Um estudo conduzido pelo Projeto Saúde Urbana na América Latina (Salurbal-Clima) projeta que as mortes causadas por calor extremo na América Latina devem ser duas vezes maiores até 2050, mesmo sob cenários moderados de combate às mudanças climáticas.
Atualmente, estima-se que 0,67% de todas as mortes nos países latino-americanos entre 2002 e 2015 já se relacionam às altas temperaturas. De acordo com o estudo, entre 2045 e 2050, o número deve mais que dobrar, chegando a 2,06% de mortes causadas pelo calor.
A análise considera três fatores principais: temperaturas urbanas, vulnerabilidade populacional (especialmente entre idosos) e transformações demográficas ao longo do tempo e reúne pesquisadores de instituições de nove países da América Latina com a participação da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e dos Estados Unidos.
O estudo também alerta que o envelhecimento populacional, aliado à urbanização rápida e às desigualdades sociais, pode fazer com que o impacto de calor extremo se intensifique nas próximas décadas, especialmente em bairros menos favorecidos, com menos números de árvores, pouca ventilação e residencialidade exposta ao sol.
Outro ponto destacado foi o impacto do calor em áreas periféricas e densamente povoadas.
“Quem vive em áreas periféricas, em moradias precárias e sem acesso a ar-condicionado e espaços verdes terá mais dificuldade para enfrentar ondas de calor cada vez mais intensas. É a injustiça climática. Não temos a estimativa de quanto essa parcela vai aumentar ou diminuir, apenas esperamos que a desigualdade social diminua”, explica o professor Nelson Gouveia, titular do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP.
O pesquisador ressalta, também, que o calor intenso intensifica o risco de infartos, insuficiência cardíaca e mais complicações, especialmente em pessoas com doenças crônicas, atingindo, principalmente, idosos e crianças.
“Quanto mais conseguirmos diminuir a emissão de gases de efeito estufa, a queima de combustíveis fósseis, de modo geral, menor será o impacto climático. Então, a perspectiva no futuro pode ser um pouco melhor, mas é preciso um esforço bastante grande e imediato. Temos que começar a agir hoje pensando no futuro. Nossos filhos e netos é que vão viver aqui em 2054”, afirma.
Calor em MS
Mato Grosso do Sul já vive episódios que ilustram o futuro previsto. Ondas de calor vêm atingindo o Estado, com temperaturas ultrapassando os 40ºC.
Neste ano, os municípios sul-mato-grossenses lideraram o ranking entre as cidades mais quentes do País durante semanas. Entre as temperaturas, Aquidauana registrou 41,2ºC no mês de setembro com sensação térmica de 46ºC; Água Porto Murtinho marcou 40,2ºC e Coxim chegou a 39,7ºC.
Além disso, cidades como Amambai, Ponta Porã, Três Lagoas e Bataguassu registraram níveis críticos de umidade relativa do ar, entre 8% e 15%, considerado extremamente perigoso para a saúde.
De acordo com o diretor-geral do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, Paulo Eduardo Limberger, as consequências das altas temperaturas aliada ao sol forte podem ser diversas. Entre os principais riscos estão:
- Condições extremas de exaustão pelo calor, insolação e cãibras de calor. A insolação, em particular, é uma emergência médica que, se não for atendida imediatamente, pode ser fatal.
- Agravamento de condições crônicas, já que as altas temperaturas podem desencadear doenças cardiovasculares, respiratórias e renais. O número de internações por falência renal e infecções do trato urinário são significativamente maiores durante ondas de calor, mostram estudos.
- Efeitos na pele e nos olhos, que podem ser desencadeados em câncer de pele com a exposição prolongada ao sol, assim como o desenvolvimento de catarata ocular e degeneração macular.
Em 2023, um homem de 54 anos morreu enquanto capinava um lote na cidade de Bataguassu, a 330 quilômetros de Campo Grande. De acordo com o boletim de ocorrência, o homem teve um mal-súbito. As temperaturas marcavam 37ºC quando os bombeiros foram acionados.
O homem foi levado para a Santa Casa para ser examinado. Na declaração de óbito, o médico responsável pelo atendimento informou que a causa da morte foi um infarto causado por hipertensão arterial sistemática, ou seja, um aumento abrupto da pressão arterial, podendo ter sido causado devido o extremo da temperatura.
Cuidados
Entre as medidas básicas para manter a saúde em dia, especialmente em dias de calor intenso, estão:
- Beber muito líquido, especialmente água, mantendo o corpo sempre hidratado e em temperatura normal;
- Vestir roupas leves, folgada e de cores claras, que ajudam na ventilação e evitam o acúmulo de calor, além de utilizar cobertura como chapéus ou sombrinhas em áreas externas;
- Ficar em ambientes com ventilação adequada ou ar-condicionado sempre que possível. Usar umidificadores de ar ou métodos caseiros, como toalhas úmidas para melhorar a umidade interna do ar;
- Aplicar hidratantes corporais e protetores labiais para evitar o ressecamento da pele e rachaduras nos lábios. Se preciso, utilize colírios lubrificantes para os olhos.
- Evite exposição direta ao sol e esforços físicos nos horários mais quentes e secos do dia, que são entre as 11 horas da manhã e as 15 horas.
* Com informações da Folha de S. Paulo


