Com 103 unidades em Mato Grosso do Sul que atendem os 79 municípios, estatal quer realizar corte de gasto bilionário nos próximos anos em todo o País
Os Correios analisam fechar algumas das 103 agências espalhadas por Mato Grosso do Sul como uma das medidas estabelecidas para o corte de gasto bilionário que a estatal pretende realizar nos próximos anos, conforme anunciado pelo presidente da empresa, Emmanoel Schmidt Rondon.
Ontem, os Correios divulgaram um plano de reestruturação da companhia com previsão de fechar 16% das agências da estatal.
“A gente vai fazer a ponderação entre resultado [financeiro das agências] e o cumprimento da universalização para a gente não ferir a universalização ao fecharmos pontos de venda da empresa”, explicou o presidente em coletiva de imprensa, em Brasília (DF).
Em nota enviada ao Correio do Estado, o núcleo sul-mato-grossense da estatal afirma que ainda não há precisão de quantas agências serão fechadas no Estado, e ainda explica quais critérios serão levados em conta para decidir quais terão suas atividades encerradas.
“Os Correios estão concluindo os estudos para a reorganização de unidades, com foco na eficiência e sustentabilidade. Essas análises consideram critérios técnicos e têm como premissa inegociável a garantia do atendimento aos clientes e parceiros e à universalização dos serviços postais em todas as regiões do País”, disse à reportagem.
Além do fechamento das agências, Emmanoel Schmidt anunciou dois planos de demissão voluntária, o chamado Programa de Desligamento Voluntário (PDV), que é um plano de incentivo para servidores públicos ou funcionários de empresas se demitirem, previstos para reduzir o número de funcionários da estatal em 15 mil até 2027.
“A gente tem 90% das despesas com perfil de despesa fixa. Isso gera uma rigidez para a gente fazer alguma correção de rota quando a dinâmica de mercado assim exige”, disse.
Quanto a isso, o núcleo em Mato Grosso do Sul não deu mais detalhes de quantas demissões estão previstas para empregados do Estado. Ao todo, há 1,1 mil funcionários na ativa.

Agências dos Correios devem ser fechadas em Mato Grosso do Sul como forma de reduzir gastos - Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado
QUASE GREVE
Há cerca de 15 dias, os empregados dos Correios em todo o País ameaçaram entrar em greve, pedindo reajuste salarial. Representados pelo Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, Telégrafos e Similares de Mato Grosso do Sul (Sintect-MS), os funcionários das unidades do Estado também estiveram envolvidos.
Após rodadas de negociação de forma coletiva, os trabalhadores de MS fazem parte de um dos 16 sindicatos que aprovaram a proposta feita pelos Correios: reajuste salarial de 5,13%, com vigência a partir de abril de 2026 e pagamento retroativo a janeiro do mesmo ano, com data-base no dia 1º de agosto, com validade de dois anos.
Além do reajuste salarial, o texto prevê mudanças na jornada de trabalho e nos benefícios, como o fim do ponto por exceção para carteiros e o encerramento do pagamento de hora extra tripla em domingos e feriados.
Contudo, o adicional de 70% sobre as férias foi mantido, o que significa um porcentual superior ao mínimo exigido legalmente.
Porém, como 18 entidades recusaram a proposta feita pela estatal, o acordo coletivo seguiu para as mãos do Tribunal Superior do Trabalho (TST) para novo julgamento da paralisação, que segue em diversas agências dos Correios pelo Brasil. Como a classe sul-mato-grossense aceitou a proposta, a greve no Estado foi descartada.
O Correio do Estado entrou em contato com membros da diretoria do Sintect-MS para saber mais detalhes dessas negociações com a estatal. Wilton dos Santos, presidente do sindicato, disse que as negociações a nível nacional continuam, e que caso não cheguem a um acordo logo, o julgamento do dissídio está marcado para hoje, em Brasília.
“Como não houve unanimidade a nível nacional, as discussões continuam, inclusive amanhã [hoje] está marcado o julgamento do TST. Então, se não houver um desfecho na noite de hoje [ontem] ainda, com a outra proposta que a maioria aceita, amanhã terá o julgamento do dissídio. Aqui em MS, não deflagrou a greve, assim como em 16 estados”, conta Wilton à reportagem.
CRISE ANUNCIADA
De acordo com a própria direção dos Correios, a estatal enfrenta a crise financeira desde 2016, motivada pelas mudanças no mercado postal, em razão da digitalização das comunicações, que substituiu as cartas, reduzindo a principal fonte de receita, e também pela entrada de novos competidores no comércio eletrônico como um dos motivos da atual crise do setor.
“É uma dinâmica de mercado que aconteceu no mundo inteiro e algumas empresas de correios conseguiram se adaptar. Várias dessas empresas ainda registram prejuízos. Um exemplo é a empresa americana de correios que está reportando prejuízo da ordem de US$ 9 bilhões”, disse Emmanoel.
Nas apresentações de ontem, a estatal disse que registrou um saldo negativo de R$ 6 bilhões nos nove primeiros meses deste ano e está com um patrimônio líquido negativo de R$ 10,4 bilhões.
Em meio à crise, surgiu um debate questionando se os Correios deveriam abrir seu capital, ou seja, passar por um processo de privatização. Porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 18, descartou qualquer possibilidade disso acontecer.
“Enquanto eu for presidente, não tem privatização. Pode existir parceria, pode transformar a empresa em empresa de economia mista, mas privatização não vai ter”, afirmou Lula em entrevista.
*SAIBA
No sábado, os Correios anunciaram um empréstimo de R$ 12 bilhões com os bancos. Porém, o valor ainda não é o suficiente para equilibrar as contas de 2026, pois seriam necessários mais R$ 8 bilhões.
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