O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) apresentou alegações finais e requereu júri popular a João Augusto Borges autor do duplo feminicídio contra a esposa Vanessa Eugênia Medeiros, 23 anos, e da filha Sophie Eugênia, de apenas 10 meses, assassinadas em maio deste ano, em Campo Grande.
O órgão aguarda as alegações finais da defesa do acusado, para que seja submetido ou não a julgamento pelo Tribunal do Júri, sob a acusação de duplo feminicídio, ocultação e destruição de cadáveres.
"Desta feita, impõe-se ao presente caso a decisão de pronúncia, para que o acusado seja julgado em plenário, de modo que a matéria seja submetida à apreciação do Conselho de Sentença", destacou o MP.
Segundo a promotoria, o réu deve responder pelos crimes com todas as qualificadoras previstas na denúncia, como motivo torpe, meio cruel (asfixia), recurso que dificultou a defesa das vítimas, além das causas de aumento previstas no feminicídio — violência doméstica, crime praticado contra menor de 14 anos e na presença de descendente.
João Augusto Borges ao lado de Vanessa Eugênia / Foto: MontagemDepoimento em juízo
Durante audiência realizada em agosto deste ano, João confessou novamente os assassinatos. Disse que agiu após um acesso de raiva, ao ser agredido por Vanessa durante uma discussão. “Ela me deu um tapa e eu explodi”, afirmou. No entanto, em juízo, negou que a motivação tenha sido o pagamento de pensão, como havia declarado anteriormente à polícia.
O acusado relatou que já havia pensado em matar a companheira em outras ocasiões, mas tentava “se segurar”. Para ele, o tapa teria sido a “faísca” que desencadeou a ação. Em relação à filha, afirmou não ter tido controle: “Eu não queria matar ela, eu queria cuidar dela... mas aconteceu”.
As investigações apontaram que, no dia 26 de maio de 2025, João chamou Vanessa para o quarto sob o pretexto de conversar. Lá, aplicou um golpe de “mata-leão” e a estrangulou com auxílio do colar que ela usava. Em seguida, matou a filha Sophie, também por estrangulamento, na cama do casal.
Após o crime, deixou os corpos no quarto, foi trabalhar normalmente e, à noite, comprou gasolina em um posto. Colocou as vítimas no porta-malas do carro da família, dirigiu até uma área de mata na região do Indubrasil e ateou fogo nos corpos. O fogo se alastrou rapidamente pela vegetação e chamou a atenção de moradores e do Corpo de Bombeiros, que localizaram os restos mortais.
Investigações e prisão
De acordo com o delegado Rodolfo Daltro, o réu ainda tentou registrar um boletim de ocorrência de desaparecimento. No entanto, câmeras de segurança mostraram o carro dele próximo ao local onde os corpos foram incendiados. Ao ser abordado, confessou o crime com frieza, revelando preocupação apenas com a possibilidade de prisão.
Colegas de trabalho ouvidos em juízo afirmaram que João já havia manifestado a intenção de matar a esposa e a filha, chegando a oferecer seu carro em troca de ajuda para queimar os corpos. Preso em flagrante no dia seguinte ao crime, ele permanece detido.

Conversa entre João e um amigo, testemunha no caso / Divulgação MPMS
Histórico do relacionamento
João e Vanessa se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamentos e estavam juntos havia dois anos. Eles moravam em Campo Grande e tinham a filha Sophie, de apenas 10 meses.
Familiares de Vanessa relataram que o casal vivia entre discussões e reconciliações. Em audiência, o réu afirmou que o relacionamento era marcado por brigas frequentes, cobranças e desentendimentos.
Segundo depoimento do delegado, o acusado também teria dito que não aceitava a separação e que temia perder renda caso tivesse que pagar pensão alimentícia à filha, o que teria reforçado a motivação do crime.
Durante o interrogatório policial, João disse que, após queimar os corpos, voltou para casa e dormiu “bem, como não dormia há tempos”, pois acreditava ter se livrado de um problema.
Na audiência de instrução, a defesa tentou afastar a qualificadora de motivo torpe, alegando descontrole momentâneo. Já o advogado da família da vítima, destacou a premeditação e a frieza do acusado, defendendo a condenação por todos os crimes denunciados.
O juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande deverá decidir nos próximos dias sobre a pronúncia do réu. Caso confirmada, João será submetido a julgamento pelo Conselho de Sentença, ainda sem data definida. A reportagem entrou em contato com a defesa do acusado, contudo não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.


