Flávio Paes
Grupo de 32 famílias invadiu ontem pela manhã casas do Residencial Gabriel Spipe Calarge – Gabura, construídas pela Agência Municipal de Habitação (Emha) para abrigar famílias removidas de áreas de risco na região do Córrego Segredo e não contempla inscritos no cadastro da agência. O conjunto tem 107 casas e foi inaugurado em duas etapas: em agosto do ano passado e em fevereiro.
À tarde, guardas municipais foram mobilizados para impedir outra ocupação, desta vez de 45 casas do Residencial Arnaldino da Silva, no Jardim Cerejeiras. A agência deve entrar hoje na Justiça pedindo a reintegração de posse e deve requisitar a Polícia Militar para retirar as famílias que não tomarem a iniciativa de deixar as casas.
Ontem, a Emha convocou (por telefone) os contemplados a se apresentar com os contratos e chaves para que eles próprios se incumbissem de convencer os invasores a deixar as casas.
Uma das primeiras contempladas a atender a convocação da Emha foi dona Lisane Ximenes. Há dois meses recebeu as chaves da sua casa e só estava aguardando a ligação da água e da luz. Por 16 anos, ela e a família ocuparam uma área de comodato na Coophavila II, que está sendo forçada a deixar porque o terreno fica no traçado de uma avenida prevista no projeto de urbanização do Córrego Lagoa.
O presidente da Emha, Paulo Matos, assegura que as invasões foram organizadas por um grupo, que ele ainda não identificou, com estrutura. Tanto que famílias tiveram à disposição um caminhão-baú para transportar as mudanças, levaram chaveiros para trocar o "segredo" das fechaduras e abrir as portas, que não precisaram ser arrombadas. Segundo Matos, as famílias com as quais manteve contato não quiseram apresentar documentação. "Queria só confirmar se, de fato, no grupo havia pessoas que se inscreveram há mais de 10 anos no cadastro da Emha em busca da casa própria".
O desempregado Claudinei Alves da Silva diz que resolveu invadir uma das casas porque foi excluído do programa de reassentamento das famílias residentes numa favela às margens do Córrego Segredo. "Os meus vizinhos receberam casa, só eu fui excluído", sustenta.
Silvana Rodrigues, 31 anos, tem dois filhos, um de 7 anos e outro de 9. Há um mês está morando com as crianças no local e diz que ontem foi a primeira vez que apareceram representantes da Emha.
A dona de casa Ivanir Valdez diz que resolveu invadir uma das casas para fugir do aluguel. "Eu pagava R$ 250,00 de aluguel e daí acabava ficando sem comprar alimentos básicos. Meu filho e eu vivemos dos bicos que ele faz como pedreiro, nós precisamos de uma casa para morar", declarou.
Segundo o presidente da Emha, as 32 casas invadidas ainda não haviam sido entregues porque as concessionárias, Águas Guariroba e Empresa Energética de Mato Grosso do Sul (Enersul), atrasaram as ligações de água e energia elétrica.