica e doutor em Ciências da Saúde Sikiru Olaitan Balogun, 48 anos, agredido junto do filho, de 6 anos, por um casal de idosos em um supermercado atacadista de Dourados.

Em entrevista ao Correio do Estado, o professor ressaltou os reflexos do preconceito. “Somos seres humanos. Eu não escolho a cor da minha pele, eu nasci com aquilo. Será que faz sentido que condenemos alguém por isso? Isso não leva a nada. Só mostra o quão ruim é dentro da pessoa. Tem que respeitar a dignidade humana, é isso que cada humano deve para o outro, dignidade”, evidenciou.

O professor acrescentou que o sentimento da injúria racial é algo indescritível. “É uma coisa que cresce por dentro, não tem como descrever a dor”, finalizou.

O segundo caso foi o do Alagoano Jonathan David Gomes dos Santos, 25 anos, jogador profissional de vôlei de praia. Ele foi anunciado por um narrador, durante a partida de vôlei em Maracaju, no interior do Estado, no sábado (13), com termo preconceituoso.  

“Agora, eu quero chamar o monstro. Saiu da senzala, é ele, Jonathan”, disse o narrador do evento referindo-se ao atleta.  

O Correio do Estado falou com o atleta e ele contou que em nenhum momento durante a partida o narrador se desculpou pelo ato. “Eu saí arrasado, não conseguia nem raciocinar bem. Falei para minha namorada que não queria que ninguém soubesse, que era para deixar para lá. Fiquei muito envergonhado, nunca tinha passado por isso, já viajei quase o Brasil todo”.

Para Jonathan, o momento foi desolador. “Na hora, eu fiquei tão constrangido que eu não queria que ninguém tivesse escutado. Então olhei para o lado, para a torcida, vi que as outras pessoas escutaram também. Só que passa batido. Está ficando muito comum as pessoas falarem isso”, relatou.

O jogador categoriza o ato como falta de respeito. “Eu acho que respeito é essencial para tudo. Eu tenho uma irmãzinha de 9 anos e, se isso fosse com ela, eu surtava. Eu tenho mais força do que ela, mas, se fosse com ela, eu não aguentaria, não. As pessoas deveriam ter mais respeito umas pelas outras, não só porque sou negro, injúria de negro, mas para qualquer tipo de injúria”.

ÚLTIMO CASO

Neste sábado (20), um funcionário da Loja Paris 6, localizada no Shopping Campo Grande, agrediu um prestador de serviços em um banheiro masculino, no piso superior do centro comercial. A violência aconteceu após o funcionário ter se incomodado com servidor e se recusado a dar descarga em dejetos.  

A vítima trabalha na limpeza e contou à polícia que o homem a chamou de “preto fedido”, a jogou no chão e deferiu chutes nas pernas, após ser perguntado, pela demora, se estava bem. O caso foi registrado na Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) como vias de fato e injúria qualificada pela raça, cor ou origem.

Em sua defesa, o suspeito afirmou ao delegado que desferiu alguns socos no rosto da vítima e, ainda, a empurrou. Entretanto, ressaltou que em nenhum momento fez injúrias raciais contra o prestador de serviços.

SAIBA

A Lei nº 7.716, instituída em 1989, é conhecida com Lei do Racismo e pune todo tipo de discriminação ou preconceito, seja de origem, raça, sexo, cor, idade. Já a injúria racial está amparada pelo 3º parágrafo do artigo 140 do Código Penal Brasileiro.

Cidades

Veículos batem de frente e três pessoas da mesma família morrem na BR-267

Motorista de um Virtus tentou fazer uma ultrapassagem, quando colidiu de frente com um Corolla; todas as vítimas estavam no veículo atingido

16/12/2025 18h36

Veículos bateram de frente e três pessoas da mesma família morreram

Veículos bateram de frente e três pessoas da mesma família morreram Foto: Divulgação / PRF

Continue Lendo...

Três pessoas morreram em um acidente envolvendo dois carros de passeio, na manhã desta terça-feira (16), na BR-267, em Nova Alvorada do Sul. O acidente aconteceu durante uma tentativa de ultrapassagem.

De acordo com informações da PRF, um veículo Toyota Corolla, com placas de São Miguel de Guaporé (RO), seguia no sentido Nova Alvorada do Sul a Distrito de Casa Verde, enquanto um Virtus, com placas de Três Lagoas, seguida no sentido contrário.

Na altura do km 177, os veículos bateram de frente. Segundo testemunhas, o Virtus teria tentado fazer uma ultrapassagem e acabou colidindo com o Corolla.

Com o impacto da batida, duas passageiras no Corolla, de 55 e 73 anos, morreram na hora. Um outro passageiro, de 74 anos, chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu posteriormente no hospital. O motorista, de 53 anos, não teve ferimentos graves.

Conforme informações, as vítimas eram a esposa, pai e mãe do motorista.

No Virtus estavam o condutor e um passageiro, de 42 e 37 anos, respectivamente. Ambos tiveram lesões consideradas leves e foram encaminhados ao hospital em Nova Andradina, mas não correm risco de morte.

Ainda segundo a PRF, foi realizado o teste do bafômetro nos motoristas, com resultado negativo para alcoolemia em ambos.

Informações preliminares são de que a família que estava no Corolla saiu de Rondônia para visitar familiares no interior de São Paulo.

Durante os trabalhos de resgate e perícia, parte da pista ficou interditada. As causas do acidente serão investigadas pela Polícia Civil.

Outro acidente com duas mortes

Na madrugada desta terça-feira (16), outro acidente deixou duas pessoas mortas e três feridas, na BR-158, em Três Lagoas.

Conforme reportagem do Correio do Estado, Fernanda Taina Costa da Silva, de 28 anos, conduzia um Fiat Palio, e Fernando Marconi Ramos, de 27 anos, trabalhava como moto-entregador. Ambos colidiram em ua região conhecida como anel viário Samir Tomé.

No Palio conduzido, além da motorista estavam três crianças, de 9 anos, 5 anos e nove meses, que tiveram de ser levadas ao Hospital Regional, mas o estado de saúde de todas era considerado estável. As três estavam no banco traseiro e as duas maiores estavam conscientes e orientadas.

Imagens divulgadas pelo site 24hnewsms mostram que a motocicleta atingiu a parte frontal do veículo e o piloto acabou sendo jogado sobre o para-brisa, do lado da condutora.

Embora não haja testemunhas, os policiais que atenderam à ocorrência constataram sinais de frenagem da moto, que a moto seguia pelo anel viário no sentido ao shopping Três Lagoas, quando foi atingida frontalmente pelo carro, que teria invadido a pista contrária por motivos ainda ignorados. 

 

Cabe recurso

Jogo do bicho: deputado Neno Razuk é condenado a 15 anos de prisão

Condenação foi proferida  pela 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul

16/12/2025 17h45

Deputado estadual Neno Razuk (PL)

Deputado estadual Neno Razuk (PL) Foto: Wagner Guimarães / Alems

Continue Lendo...

O deputado estadual Roberto Razuk Filho, conhecido como Neno Razuk (PL), foi condenado a 15 anos e 7 meses de prisão, apontado como o "cabeça" de um grupo criminoso para tomar o controle do jogo do bicho em Campo Grande. A condenação foi proferida  pela 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) nesta segunda-feira (15) e sentencia outras 11 pessoas. 

Conforme os autos do processo que corre em segredo de Justiça, os réus tentaram anular a condenação sob pedindo a nulidade das investigações. Em resposta ao Correio do Estado, André Borges, advogado de defesa do deputado, disse que irá recorrer da sentença. "Defesa certamente recorrerá; processo está longe de encerrar; Neno confia na decisão final da justiça", declarou. 

Condenações 

  • Carlito Gonçalves Miranda 10 anos, 9 meses e 24 dias de reclusão, em regime fechado; Não tem o direito de recorrer em liberar e segue sendo procurado;
  • Diogo Francisco 3 anos e 6 meses de reclusão, em regime aberto; terá o direito de recorrer em liberdade;   
  • Edilson Rodrigues Ferreira 3 anos e 6 meses de reclusão, em regime aberto; terá o direito de recorrer em liberdade; 
  • Gilberto Luis dos Santos 16 anos, 4 meses e 29 dias de reclusão, em regime fechado; permanecerá preso;
  • José Eduardo Abduladah 4 anos e 1 mês de reclusão, em regime fechado; permanecerá em prisão domiciliar;
  • Júlio Cezar Ferreira dos Santos 3 anos e 6 meses de reclusão, em regime aberto; terá o direito de recorrer em liberdade;
  • Manoel José Ribeiro 13 anos, 7 meses e 1 dia de reclusão, em regime fechado; permanecerá preso;
  • Mateus Aquino Júnior 11 anos e 7 meses de reclusão, em regime fechado; não terá o direito de recorrer em liberdade e segue sendo procurado;
  • Roberto Razuk Filho 15 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão, em regime fechado; terá o direito de recorrer em liberdade;
  • Taygor Ivan Moretto Pelissari 4 anos, 11 meses e 15 dias de reclisão, em regime fechado; não terá o direito de recorrer em liberdade e segue sendo procurado; 
  • Valnir Queiroz Martinelli 3 anos e 6 meses de reclusão, em regime aberto; terá o direito de recorrer em liberdade;
  • Wilson Souza Goulart 4 anos, 2 meses e 22 dias de reclusão, no semiaberto; terá o direito de recorrer em liberdade; 

Buscas

Em novembro deste ano, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), apreendeu mais de R$ 300 mil durante a operação deflagrada contra alvos ligados à família Razuk. A ação, realizada em conjunto com o Batalhão de Choque da Polícia Militar, também resultou na prisão de três familiares do deputado estadual Neno Razuk. 

Foram detidos o pai do parlamentar, Roberto Razuk, e os irmãos Rafael Razuk e Jorge Razuk. Segundo informações, além do montante em dinheiro, equipes recolheram armas, munições e máquinas supostamente usadas para registrar apostas do jogo do bicho.

Os materiais foram apreendidos durante o cumprimento dos 20 mandados de prisão preventiva e 27 de busca e apreensão executados  em Campo Grande, Dourados, Corumbá, Maracaju e Ponta Porã, além de endereços no Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.

Em Dourados, viaturas foram vistas logo cedo em bairros como Jardim Água Boa e Vila Planalto. A residência de Roberto Razuk foi um dos principais pontos de ação, onde agentes recolheram malotes.

Outro alvo da operação é Sérgio Donizete Balthazar, empresário e aliado político, proprietário da Criativa Technology Ltda., que no início deste ano ingressou no Tribunal de Justiça com mandado de segurança para tentar suspender a licitação da Lotesul, estimada em mais de R$ 50 milhões.

Também aparecem entre os alvos o escritório de Rhiad Abdulahad e Marco Aurélio Horta, conhecido como "Marquinho", chefe de gabinete de Neno Razuk e funcionário da família há cerca de 20 anos.

A família Razuk, já foi alvo de apurações relacionadas ao jogo do bicho em Mato Grosso do Sul. A ação é tratada pelo Ministério Público como uma nova fase dessas investigações.

FASES

Em outubro de 2023, antes das fases da Successione, a Polícia Civil fez uma apreensão de 700 máquinas da contravenção, semelhantes a máquinas de cartão utilizadas diariamente em qualquer comércio, sendo facilmente confundidas.

As prisões foram desencadeadas a partir da deflagração das fases da Operação Successione, que começou no dia 5 de dezembro de 2023. Na ocasião, foram cumpridos 10 mandados de prisão e 13 mandados de busca e apreensão. Foi nesta fase que os ex-assessores parlamentares de Neno Razuk foram pegos.

Duas semanas depois, no dia 20 de dezembro, foi deflagrada a segunda fase da operação, com o cumprimento de 12 mandados de prisão e 4 de busca e apreensão. Ela foi realizada após investigações do Gaeco apontarem que a organização criminosa continuou na prática do jogo do bicho, além de concluírem que policiais militares também atuavam nesta atividade.

No dia 3 de janeiro do ano passado, chegou a vez da terceira fase da operação, com mais dois envolvidos presos pela contravenção na Capital.

A disputa pelo controle do jogo ilegal em Campo Grande se intensificou após a prisão de Jamil Name e Jamilzinho, durante a Operação Omertá, em 2019, que eram apontados pelas autoridades como os donos do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul. 

Quatro anos depois, Jamil Name Filho foi condenado a 23 anos de reclusão, após um julgamento de três dias.

O termo italiano "Successione"  que dá nome a operação, é uma referência a disputa pela sucessão do jogo bicho em Campo Grande após a operação Omertá. A decisão desta terça-feira cabe recurso. 

**Colaborou Felipe Machado

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).