Aos brados de "Eu prendo vagabundo e bato nele até morrer" e outras menções à tortura durante o interrogatório, a formatura da 38ª turma da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul foi marcada por um vídeo que circulou nas redes sociais, causando revolta.
O governo do Estado emitiu, nesta sexta-feira (1º), uma nota repudiando “quaisquer condutas que incentivem a violência” e afirmou que tomará as medidas cabíveis para apurar a situação, classificada como “caso isolado”.
O grupo de 427 novos soldados da PMMS representa a maior turma a concluir a formação na história do governo do Estado.
A cerimônia oficial do 38º Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar ocorreu na quinta-feira (31), no Comando-Geral da PMMS, e teve o governador Eduardo Riedel (PSDB) como homenageado, ele deu nome à turma.
Veja um trecho do grito de guerra:
“Bate na cara, espanca até matar
Arranca a cabeça dele e joga ela pra cá
O interrogatório é muito fácil de fazer
Eu pego o vagabundo e bato nele até morrer
Desce aqui e venha conhecer
A tropa da PM que cancela CPF”
Confira a nota do governo
“O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul manifesta publicamente seu repúdio a quaisquer condutas que incentivem a violência, e determinou a adoção imediata das providências cabíveis, com rigorosa apuração dos fatos e aplicação das sanções legais previstas.
A Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul lamenta o ocorrido e esclarece que o episódio consiste em uma manifestação isolada, não representando os valores, princípios e o padrão institucional da corporação. A expressão utilizada não foi criada pela instituição e tampouco faz parte de seus protocolos oficiais. A preparação do efetivo inclui disciplinas voltadas à valorização da vida, respeito às minorias e atuação comunitária.
O Governo de Mato Grosso do Sul enfatiza que forma policiais para defender a sociedade, a vida, a segurança e a paz.”
A Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul também repudiou o grito de guerra adotado pelos novos integrantes da turma do Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar.
“O conteúdo do grito, que exalta práticas como ‘espancar até matar’, ‘arrancar a cabeça’ e ‘bater até morrer’, representa apologia explícita à violência, à tortura e ao extermínio, sendo absolutamente incompatível com a missão constitucional da Polícia Militar, que, conforme consta em seu próprio site institucional, é: ‘Servir e proteger a sociedade de Mato Grosso do Sul promovendo segurança cidadã’”, diz a nota da Defensoria.
Mortes em confronto com a polícia
Em 2024, 86 pessoas foram mortas pela polícia em Mato Grosso do Sul, número 34,35% inferior ao registrado em 2023, ano que havia sido recorde do índice no estado que registrou 131 mortos. Os números são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp).
Entre os anos de 2023 e 2024, o número de mortos em cofronto com a polícia foram de 217 - deste dado os homens representam a maior parte dos casos (92,93%).
Dos óbitos no período destes dois anos, em Campo Grande foram registrados 96 casos, e no interior do Estado 121 mortos.
Crédito SejuspApesar da queda do índice, 2024 foi o segundo ano com o maior número de mortes causadas por agentes do estado da série histórica, iniciada em 2015.
O ano anterior havia representado um aumento de 156,8% com relação a 2022, ano em que 51 foram mortos, se firmando como o com maior letalidade policial da história de Mato Grosso do Sul.
Confira o levantamento disponibilizado pela Sejusp:




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