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Gigantes da celulose se unem e derrubam custo das terras em MS, diz corretor

Há cerca de um ano, arrendamento de um hectare chegou R$ 1,6 mil. Atualmente, o máximo é R$ 1,1 mil por ano

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Depois de chagar a R$ 1,6 mil o hectare por ano, o valor do arrendamento de terras para o plantio de eucaliptos caiu em torno de 35% e hoje os gigantes da celulose se recusam a pagar mais de R$ 1,1 mil em Mato Grosso do Sul.

A informação é do corretor de imóveis Valdemiro Cardoso, que há mais de 25 anos atua na compra, venda e arrendamentos de terras em Mato Grosso do Sul. E esta queda nos preços, segundo ele, tem uma explicação que contradiz toda a lógica do chamado livre mercado.

“Para mim está claro que os executivos das quatro gigantes se reuniram em algum lugar para tomar uísque e decidiram colocar fim à competição de preços e estipularam uma espécie de preço máximo pelo arrendamento e compra de terras”, acredita ele. 

Mesmo assim, segundo ele, o valor de até R$ 1,1 mil pelo arrendamento de um hectare na região leste ainda é satisfatório, já que são terras arenosas, consideras de segunda linha.

Nas chamadas terras vermelhas, aptas para o plantio de grãos, o arrendamento anual está entre 13 e 15 sacas de soja por hectare, o que equivale a cerca de R$ 1,8 mil. 

Mais do que um mero achismo, o corretor diz que simplesmente as empresas dividiram Mato Grosso do Sul em setores e uma empresa não arrenda ou compra terras no “território” da outra. E, sendo assim, explica ele, os proprietários são obrigados a aceitar o valor que oferecem. 

“Eu tenho clientes com terras disponíveis para arrendamento em Ribas do Rio Pardo. Ofereci para a Bracell, mas eles deixaram claro que ali não é o setor deles e nem quiseram negociar”, afirma o corretor, que é mais conhecido como Miro. 

Outro indício de que existe o que ele chama de cartel é o fato de a Bracell ter entrado com um novo pedido de licenciamento para construção de uma fábrica de celulose em Bataguassu.

Isso, para ele, é sinal de que a empesa indonésia está desistindo do projeto de Água Clara, onde a disputa por terras já está muito alta, e deve se instalar próximo a Bataguassu, onde já está a maior parte de suas florestas. 

No final do ano passado a Bracell anunciou sua pretensão de investir US$ 4 bilhões de dólares, ou cerca de R$ 23 bilhões, na construção de uma fábrica de celulose em Água Clara. A previsão é produzir 2,8 milhões de toneladas de celulose por ano. A previsão era de que a licença fosse concedida em fevereiro deste ano.

Para produzir esta quantidade, precisa de pelo menos 300 mil hectares de eucaliptos. A multinacional está investindo no Estado há quase cinco anos, mas por enquanto tem menos de cem mil hectares plantados. 

E, como é empresa estrangeira, não pode comprar terras. É obrigada a fechar os chamados contratos de usufruto, que é um nome alternativo ao arrendamento, que também é proibido por lei. 

Conforme Miro, “não faz sentido a empresa se recusar a arrendar terras próximas do local da fábrica. Isso deixa claro que a partir de determinado momento dividiram o Estado entre elas”, afirma.

Outra multinacional que atua no Estado é a Arauco, que precisa de 400 mil hectares para viabilizar sua fábrica de 3,5 milhões de toneladas anuais em Inocência. Por enquanto contratou pouco mais de 50% das terras de que precisa. 

As outras gigantes da celulose são a Suzano, com fábricas em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, e a Eldorado. Esta tem projeto para duplicar sua linha de produção em Três Lagoas. Para isso, precisa de pelo menos mais 200 mil hectares para plantio de eucaliptos. 

Como praticamente toda a produção de celulose é destinada à exportação, e isenta de impostos, o lucro bilionário do setor fica concentrado nas mãos de "meia dúzia" de acionistas. 

Para a economia local restam os valores das folhas de pagamento destas indústrias e aquilo que é pago pela compra ou arrendamento das terras. Então, avalia o corretor Valdemiro Cardoso, "esse cartel que eles formaram é muito prejudicial para os proprietários de terras e a economia local como um todo". 

MANOBRA DA BRACELL

E não foi somente o corretor de imóveis que ficou sem entender o segundo pedido de licenciamento da Bracell para instalação de outra fábrica.

 Executivos de diferentes indústrias citados por reportagem do jornal Valor Econômico acreditam que a companhia estaria buscando criar alternativas para seu projeto industrial original. 

“Pedir a licença ambiental custa pouco. Com ela em mãos, vão plantar e comprar madeira para depois tomar a decisão de melhor alternativa para a fábrica”, disse uma das fontes ouvidas pelo jornal.

Por essa lógica, mais adiante, a Bracell poderia migrar seu projeto industrial para Bataguassu e, assim, instalar-se em uma região onde ainda há menos concorrência por madeira, terras e infraestrutura, acreditam estes analistas.

“O anúncio anterior, da fábrica em Água Clara, nos causou certa estranheza, pois a região é a mais concorrida de Mato Grosso do Sul, em termos de competição por madeira. Já Bataguassu sempre foi a nossa aposta”, argumenta Marcelo Schmid, sócio do grupo Index, uma empresa que presta consultoria florestal em diversos estados. 

Considerada improvável por causa do tamanho do investimento e da disponibilidade de madeira projetada para o Estado nos próximos anos, a hipótese de a Bracell construir duas fábricas de celulose no Estado também foi mencionada.

“Existe um movimento de demarcação de áreas no setor florestal com o intuito preservar possibilidades futuras para as companhias”, afirmou o consultor Mario Coso à reportagem do jornal Valor. Ele é engenheiro florestal e sócio da ESG Tech, empresa que também presta consultoria florestal.

Na avaliação dele, é pouco provável que a Bracell avance com duas fábricas concomitantemente. Ainda que Mato Grosso do Sul tenha espaço para novos projetos, existem limitadores importantes para novas expansões, como disponibilidade de mão de obra, custo da terra e insumos, afirmou Coso.

Atualmente, Mato Grosso do Sul tem tem torno de 1,6 milhão de hectares ocupados por florestas de eucalipto. Isso já é o dobro da área ocupada por canaviais, os quais abastecem 21 usinas de açúcar e álcool. E, ao longo dos próximos cinco anos devem ser plantados pelo menos mais 500 mil hectares.

baixa adesão

Fundo Pantanal indeniza desde banqueiro a gigante do Agro

Mas, o Programa que disponibilizou R$ 40 milhões está repassando aos proprietários pantaneiros menos de 10% do previsto para 2025

13/12/2025 12h30

O tuiuiú é considerada a ave-símbolo do Pantanal, mas também pode ser encontrada bem longe deste bioma

O tuiuiú é considerada a ave-símbolo do Pantanal, mas também pode ser encontrada bem longe deste bioma Bruno Rezende/Secom

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Na lista dos 45 proprietários de terras do Pantanal que receberão recursos do Fundo Clima Pantanal, um programa que indeniza fazendeiros que preservam áreas mais amplas do que aquilo que determina a legislação, aparecem desde fazendeiros tradicionais a banqueiros e gigantes do agronegócio.

Mas, conforme publicação do diário oficial do Governo do Estado desta sexta-feira (12) a adesão ficou abaixo do esperado e menos de 10% das verbas disponíveis serão distribuídas no primeiro ano do programa, criado principalmente para combater o desmatamento.

Entre os contemplados, com R$ 100 mil, está Tereza Bracher, esposa do ex-presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher. A família vair receber a indenização por estar preservando em uma de suas fazendas pantaneiras quase seis mil hectares acima do estipulado pela legislação. 

Com patrimônio estimado na casa dos R$ 15 bilhões, Cândido Bracher foi CEO do Itaú Unibanco entre abril de 2017 e janeiro de 2021. Atualmente,  hoje é integrante do Conselho de Administração da instituição financeira, que fechou 2024 com lucro de R$ 40 bilhões. 

E a banqueira ainda buscou indenização em uma segunda fazenda no Pantanal,  mas foi desclassificada por ter sido enquadrada no item 8.6 das normas que regulamentam a distribuição dos R$ 40 milhões do Fundo.

Este item diz que não pode ser contemplado que  estiver com irregularidades no Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou por estar com passivos ambientais não declarados ou que não estejam cumprindo termos de compromisso de recuperação de áreas degradadas.

Em maio deste ano o Ministério Público abriu investigação para apurar suposta omissão do banqueiro em um megaincêndio que destruiu mais de 52 mil hectares em julho de 2024 no Pantanal da Nhecolândia. O fogo teria começado na Fazenda Tupanceretã, de 25 mil hectares, pertecence à família. 

Tereza Bracher também aparece como contemplada indireta em uma outra propriedade. Ela é uma das integrantes da Associação Onçafari, entidade que vai receber pouco mais de R$ 45 mil de indenização pela preservação de 824 hectares de vegetação nativa.

Esta associação, que adquiriu milhares de hectares no Pantanal para criar uma espécie de corredor ecológico que possibilite procriação de onças-pintadas, conseguiu cerca de R$ 180 milhões com filantropos para a criação de reservas privadas no Pantanal. Teresa Bracher é uma destas doadoras. 

Mas, os banqueiros não são os únicos bilionários que aparecem na lista. Outra contemplada é a SLC Agronegócios, uma fazenda dedicada à criação de bovinos no município de Corumbá.  Os bilionários donos desta fazenda receberão R$ 100 mil do Fundo Pantanal por preservarem pouco mais de 3,7 mil hectares. 

A fazenda pertence ao grupo que se apresenta como um dos maiores produtores de commodities agrícolas do país. Possui cerca de 733 mil hectares de área plantada em sete estados. Além de Corumbá, o grupo também produz em fazendas em Cassilância, Chapadão do Sul e Sonora. 

A SLC produz algodão, milho e soja e se dedica à criação de gado, além de ser uma das grandes produtoras de sementes destas cultura.Ela foi uma das primeiras empresas do agronegócio a ter ações negociadas em Bolsa de Valores de São Paulo, a BR.

A famosa Fazenda Bodoquena, de cerca de 77 mil hectares e conhecida por concentrar até 40 mil bonivos, também aparece na relação daqueles que receberão indenização. Neste caso, serão apenas R$ 39 mil, uma vez que atestou estar fazendo preservação extra de 705 hectares de vegetação. 

A fazenda pertence ao Grupo Votorantim, que há mais de sete décadas também atua na produção de cimento em Corumbá, no coração do Pantanal. O grupo é controlado pelos familiareas de Antônio Ermírio de Moraes, um dos rostos mais conhecidos do bilionário clã. Ele morreu em 2014. A família é considerada a terceira mais rica do país, com patrimônio estimado em 15,4 bilhões de dólares, ficando atrás somente das famílias Marinho e Safra.

Mas, nesta lista dos contemplados também aparecem fazendeiros "comuns",  para os quais a indenização de até R$ 100 mil fará alguma diferença. Esté é o caso de Timotheo Reis Proença, que já presidiu o sindicato rural de Aquidauana. Ele cadastrou 1,28 mil hectares como preservação extra e por conta disso receberá R$ 71 mil. 

BAIXA ADESÃO

Ao todo, segundo o Governo do Estado, estão sendo  indenizados 126 mil hectares, o que está garantindo repasse da ordem de R$ 3,25 milhões aos proprietários. 

O valor é praticamente o mesmo ao que está sendo repassado a três ONGs que dizem atuar no combate a incêndios e no tratamento de animais silvestres atingidos pelas queimadas no Pantanal. 

Dos R$ 40 milhões, R$ 1,438 milhão foi destinado ao Instituto Homem Pantaneiro (IHP), R$ 996 mil para o instituto SOS Pantanal e R$ 497,5 mil para o IPCTB - Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil. 

Somados, os repasses às ONGs chegam R$ 2,931 milhões, o que equivale a 7,3% dos R$ 40 milhões anunciados pelo Governo do Estado ao Fundo Pantanal para o primeiro ano de vigência do programa. 

O valor repassado aos proprietários rurais ficou longe daquilo que estava previsto por conta da baixa adesão. Na primeira chamada foram recebidas apenas 71 inscrições de imóveis rurais localizados no Bioma Pantanal. E, após análise dos documentos,  45 propriedades conseguiram cumprir as exigências. 

Mesmo assim, o secretário Jaime Verruck, da Semadesc, comemora os resultados. “O PSA Pantanal demonstra que é possível alinhar desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Estamos criando um modelo em que o produtor rural passa a ser reconhecido como parceiro estratégico na proteção do bioma, recebendo por um serviço ambiental que beneficia toda a sociedade”, afirmou. Segundo ele, o programa também fortalece a imagem de Mato Grosso do Sul como referência nacional em sustentabilidade e políticas climáticas inovadoras.

Agora, os proprietários classificados serão convocados pela Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural (Funar), agente executor do PSA Conservação, para assinatura do Termo de Adesão. A partir desse instrumento, os provedores de serviços ambientais passam a integrar formalmente o programa e a receber os valores correspondentes às áreas preservadas. 

De acordo com o secretário-adjunto da Semadesc, Artur Falcette, a robustez técnica do edital foi um dos diferenciais do programa. “Todo o processo foi construído com base em critérios objetivos, análises técnicas aprofundadas e uso de ferramentas geoespaciais. Isso garante credibilidade ao PSA e cria um ambiente favorável para sua continuidade e ampliação”, destacou. Ele ressalta que a experiência da primeira chamada servirá como base para o aperfeiçoamento das próximas etapas.

Segunda chamada 

Com a conclusão da primeira etapa, a Semadesc confirmou o cronograma da segunda chamada do PSA Conservação, prevista para 2026. A publicação do edital e a abertura das inscrições ocorrerão em 23 de fevereiro, com encerramento em 6 de abril.

As inscrições deferidas serão divulgadas em 16 de abril, com prazo para recursos até 20 de abril. A avaliação das propriedades ocorrerá até 1º de junho, com publicação do resultado final até 15 de junho. A assinatura dos Termos de Adesão está prevista a partir de 16 de junho de 2026.

Nesta segunda chamada, poderão participar proprietários que não conseguiram se inscrever na primeira etapa. As regras permanecem as mesmas, incluindo a possibilidade de cancelamento de autorizações de supressão de vegetação nativa vigentes na data de abertura do edital, quando houver, sendo que o pagamento será referente ao exercício de 2026. 

“O PSA é uma política de Estado, construída para ter continuidade e escala. A segunda chamada amplia o alcance do programa e reforça nosso compromisso com a conservação do Pantanal”, concluiu Jaime Verruck.

 

Cidades

Consórcio paga parte dos atrasados, mas motoristas confirmam greve a partir de segunda

Sem acordo com o Consórcio Guaicurus, a greve está prevista para segunda-feira (15), segundo informou o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande

13/12/2025 11h23

Crédito: Gerson Oliveira / Correio do Estado

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Com o Consórcio Guaicurus tendo atendido “em partes” à reivindicação definida em assembleia, a greve dos motoristas de ônibus deve iniciar nesta segunda-feira (15), em Campo Grande.

Em conversa com o Correio do Estado, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano da Capital (STTCU-CG), Demétrios Feiras, informou que os trabalhadores receberam, na sexta-feira (15), somente 50% do salário referente ao mês de novembro.

“O Consórcio Guaicurus, no final da tarde, depositou 50% do valor dos salários, referente ao mês de novembro, que era para ser pago no quinto dia útil do mês de dezembro. Foi a única coisa que o Consórcio pagou”, informou Demétrios.

Durante assembleia, a categoria reivindicou o pagamento do salário integral, do adiantamento, da segunda parcela do décimo terceiro e do vale (adiantamento salarial). No entanto, houve apenas o depósito de 50%, e a paralisação segue confirmada.

Segundo o presidente do STTCU-CG, não está prevista, para este fim de semana, qualquer tentativa de negociação com a empresa responsável pelo transporte coletivo na Cidade Morena.

Com isso, Demétrios reforçou que os ônibus só retornarão às ruas quando o Consórcio efetuar o pagamento do que ficou definido pela classe.

“E a gente só volta a trabalhar com o pagamento desses três vencimentos. Caso contrário, continua parado na terça, na quarta, até que o Consórcio efetue esses pagamentos”, pontuou Demétrios.

A justificativa para não realizar o pagamento, conforme explicou Demétrios, é a falta de dinheiro em caixa. Como adiantou o Correio do Estado, o Consórcio Guaicurus alega um “rombo” em dívidas de R$ 15,2 milhões, sendo que desse valor R$ 8,2 milhões são referentes aos salários dos funcionários.

Por conta disso, a concessionária pediu que o valor do subsídio pago pelo poder público seja ainda maior.

Entenda

No dia 5, o Consórcio Guaicurus, responsável pela administração do transporte coletivo de Campo Grande, anunciou que a situação financeira estaria insustentável para a continuidade da operação, motivada por supostos atrasos nos repasses por parte do poder público.

Além das dificuldades relacionadas a questões operacionais, como combustíveis, manutenção da frota e encargos, o consórcio também enfrenta negociações com a classe de funcionários, principalmente os motoristas.

Motoristas do Consórcio Guaicurus realizaram assembleia geral, na madrugada desta quinta-feira (11) e optaram pela paralisação. Eles reivindicam por:

  • Pagamento do 5º dia útil, que deveria ter sido depositado em 5 de dezembro – efetuaram o depósito de 50%
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

** Colaborou Felipe Machado e Naiara Camargo

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