Novos diálogos entre o ex-juiz, Sérgio Moro, e os membros da força-tarefa do Ministério Público Federal, responsável pela operação Lava Jato, revelaram interferência do atual Ministro da Justiça na prisão do pecuarista sul-mato-grossense, José Carlos Bumlai. O conteúdo inédito, com base em conversas ocorridas no ambiente de um sistema de comunicação privada (o Telegram), foi revelado pela revista VEJA em parceria com o site The Intercept Brasil, nesta sexta-feira, e mostra que Moro cometeu irregularidades enquanto atuava como juiz, o que pode anular todos os seus atos no processo da maior operação de combate à corrupção dos últimos anos, no País.
Em mensagens trocadas no dia 17 de dezembro de 2015, Moro informa Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa em Curitiba, que precisa de manifestação do MPF no pedido de revogação da prisão preventiva de Bumlai. “Ate amanhã meio dia”, escreve. Dallagnol garante que a ação será feita e acrescenta: “Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender alguém…”.
Diálogos anteriores revelam que o juiz já orientava as ações relacionadas ao pecuarista. No dia 15 de outubro de 2015, o procurador Paulo Galvão adverte Roberson Pozzobon, também procurador em Curitiba, de que uma operação teria de ocorrer até meados de novembro devido a um pedido de Russo (Moro) para que a denúncia fosse apresentada antes do fim do ano.
Galvão diz: Estava lembrando aqui que uma operação tem que sair no máximo até por volta de 13/11, em razão do recesso e do pedido de russo para que a denúncia não saia na última semana. Após isso vai ficar muito apertado para denunciar”. Pozzobon responde: “Concordo PG, uma grande operação por volta desta data seria o ideal. Ainda é próximo da proclamação da república. rsrs”.
Bumlai foi preso na Operação Passe Livre, no dia 24 de novembro e denunciado no dia 14 de dezembro de 2015, última semana antes do recesso da Justiça Federal do Paraná. No dia seguinte, Moro recebeu a denúncia, a tempo de impedir que os crimes prescrevessem no fim de 2015. Portanto, o pedido de Moro comentado na conversa entre PG e Pozzobon acabou cumprido à risca.
Conforme, a Veja o pecuarista atuou como laranja do PT, intermediando um empréstimo de 12 milhões de reais do Banco Schahin ao partido em 2004.
CUNHA
Os novos diálogos também revelam Moro opinando contrário a uma delação do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. No dia 5 de julho de 2017, o juiz diz: “Rumores de delação do Cunha...Espero que não procedam”. Dallagnol responde: Só rumores. Não procedem. Cá entre nós, a primeira reunião com o advogado para receber anexos (nem sabemos o que virá) acontecerá na próxima terça. estaremos presentes e acompanharemos tudo. Sempre que quiser, vou te colocando a par”. Moro volta a se manifestar: “Agradeço se me manter informado.Sou contra, como sabe”. De acordo com a revista Veja, o juiz não pode opinar em negociação com delatores, função exclusiva do Ministério Público.
Também foram revelados nos diálogos que Moro alertou os procuradores sobre falta de informações em denúncia de um réu; que ele orientou até mesmo a Polícia Federal sobre provas apreendidas em ações de busca e apreensão; que cobrou manifestação do MPF a respeito de uma habeas-corpus impetrado pela Odebrecht, além de sugerir data de operações à PF.