Ficar viúva aos 20, 30 ou até 40 anos envolve desafios bem particulares. Além de lidar com a dor da perda, a jovem viúva terá mais dificuldade para encontrar outras mulheres na mesma situação com quem possa compartilhar experiências e sentimentos. Se existirem filhos, eles serão pequenos ainda e ela terá que assumir essa responsabilidade adicional sozinha. Embora, a rigor, seja mais fácil para uma mulher jovem arranjar um novo parceiro, na prática, a sobrecarga com os filhos e a experiência da perda podem fazer com que ela tenha dificuldades para retomar sua vida amorosa e, eventualmente, até se isolar.
É exatamente o caso da personagem Letícia, vivenciada por Tânia Khalil, na novela Fina Estampa. “Essa é uma dor muito profunda e pode ser traumática na juventude, porque é menos previsível”, avalia a psicóloga Cláudia Ferreira, do Rio de Janeiro. Maíra Cristina Mazzo de Oliveira, 30 anos, assistente social, de Junqueirópolis (SP), que ficou viúva há dois anos é um exemplo: “Vivo uma solidão muito grande e faço uso de medicamentos. Quase não saio de casa, pois ainda não consegui superar a dor. Está difícil, é como seu eu vivesse em outro planeta e não fizesse parte desse mundo”, conta.
Maíra perdeu o marido em um acidente de carro. “Ele era muito romântico, divertido e comunicativo. Sua alegria era contagiante”, relembra. Desse relacionamento, nasceu Heitor, hoje com oito anos. Ela conta que a morte do pai desencadeou no menino problemas de saúde, como depressão e obesidade. “Ele passou por uma fase mais agressiva e chorona. Sozinha, tive de ter muita paciência para ajudar o meu filho”, afirma.
Para aguentar a saudade e ainda conseguir dar apoio ao filho pequeno, Maíra buscou ajuda psiquiátrica. “Precisava ser forte”, lembra. Já se passaram dois anos desde a morte do marido, mas ela continua sozinha. Confessa que até pensou em se envolver, mas não superou o medo de sofrer. “Ainda não tive ninguém. Fico pensando em tudo o que aconteceu e tenho receio de vivenciar isso tudo novamente”.
A família ajuda muito. Até na hora de dar suporte para que a jovem viúva possa se dedicar mais ao trabalho, por exemplo. Maíra fez dívidas e precisou aumentar a carga de trabalho. Dar continuidade à vida interrompida com a perda do parceiro era a grande meta. “Nos adaptamos a tudo”, diz, “com o tempo a saudade ameniza, mas nunca acaba”. O que a faz sentir-se péssima? Despertar dó nas pessoas. “Sou jovem e as pessoas sempre se sensibilizam com o que aconteceu comigo. Carrego a angústia em silêncio e meu objetivo maior é não deixar que os obstáculos me derrubem”, afirma.
É fundamental vivenciar este luto
Para Iracema Teixeira, Doutora em Psicologia e Psicoterapeuta, não existe receita para superar essa perda, mas é fundamental vivenciá-la e se dar um tempo. “É necessário reconhecer a dor e aceitar viver a vida num ritmo mais lento. É um momento de transição. Um projeto de vida que foi interrompido de forma abrupta, traumática, inesperada”, avalia.
Lidar com essa sensação de “antes do tempo” é um grande desafio quando a viuvez chega de forma precoce, ou seja, na juventude, mas é o que vai evitar um trauma maior. “Isso pode dificultar e até mesmo prolongar o processo do luto”, afirma Iracema.
Rejane Leão tinha 23 anos quando conheceu Sergio. Foi seu primeiro namorado. Apaixonaram-se. Foram morar juntos. Três anos depois, mal ela havia se formado em Pedagogia, nasceu Luna. Os dois combinaram que Rejane ficaria em casa, até a filha ter idade para ir para a escolinha. Quando Luana tinha um ano e oito meses, Rejane engravidou de Noah. Seis meses depois, Sergio teve um enfarte, fulminante. “No começo, fiquei perdida. Quem pensou por mim foram meus pais. Eu apenas seguia a torcida.”
Além da perda emocional, a falta de experiência profissional de Rejane trouxe outras perdas: “perdi meu marido, minha casa, minhas coisas. Vendi tudo, devolvi a casa, que era alugada, e voltei para a casa dos meus pais”.
Distribuí fotos do Sergio pela casa, para meus filhos não perderem a referência, mas eles eram tão novinhos, em pouco tempo, pararam de perguntar. Criança acostuma mais rápido com a perda.”, ela conta. Aos poucos, no entanto, a vida foi se ajeitando em torno da nova situação. Rejane conseguiu um emprego. Quer fazer pós em Educação Infantil. “Pegar o ritmo de novo, estudar e ser mãe ao mesmo tempo foi difícil. E ainda tendo que fazer o papel de pai, então! Mas agora estou me achando.”
Para Cláudia Ferreira o mais importante é não negar a perda, vivenciar o choro e a dor. “Mas a pessoa deve tentar dar continuidade às atividades habituais e buscar outras motivações, praticar esportes, matricular-se em algum curso, voluntariar-se em um projeto social e buscar formas de ter uma vida social rica e interessante”, sugere.
Tudo tem um tempo para acabar, até o período de luto. Iracema Teixeira avisa: “Quando o luto se prolonga por muito tempo e o estado depressivo dura mais que um ano, é importante buscar ajuda profissional porque é normal a mulher se dedicar aos filhos e à carreira durante a fase do luto, mas isso não deve impedi-la de refazer a sua vida”.
“Depois de três anos de viuvez, adotei uma gatinha, a Meg, e estou namorando de novo”, conta Rejane, “encontrei uma pessoa maravilhosa, um pouco mais velho, estamos juntos há 4 meses!” E conclui: “tenho fé nas coisas e sou romântica até o último fio de cabelo, quero envelhecer com alguém ao meu lado”.
Fonte: IBGE


