O Instituto Guarda Mirim Ambiental, que está acompanhando a situação dramática de peixes que ficaram ilhados em poças, prepara a primeira remoção dos animais devido ao Rio da Prata ter secado em uma extensão estimada de 6 km, acima da ponte do Curê, em Jardim.
Pelo segundo ano, os peixes estão sobrevivendo em diversos pontos onde poças de água se formaram e estão diminuindo a cada dia. Conforme explicou o presidente do instituto, Nisroque da Silva Soares, são vários fatores que contribuem para a criticidade da situação.
“É o Rio da Prata importante para toda a região, é um rio cênico, por isso a nossa preocupação. Não é um riozinho qualquer, não é um córrego, ele é fundamental. Se a gente não se preocupar com esse local que está acima dos pontos turísticos, embora nesses locais ele continue fluindo bem por ter três nascentes abaixo desse ponto que o estão alimentando, ele tá mantendo. Precisamos levantar essa problemática e ver o que pode ser feito para minimizar”, explicou Nisroque.
Ação em 2025 / Crédito: Instituto Homem PantaneiroComo apontou ao Correio do Estado, a situação está se repetindo mais uma vez, e é preciso chamar a atenção das autoridades para um planejamento alinhado que tente reduzir os danos na região.
“Acredito que, para minimizar a situação, é preciso ser feito um reflorestamento, a conservação da mata ciliar, das pequenas nascentes que alimentam esse rio, o banhado que alimenta o Rio da Prata e que foi muito atacado, durante algum período, com drenos e outras intervenções. Ou se criar um parque, ou aumentar o Parque da Serra da Bodoquena, onde nasce o rio que está na margem da Serra da Bodoquena, e criar uma unidade de conservação”, pontuou.
Crédito: Instituto Guarda Mirim AmbientalRealocamento dos peixes
O grupo do Instituto, formado por oito pessoas, está realizando o monitoramento desde o dia 6 de setembro e inicia a remoção dos peixes nesta sexta-feira (19), de poças que estão quase secas.
“Nesse primeiro momento, a ação não vai ser grande porque são cardumes pequenos, numa parte em que o rio está secando muito rápido. Deve dar uma viagem apenas.”
No ano anterior, o Instituto realizou duas intervenções para a retirada dos peixes, e a estimativa foi a remoção de mais de 600 animais, que posteriormente foram devolvidos em outro ponto do rio.
Já nessa primeira intervenção, Nisroque explicou que o grupo vai atuar nas poças menores, em que os animais precisam ser retirados imediatamente devido à velocidade com que a água está evaporando.
A expectativa, para a próxima semana, caso não caia a chuva tão esperada, é de um trabalho maior em outra poça, que está conseguindo se manter por ter um pouco mais de água.
“Vamos utilizar, para o resgate dos peixes, a nossa caminhonete, oxigênio, duas caixas d’água, a equipe de busca e a de transporte.”
Além dos voluntários do Instituto, outras pessoas irão participar. Neste ano, o Atrativo Recanto Ecológico Rio da Prata e o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) não irão auxiliar com efetivo, mas enviaram recursos. Também auxiliam a Polícia Militar Ambiental (PMA) e proprietários rurais.
A ação ocorre com aval do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), que autorizou a retirada dos animais.
“A situação é desesperadora. Temos imagens na sequência, e a água seca muito rápido, parece que é um sumidouro, ela some de repente. É assustador. Essa intervenção de amanhã tem que ser rápida porque as duas poças estão esvaindo gradualmente.”
A estimativa, segundo o presidente, é que uma das poças, onde os peixes estão lutando pela sobrevivência, tenha seis metros por dois, enquanto a outra possua dez metros por quatro.
Entre as espécies observadas, os peixes ilhados incluem:
- piraputanga;
- curimba;
- lambari;
- pequenos peixes.
“Dourados não vimos. Geralmente ele se esconde um pouco. Amanhã vamos confirmar se há essa espécie. Mas, na poça grande onde iremos fazer a próxima ação, avistamos a presença do peixe-dourado.”
Secas em principais rios de MS
Em 2024, como acompanhou o Correio do Estado, os principais rios que alimentam o Ecoturismo e o Pantanal secaram.
Os rios da Prata e Miranda, os quais têm não só importância econômica – abastecendo água direta e exclusivamente ao menos três cidades de MS ou pouco mais da metade (51%) da população sul-mato-grossense –, mas também para a manutenção de um sistema complexo de biodiversidade, têm apresentado uma série de sinais de degradação, com trechos que chegaram a secar integralmente ao longo de 11 km de percurso.
Naquele período, tanto o Rio da Prata quanto o Rio Miranda sofreram pressão diante da estiagem severa e da constatação de passivos ambientais em áreas de Cerrado. Por isso, suas respectivas sobrevidas entraram na pauta de inquéritos do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS).
Espetáculo da natureza sul-mato-grossense




