Publicação do diário oficial desta terça-feira (9) corrige a informação de que um empréstimo de R$ 1 milhão concedido pela cooperativa de crédito Sicoob concedido à empresa Paris Construtora & Transportadora, pertencente ao foragido da Justiça Valter Ulisses Martins Silva, tenha sido liberado no dia 16 de dezembro de 2024. Na realidade, conforme o edital de hoje, a operação de crédito ocorreu em 22 de dezembro de 2022.
Em maio do ano passado, Valter Ulisses e seu irmão, Marcel Martins Silva, foram alvos da Operação Prime, uma operação da Polícia Federal contra suposto esquema de tráfico de cocaína e lavagem de dinheiro.
Os irmãos, segundo a PF, teriam acumulado patrimônio da ordem de R$ 100 milhões em menos de uma década por conta de suas atividades supostamente ilegais. O primeiro conseguiu escapar, mas o segundo foi preso preso e ficou detido até julho de 2025.
E mesmo estando na prisão, ele teria sido aceito como avalista do irmão foragido, conforme o edital publido no começo do mês.
E, com base no edital publicado no diário oficial do Governo do Estado no dia 1º de setembro, o Correio do Estado publicou reportagem informando que os irmãos Martins, mesmo um estando preso e outro foragido, conseguiram empréstimo milionário no Sicoob de Dourados
Porém, a retificação de agora revela que o empréstimo foi concedido dois anos antes. A operação de crédito veio à tona agora porque os irmãos não pagaram o empréstimo e por isso a cooperativa de crédito está levando a leilão um terreno em um condomínio de alto padrão que foi dado em garantia pelo empréstimo.
Segundo o advogado Márcio Widal, que defende Marcel Martins e sua esposa, Evelyn Zobiole Marinelli Martins, o empréstimo foi concedido em dezembro de 2022 à empresa Paris Construtora, “que é de exclusiva propriedade de Valter Martins Silva desde 2023. Marcel M. Silva e sua esposa participaram apenas na condição de avalistas do negócio".
Como garantia deste empréstimo foi dado um terreno de 944 metros quadrados no luxuoso condomínio “Hectares Park & Resort”, em Dourados. Se houver interessados no leilão, o valor mínimo do terreno é de R$ 1,2 milhão. Se não houver interesse no início, o valor cai para R$ 1,1 milhão. Em sites do setor, terrenos do mesmo tamanho são oferecidos por até R$ 1,7 milhão.
Errata do edital do leilãodi terreno foi publicada no diário oficial do Estado nesta terça-feira (9)Os lances, com valor mínimo de R$ 1,2 milhão podem ser dados somente até esta terça-feira (9). Se não houver oferta, o certame segue até o dia 16, com redução de 100 mil reais. A divulgação do leilão apareceu no diário oficial porque tanto o proprietário da empresa (Valter Martins) quanto o casal foram procurados em três datas e endereços diferentes, mas ninguém foi localizado ao longo da segunda quinzena de agosto.
A mulher de Marcel também chegou a ser alvo das operações da Polícia Federal, em 15 de maio do ano passado, mas não chegou a ser detida.
O terreno no condomínio de alto padrão e uma série de outros bens foram sequestrados pela Justiça em maio do ano passado, em meio à Operação Prime. A Justiça Federal comunicou ao cartório nos dias 15 e 20 de maio que o terreno havia sido sequestrado.
Na época da operação, a Polícia Federal informou que em três anos os irmãos Martins acumularam patrimônio da ordem de R$ 100 milhões. E, conforme a PF, este patrimônio seria fruto da lavagem de dinheiro procedente da movimentação de R$ 300 milhões com o tráfico de cocaína.
ANULAÇÃO
Marcel Martins Silva chegou a ficar detido até meados de julho deste ano, mas acabou sendo liberado porque seus advogados conseguiram no Superior Tribunal de Justiça (STJ) uma decisão dizendo que as provas utilizadas pelo Polícia Federal que levaram à decretação de sua prisão eram ilegais.
De acordo com o advogado Márcio Vidal, “após a decisão do Superior Tribunal de Justiça declarando a ilicitude das provas, a Justiça Federal de Campo Grande, a pedido da Defesa, anulou a ação penal e, também, o inquérito policial, além de todas as medidas cautelares relacionadas”.
Ainda conforme Márcio Vidal, “a Justiça Federal não recebeu a denúncia por tráfico de drogas contra Marcel M. Silva, permanecendo as acusações de suposta participação em organização criminosa e lavagem de capitais, contra as quais Marcel M. Silva se defendeu na ação penal, que, contudo, não teve decisão sobre o seu mérito em razão da nulidade integral do processo pelo uso de provas ilícitas pela Acusação”.
SICOOB
Depois da correção do edital do leilão, que alterou a data da concessão do crédito, o Sicoob enviou nota ao Correio do Estado informando que “através do advogado Fernando Duque Estrada o Sicoob Centro Sul comprovou categoricamente que não houve a concessão do referido empréstimo na data mencionada e jamais desrespeitaria decisões judiciais para beneficiar ou favorecer quem quer que seja, estando à disposição de todos para eventuais esclarecimentos”.
A nota acrescentou ainda que “o Sicoob Centro Sul reafirma que toda a sua atividade financeira obedece estritamente os ditames legais, respeitando a legislação aplicável, as normas do BACEN, COAF e do Banco Sicoob, bem como as determinações judiciais. Assim, retifica o seu compromisso com todos os seus cooperados e com a sociedade em geral, com os princípios do Cooperativismo, com base na transparência, honestidade, idoneidade, legalidade e respeito a todos que fazem parte da história do Sicoob Centro Sul”.


