Cinco dias após decisão judicial que determinou a paralisação de todas as obras na zona de amortecimento (ZA) do Parque Estadual do Prosa (PEP), dois empreendimentos foram flagrados pela reportagem do Correio do Estado com a presença de trabalhadores, máquinas e veículos de construção nos locais.
No início de agosto, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), por meio de uma equipe da Secretaria de Desenvolvimento de Apoio às Atividades de Execução (Daex), realizou uma vistoria técnica em 15 empreendimentos que constavam na lista de processos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável (Semades) para construírem na zona de amortecimento da região.
À época, sem qualquer impedimento jurídico, as construções poderiam seguir normalmente. Porém, no dia 11 deste mês, o juiz Flávio Renato Almeida Reyes, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande, decidiu acatar pedido feito na ação civil pública do MPMS e suspendeu todas as obras em andamento, mesmo aquelas com alvarás e guias de diretrizes urbanísticas (GDUs) já expedidos.
“Toda grande cidade que enfrenta hoje problemas ambientais e urbanísticos já foi, um dia, uma cidade que não se preocupou quando as causas ainda eram de pequena monta. Então, por mais que se alegue que não há um ‘boom’ na região do entorno do PEP, isso não pode ser justificativa para afrouxar as preocupações concretas do hoje, do agora. Dessa forma, o não deferimento da liminar pode acarretar um quadro urbanístico – ainda que de pequena monta – irreversível no futuro”, ressalta o juiz durante a decisão.
A fim de saber se as construtoras estão seguindo a ordem judicial imposta pelo magistrado, o Correio do Estado visitou todos os endereços indicados na vistoria técnica realizada há pouco mais de um mês pelo MPMS.
De acordo com o observado, 13 empreendimentos estão seguindo o que foi posto pelo juiz, mas 2 estão trabalhando a todo vapor.
O primeiro deles está localizado na Rua Desembargador Leão Neto do Carmo, próximo à BR-163. O loteamento está sob administração da empresa campo-grandense Chaiten Administradora de Imóveis Ltda, que tem sede na Avenida Três Barras, no Vilas Boas, e tem como atividade principal a compra e venda de imóveis.
Na visita da reportagem, foi possível observar trabalhadores realizando o serviço normalmente, com instrumentos e materiais de construção civil. Além disso, é visível um grande galpão no local, o que indica que as obras estão mais avançadas do que outras, o que também tinha sido apontado pela equipe de vistoria do MPMS.
O segundo flagrante está na Avenida Hiroshima, e está sob administração da Vanguard Home Empreendimentos Imobiliários, do Grupo Plaenge, muito conhecido em Campo Grande.
Nele, foi possível observar bastante movimentação de trabalhadores, mas ainda sem construção erguida. Enquanto a reportagem esteve no local, dois caminhões carregados com materiais chegaram e entraram no loteamento.
No site oficial da empresa, o empreendimento carrega o nome Terrah e tem previsão de conclusão de obras para julho de 2028. A construtora promete um espaço residencial com muitas opções de lazer, como academia, quadras esportivas, área infantil e mais. Cada apartamento, caso saia do papel, terá 107 metros quadrados, com até três dormitórios e duas suítes.
Esta obra foi vistoriada em 1º de agosto deste ano pelo MPMS e, segundo o relatório, no local não havia “qualquer sinal indicativo da ocorrência de obras de construção”.
Curiosamente, a Vanguard também é a requerente de outra autorização prevista na vistoria do MPMS. Esta outra está localizada na Rua Lise Rose, no Bairro Jardim Veraneio, e está prevista para ser lançada em novembro de 2027, com o nome Flow. Porém, este espaço está seguindo a ordem judicial.
CASO ANTIGO
Como vem reportando o Correio do Estado, o imbróglio entre as construtoras e o MPMS é antigo. Desde junho, o órgão movia uma ação civil pública, com autoria de três promotores do Meio Ambiente de Campo Grande.
No fim de julho, um acordo entre o MPMS, o governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande selou a suspensão, por 240 dias, de novas emissões de autorizações para construção na região.
Duas semanas depois, o órgão estadual recomendou que o Imasul realizasse o embargo imediato e a paralisação de obras de empreendimentos situados na zona de amortecimento e que estivessem sem a devida regularização, e nos que tivessem sido feitos apenas até a fundação.
Mesmo com essas ações, “parar tudo” ainda era um objetivo do MPMS, que veio a ser conquistado na semana passada, com a ordem judicial assinada pelo juiz Flávio Renato Almeida Reyes.
Destaca-se que a Prefeitura de Campo Grande expediu o GDU e licenças conforme a zona de influência delimitada no plano de manejo de 2011, com base nas suas normas de zoneamento, que constam no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) de Campo Grande.
RESPOSTA
A reportagem entrou em contato com a Varguard Home, que informou que mantém as obras porque ainda não foi notificada sobre a decisão judicial.
“A Vanguard Home Empreendimentos Imobiliários Ltda informa que, até o momento, não foi notificada pela Prefeitura de Campo Grande ou por qualquer outro órgão público sobre a paralisação de suas atividades ou sobre a decisão judicial mencionada em matérias recentes a respeito do Parque dos Poderes”, diz trecho da nota.
“A Vanguard reforça que suas atividades seguem amparadas pela documentação necessária e devidamente aprovada, incluindo o Alvará de Construção n° 556/2024, a Licença Ambiental n° 010.091/2024 e a Guia de Diretrizes Urbanísticas (GDU) n° 102/2021”, continuou a empreiteira.
“Com 18 anos de atuação na cidade, a Vanguard reafirma seu compromisso com a conformidade legal, a transparência e a segurança de seus clientes e investidores, mantendo a seriedade e a solidez que marcam sua trajetória”, finalizou a nota da empresa.
O Correio do Estado não conseguiu contato com a Chaiten.
*SAIBA
A zona de amortecimento do Parque Estadual do Prosa compreende uma área de cerca de 9,72 quilômetros quadrados, está localizada no entorno do parque e envolve regiões importantes de Campo Grande, além do Parque dos Poderes e do Parque das Nações Indígenas.


