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Investimento bilionário traz dificuldades a Ribas

Falta de moradias e alto preço dos aluguéis são as principais reclamações de habitantes impactados por construção de fábrica de celulose

Disparada no preço dos aluguéis contribui para ocupações ilegais em Ribas; prefeitura estima pelo menos 400 famílias nesta situação / Fábrica de celulose da Suzano em construção; o investimento total no Projeto Cerrado está estimado em cerca de R$ 19,3 bi

Disparada no preço dos aluguéis contribui para ocupações ilegais em Ribas; prefeitura estima pelo menos 400 famílias nesta situação / Fábrica de celulose da Suzano em construção; o investimento total no Projeto Cerrado está estimado em cerca de R$ 19,3 bi - Fotos: Marcelo Victor

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Para os moradores de Ribas do Rio Pardo, distante 100 km de Campo Grande, a construção do maior investimento privado do Brasil, com projeção de ser uma das maiores fábricas de celulose do mundo, acarretou algumas dificuldades estruturais no município. 

A equipe do Correio do Estado esteve presente na cidade, nesta segunda-feira (13), e foi possível constatar que a elevada movimentação de pessoas envolvidas com a construção do Projeto Cerrado, da empresa Suzano, divide espaço com as falhas na expansão habitacional em diversas regiões da cidade. 

Após o início da construção da fábrica de celulose, em 2021, o município recebeu uma migração intensa de trabalhadores, os quais enxergaram no local oportunidades de emprego. 

Entretanto, o crescimento de habitantes resultou em um efeito cascata de falta de casas suficientes para acomodar os novos moradores, o que fez disparar os preços dos aluguéis. 

Conforme apurado pela reportagem, com a valorização do preço cobrado pelo aluguel de imóveis, diversos inquilinos não conseguiram pagar o novo valor. Como consequência, diversas famílias ocupam moradias irregulares e sem estrutura básica. 

De acordo com a prefeitura de Ribas do Rio Pardo, atualmente, pelo menos 400 famílias vivem em terrenos públicos invadidos, desencadeando o surgimento e a expansão das favelas. Em uma das ocupações, a equipe do Correio do Estado conversou com Thiago Ribeiro, 29 anos.

Morador há seis anos na favela, ele relatou que nos últimos meses houve aumento de famílias na mesma situação de vulnerabilidade habitacional.  

“Vieram pessoas de longe para cá para trabalhar na fábrica, que não tinham casa na cidade e tiveram que erguer moradia aqui na invasão”, relatou Ribeiro.

A mesma situação se repete para quem já era morador de Ribas do Rio Pardo. “Chegou a vir gente por causa do preço dos aluguéis também, que está um absurdo. Fui ver uma casa alugada na esquina custando R$ 15 mil”, acrescentou.

Thiago também contou à reportagem as dificuldades de permanecer na ocupação urbana. “Aqui, o acesso à água e à energia é difícil, a geladeira não faz gelo porque a energia é muito fraca e o ventilador não pega direito porque os fios são remendados”, relatou o morador.

NOVA REALIDADE

Para entender melhor como está a nova realidade de Ribas do Rio Pardo, o Correio do Estado conversou com moradores mais antigos do município.

No centro da cidade, o caminhoneiro Alessandro, que mora em Ribas há 50 anos, relatou que se surpreendeu com o aumento do fluxo de pessoas no município nos últimos três anos.

“Mudou muita coisa aqui com a chegada da Suzano. Há muitas pessoas na cidade, o trânsito aqui aumentou muito e apesar dos serviços gerados, acredito que a cidade ainda não estava pronta para receber tantas pessoas”, disse.

Em contrapartida, a moradora Ruty Oliveira Gonçalves, 74 anos, nascida e criada em Ribas do Rio Pardo, vê com bons olhos o aumento repentino de habitantes na cidade.

“Aqui no centro, antes do início da construção da fábrica, estava tudo muito parado, a gente estava até triste porque a cidade estava estagnada. Mas agora melhorou muito a nossa situação”.

GERAÇÃO DE EMPREGOS

A construção do Projeto Cerrado deve criar cerca de 10 mil empregos em um município que, segundo o Censo 2022, tem apenas 25 mil habitantes.

William Lima dos Santos Scarpa, 32 anos, é natural de Bauru (SP) e é um dos hoteleiros que abriram negócio em Ribas do Rio Pardo, para prestar atendimento aos trabalhadores da fábrica.

Em entrevista ao Correio do Estado, William informou que o hotel foi construído em poucos meses, com início em novembro de 2021 e término em outubro do ano passado.

“Eu vim para Ribas porque faço parte de um grupo que já estava monitorando o crescimento da cidade por conta da construção da fábrica da Suzano. Basicamente, com o tempo, fui construindo essa ideia de vir para cá”, disse.

O hoteleiro, que tem experiência na área há seis anos, disse que já tem 320 clientes hospedados no seu estabelecimento, que é dividido em dois prédios na cidade.

Por ser de fora do Estado, William foi questionado em entrevista sobre a recepção dos moradores da região aos novos habitantes. Ele relatou que existe, sim, uma certa rejeição dos rio-pardenses ao aumento do movimento na cidade.

“Houve rejeição dos moradores aqui e eu acredito que foi por conta do aumento exagerado do preço das coisas, que chegaram a ficar três vezes mais caras. Eu tenho funcionários que em 2021 pagavam de R$ 300 a R$ 400 reais de aluguel, mas os donos dos imóveis viram que a demanda cresceu e reajustaram o valor para R$ 3 mil por mês”, salientou. 

IMPACTO

A equipe de reportagem esteve presente na sede da Prefeitura de Ribas do Rio Pardo.

Em conversa com o prefeito da cidade, João Alfredo Danieze (Psol), sobre o impacto do empreendimento bilionário no município, ele foi enfático ao relatar que a Suzano não está cumprindo com a devida urgência o projeto de mitigação dos impactos causados pela construção da fábrica de celulose por meio do Plano Básico Ambiental (PBA). 

“Estamos precisando de obras urgentes na infraestrutura. Até então, só conseguimos realizar a instalação de semáforos e lotes urbanizados para construção de casas”, disse.

“A cidade está cheia de buracos, o tráfego de caminhões piorou as condições das estradas, estamos tentando fazer recapeamentos e pavimentações. Não temos máquinas e equipamentos suficientes para isso, por isso tenho dito que estamos caminhando para o caos”, complementou o prefeito.

No entanto, em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, o diretor de Engenharia do Projeto Cerrado, Maurício Miranda, explicou que os investimentos da Suzano em 25 projetos definidos via conselho de desenvolvimento sustentável no PBA são projetados para impactar a cidade após o início operacional da fábrica, e não durante a execução da obra. 

“O PBA pode atender à execução da obra, mas ele demanda fortemente as questões de operação futura da própria planta. A partir disso, são em torno de 25 projetos que a Suzano se comprometeu a executar. Nós trabalhamos logicamente nessa frente, para atender aquilo que o conselho priorizou, e é o que nós temos feito”, destacou Miranda.

INVESTIMENTO

O diretor de Engenharia do Projeto Cerrado pontuou ao Correio do Estado que, dentro dos termos de compromisso do PBA, a Prefeitura de Ribas do Rio Pardo deve contar com investimento de R$ 27,2 milhões da Suzano para setores como habitação, saúde e educação.  

“Nós temos R$ 4,7 milhões, que serão designados para frentes da Polícia Rodoviária Federal, e R$ 16 milhões para a parte de segurança pública, que inclui a construção de um novo quartel da Polícia Militar, a construção de uma nova delegacia, além de outras coisas de viatura e melhor aparato para a polícia”, disse Miranda. 

Conforme ele, as obras do PBA estão seguindo o cronograma previsto. “Asseguramos às pessoas que o nosso investimento não será passageiro em Ribas. Tenho certeza de que fazemos tudo o que está dentro da nossa responsabilidade e entendemos que fazemos bem, mas nós não conseguimos solucionar todas as questões do município e cabe deixar isso bem claro”, frisou. 

Saiba: O Projeto Cerrado vai gerar cerca de 10 mil empregos diretos no pico da obra, além de milhares de empregos indiretos. Quando concluída, a nova unidade da Suzano vai empregar cerca de 3 mil trabalhadores. O investimento total na fábrica de celulose está estimado em R$ 19,3 bilhões.

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CAMPO GRANDE

Bioparque Pantanal terá Papai Noel mergulhador em programação especial de Natal

Atração promete encantar visitantes de todas as idades

14/12/2025 18h00

Atração promete encantar visitantes de todas as idades

Atração promete encantar visitantes de todas as idades Divulgação/ Gov MS

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O Bioparque Pantanal preparou uma programação especial de Natal para receber o público em dezembro, com uma das atrações mais aguardadas do período: o Papai Noel Mergulhador.

A apresentação está marcada para as 10h dos dias 23 e 24 e promete surpreender famílias e visitantes ao unir magia, educação ambiental e o contato direto com a biodiversidade.

A ação, que já se tornou tradicional no calendário do atrativo, leva o personagem natalino para dentro dos tanques, reforçando de forma lúdica a importância da conservação ambiental e da relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza.

Atenção nos horários!

No dia 24 de dezembro, o Bioparque Pantanal funcionará em horário especial, das 8h30 às 14h30, permitindo que o público aproveite a véspera de Natal com uma experiência diferente em um dos maiores complexos de água doce do mundo. O último horário de entrada será até 13h30.

Já nos dias 25 e 31 de dezembro, não haverá visitação. O empreendimento também permanecerá fechado entre 1º e 7 de janeiro de 2026, período destinado à realização de manutenções internas, voltadas à segurança dos visitantes e ao bem-estar dos animais. As atividades serão retomadas normalmente no dia 8 de janeiro.

Bioparque Pantanal

Inaugurado em março de 2022, o Bioparque Pantanal já recebeu mais de 1 milhão de visitantes e se consolidou como referência nacional em turismo científico, inclusivo, sustentável e contemplativo. O espaço é reconhecido pela estrutura moderna e pelo compromisso com a educação ambiental, acessibilidade e conservação da fauna.

A visita ao Bioparque Pantanal é gratuita, mas o agendamento é obrigatório e deve ser feito exclusivamente pelo site bioparquepantanal.ms.gov.br.

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MANIFESTAÇÃO

"Sem anistia", manifestantes protestam contra PL da Dosimetria em todo o Brasil

Atos ocorreram em diversas cidades e classificam projeto como anistia disfarçada aos envolvidos no 8 de Janeiro

14/12/2025 17h00

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo Divulgação/ Agência Brasil

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Manifestantes de diversas cidades brasileiras foram às ruas neste domingo (14) em protesto contra a aprovação do chamado Projeto de Lei da Dosimetria, que altera o cálculo das penas aplicadas aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Para os organizadores, o texto representa uma “anistia disfarçada” e abre caminho para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e integrantes de seu governo.

Os atos foram organizados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reuniram movimentos sociais, centrais sindicais, estudantes e partidos de esquerda. Pela manhã, manifestações ocorreram em capitais como Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Maceió, Fortaleza, Salvador e Brasília.

Na capital federal, o protesto teve início em frente ao Museu da República e seguiu em direção ao Congresso Nacional. Durante o trajeto, manifestantes entoaram palavras de ordem e exibiram cartazes com frases como “Sem anistia para golpista” e críticas diretas ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Campo Grande

Em resposta a aprovação por 291 a 148 votos na última quarta-feira (10), centenas de campo-grandenses liberais se encontraram na esquina da Rua 14 de Julho com a Avenida Afonso Pena para protestar contra a tentativa de Anistia das pessoas que foram condenadas pelo 8 de janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além de apoiadores, a manifestação contou com a presença de algumas autoridades da esquerda de MS, como o deputado estadual Pedro Kemp (PT), que foi o primeiro político a chegar no local.

Em conversa com a reportagem, o parlamentar falou sobre o movimento desta manhã e a importância de dar uma rápida resposta ao PL da Dosimetria.

"Mais uma vez, a população dá um recado para a Câmara dos Deputados, que está votando na contramão de tudo aquilo que a população deseja, porque quem atentou contra a democracia, quem quebrou a série dos poderes em Brasília, quem tentou dar um golpe de estado no Brasil tem que ser condenado e pagar por esses crimes. Dar uma lição na história de que nós não aceitamos mais golpes no Brasil", disse o petista.

O ex-deputado estadual e agora candidato ao governo de Mato Grosso do Sul pelo Partido dos Trabalhadores, como oficializado neste sábado (13) pelo presidente do partido, Fábio Trad também compareceu ao protesto.

"É um momento muito importante, mas não só para a esquerda, para todos os democratas. Eu convido também a direita liberal que respeita a democracia, aquela direita dos anos 90 que respeitava a vontade das urnas, que não apoiava os Estados Unidos contra o próprio Brasil. Ela deveria estar aqui conosco, porque o que está em jogo aqui hoje não é só uma disputa partidária, é uma questão de civilização e barbárie", destaca.

Paulista ocupada

Em São Paulo, a Avenida Paulista foi ocupada por manifestantes concentrados nos quarteirões próximos ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). O ato reuniu representantes de sindicatos, movimentos sociais, estudantis e partidos políticos contrários ao projeto.

Durante o protesto, o coro de “sem anistia” foi repetido diversas vezes. Cartazes com dizeres como “Congresso inimigo do povo” ganharam destaque, assim como críticas ao comando da Câmara. Parte dos participantes vestiu roupas verde e amarelas para reforçar a rejeição à anistia dos envolvidos nos atos golpistas.

A votação do PL na Câmara ocorreu em meio a um episódio de tensão, após a retirada forçada do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da Mesa Diretora pela Polícia Legislativa. Jornalistas foram impedidos de acompanhar a ação, e profissionais da imprensa relataram agressões.

Parlamentares da oposição avaliam que, com as mudanças previstas no texto, Bolsonaro poderia ter a pena reduzida de 7 anos e 8 meses para cerca de 2 anos e 4 meses em regime fechado, conforme o cálculo atual da Vara de Execuções Penais.

Segundo Juliana Donato, da Frente Povo Sem Medo, a mobilização foi motivada pela gravidade da proposta. “Nós entendemos que isso é uma anistia. Os crimes cometidos contra a democracia são muito graves e não podem ser perdoados. A impunidade abre espaço para novas tentativas de golpe”, afirmou. Ela acredita que a pressão popular pode influenciar a tramitação do projeto no Senado.

Protestos no Rio

No Rio de Janeiro, milhares de pessoas ocuparam as ruas próximas ao Posto 5, em Copacabana. O ato contou com a participação de movimentos sociais, sindicatos, estudantes, parlamentares, artistas e militantes de esquerda.

A manifestação ganhou caráter cultural com a participação de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil, que se apresentaram durante a tarde. O evento foi batizado de “Ato Musical 2: o retorno”, em referência a uma mobilização anterior contra a PEC da Blindagem.

Além do PL da Dosimetria, os participantes protestaram contra a escala de seis dias de trabalho por um de descanso, o marco temporal para demarcação de terras indígenas, o feminicídio e cobraram transparência em investigações envolvendo o Banco Master.

Uma performance realizada por um grupo de mulheres chamou atenção ao comparar parlamentares favoráveis ao projeto a “ratos traiçoeiros”, com a distribuição de animais de borracha e fotos de deputados que votaram pela redução das penas.

A aposentada Angela Tarnapolsky, de 72 anos, afirmou que não poderia se omitir diante do que considera retrocessos democráticos. “Depois de tudo o que vivi desde a ditadura, é impossível aceitar um Congresso com esse nível de retrocesso”, declarou.

O deputado Glauber Braga participou do ato e agradeceu o apoio popular. Com a suspensão de seu mandato por seis meses, ele afirmou que levará o gabinete “para as ruas” e seguirá mobilizado contra o PL da Dosimetria e contra as chamadas emendas Pix, que permitem repasses de recursos públicos sem detalhamento do uso.

O que prevê o projeto

O PL da Dosimetria estabelece que os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição do Estado Democrático de Direito, quando cometidos no mesmo contexto, sejam punidos apenas com a pena mais grave, e não pela soma das penas. O texto também reduz o tempo necessário para a progressão de regime, do fechado para o semiaberto ou aberto.

A proposta pode beneficiar, além de Bolsonaro, militares e ex-integrantes do alto escalão do governo anterior, como Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto e Augusto Heleno.

Parlamentares da oposição preveem, para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que o total da redução pode levar ao cumprimento de 2 anos e 4 meses em regime fechado em vez dos 7 anos e 8 meses pelo cálculo atual da vara de execução penal, segundo a Agência Câmara de Notícias. Mas a definição dos novos prazos será do STF e pode ser influenciada pelo trabalho e estudo em regime domiciliar, que diminuem o período de prisão.

O texto original previa anistia a todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro e dos acusados dos quatro grupos relacionados à tentativa de golpe de Estado julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas esse artigo foi retirado do projeto.

**Colaborou Felipe Machado**

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