Em oito meses de 2020, já foram registradas mais consultas de pré-natal em Campo Grande do que em todo o ano anterior.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), até o fim de agosto, foram 48.932 atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto em todo o ano de 2019 ocorreram 45.447 registros.
A média mensal do ano passado foi de cerca de 3.787 consultas, enquanto este ano foram 6.116, um aumento de 61,50%. A intensificação ocorreu, principalmente, durante a pandemia da Covid-19.
Enquanto a média do ano passado ficou em quase 4 mil consultas mensais, este ano, nos meses de junho, julho e agosto, esse número passou dos 7 mil atendimentos a grávidas feitos pela rede pública de saúde de Campo Grande.
A doença causada pelo novo coronavírus chegou em Campo Grande em março deste ano e, justamente após esse período, os números de exames pré-natal aumentou em relação ao período anterior.
Segundo a psicóloga Izabelli Acosta Coleone, o isolamento social pode ter contribuído para esse grande aumento dos exames na Capital.
“A pandemia acabou fornecendo parâmetro de vários aspectos que a gente não tinha antes, como o convívio que casais não tinham antes. Então, o principal fator foi esse, as famílias não tinham tanto convívio. Às vezes, com o companheiro trabalhando em casa, acabou se estabelecendo uma relação de proximidade novamente e o momento fez com que as pessoas saíssem um pouco do automático e se descuidassem de algumas coisas”.
Coleone citou um estudo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que mostra que a não inclusão de métodos contraceptivos como atividades essenciais na assistência em saúde pode resultar em 7 milhões de mulheres grávidas nos próximos meses no Brasil.
O ginecologista e professor do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luis Bahamondes, em entrevista a um programa de rádio do governo, afirmou que, caso as gestações não sejam planejadas, o Brasil pode seguir o mesmo rumo do que foi visto na Europa e nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Com impacto maior para as famílias dependentes do SUS.
“Minha impressão é de que vamos viver a era de baby boomers da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, vamos viver esse baby boom a partir de dezembro e janeiro do ano que vem, o que vai ser perigoso para um País que vai estar saindo de uma epidemia”, disse o médico da Unicamp.
SEPARAÇÃO
“Todo mundo espera situações negativas em um momento como esse, mas a gestação tem sobressaído como positiva na maioria das famílias, mas não podemos generalizar”, afirmou a psicóloga.
Coleone ressalta que, com o boom de gravidez, também ocorreu o aumento de separações e isso pode afetar psicologicamente as gestantes.
“Então, algumas mulheres terão a notícia da gravidez sozinhas, porque, com a pandemia, essa relação não permaneceu. Muitas mulheres estão tendo a gestação como mães solteiras e privadas de relação familiar, por conta da doença. Muitas mães vão ter de lidar com o lado psicológico. Mesmo com positivo da gravidez, a pandemia vai fazer com que a mulher lide com o negativo muito cedo, já durante a gestação, por conta do medo da doença também”.
PARTICULAR
Segundo dados de uma rede particular da Capital, porém, no mesmo período houve redução dos exames feitos pelas grávidas na cidade.
Dados desse local apontam queda de aproximadamente 45% em abril, se comparado ao mesmo período do ano passado.
Ainda de acordo com o local, em julho houve uma recuperação no número de exames realizados, mas, mesmo assim, ainda permanecia inferior ao volume registrado em 2019.
Para a psicóloga, isso pode ter relação com a classe social e com o aumento de trabalho em função do home office.
“Quando a pessoa trabalha em casa, tem uma demanda grande e acaba mais ocupada. E mesmo por entender que esse não era o momento de dar continuidade ao planejamento familiar. Algumas pessoas tinham a impressão de que a pandemia seria de paradeira, mas muitas pessoas estão trabalhando dobrado e se sentiram doentes psicologicamente”, explicou.