Cidades

INFÂNCIA APRISIONADA

Nas celas, pequenos 'condenados' pagam pelo 'crime' de serem filhos

Nas celas, pequenos 'condenados' pagam pelo 'crime' de serem filhos

VIVIANNE NUNES

14/02/2011 - 16h15
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“Eu peço perdão pra ela todos os dias por estar nesse lugar. Fui eu que errei, não foi ela”. O desabafo é de uma mulher de 32 anos, pele negra, olhar cansado e um coração que parece tentar reaver tudo o que perdeu. Neste “tudo”, duas filhas de cinco e doze anos. Ela está detida no presídio Irmã Irma Zorzi em Campo Grande, há onze meses. A filha caçula nasceu praticamente no cárcere: saiu do hospital para a cela. Prematura, a pequena já passou por três pneumonias e esteve internada por quatro vezes. Ela tem dificuldades respiratórias devido a uma doença. “Ela tem refluxo  e ainda não sabemos se vai precisar passar por uma cirurgia”, afirmou a mãe.


“Eu peço perdão pra ela todos os dias por estar nesse lugar. Fui eu que errei, não foi ela”

A unidade prisional feminina da Capital possui alojamentos especiais para gestantes e mães e uma creche onde ficam os bebês. A diretora do presídio, Dalma Fernandes de Oliveira, explica que são sete crianças com as mães e seis mulheres gestantes. A maioria delas, presa pelo mesmo motivo: tráfico de drogas. Muitas foram levadas ao crime pelos maridos, namorados, companheiros. Outras narram histórias de solidão e desespero que as levou ao mundo do crime e lhes tirou a liberdade. Na teoria, os bebês poderiam ficar apenas seis meses na unidade junto da mãe, mas a diretora relata que alguns acabam passando do tempo. “Faço um comparativo da pena e os bebês que não têm para onde ir acabam ficando mais um tempo na creche”, afirmou. Não fosse isso, as crianças seriam levadas à abrigos e quem sabe até à adoção.

No local com capacidade para 231 pessoas, pouco mais de 300 estão detidas. “A maioria, 85%, pelo artigo 33 [tráfico de drogas]”, explicou. As celas das mães e gestantes são separadas das demais internas por questão de segurança.

Lição de vida

A mulher a quem vamos chamar de Maria nesta reportagem, morava em São Paulo com o pai, a mãe, duas filhas e o marido. Foi pelo MSN [ferramenta de conversa online] que ela conheceu a pessoa que lhe prometeu “tirar do sufoco”. Ela foi contratada para transportar 12 quilos de maconha até Campo Grande, serviço pela qual receberia a quantia referente a R$ 1 mil. Ela foi flagrada pela polícia durante abordagem feita ainda no ônibus de viagem. Foi essa a primeira vez em que esteve presa, mas cumpriu apenas quatro meses da pena e foi posta em liberdade provisória. “Com isso eu não podia sair da cidade, não tinha família aqui, não tinha nenhum parente e fui morar com uma amiga”. Ela não quis comentar sobre a tal amizade mas relata que neste período o marido esteve na cidade. Maria foi presa a segunda vez na casa da tal amiga. “A polícia invadiu a casa dela e tinha droga lá. O marido dela estava em quebra de colônia. Para todos os efeitos a droga era minha”, conta a mulher.

Presa pela segunda vez Maria se viu grávida, mas soube apenas depois de cinco meses de gestação. “Fiz um preventivo e fui saber que estava grávida aqui no presídio, aí me mudaram do pavilhão”, relatou. Foi neste momento que o marido de Maria resolveu se separar dela e voltou para São Paulo. Ela não recebe visitas porque a família mora em outro Estado, mas a direção do presídio já entrou com pedido para que ela cumpra a medida domiciliar porque a filha tem problemas de saúde. A intenção é que, com isso, a família possa vir morar em Campo Grande e enfim conhecer a bebê e poder ajudar a filha.

Planos para o futuro: “Mundo do crime nunca mais!”


“Só penso em mudança. Quando eu sair daqui só quero terminar o tratamento dela. Mundo do crime nunca mais”


Maria tem segundo grau completo e diz que pretende se dedicar à filha quando deixar o presídio. “A primeira cadeia que eu 'tirei' foi 'fofa' [na gíria das presas, foi tranquila]. Mas tudo o que estou passando com a minha filha tem me servido de muita coisa. Ela tem cinco meses e já ficou internada várias vezes. Eu peço perdão pra ela todos os dias por estar neste lugar. Só penso em mudança. Quando eu sair daqui só quero terminar o tratamento dela. Mundo do crime nunca mais”, afirmou. Ela também lembra do tempo que está perdendo com as duas filhas sendo criadas pelos avós. “A de cinco está indo pra escola pela primeira vez e eu estou perdendo tudo isso lá fora”, lamentou. Na família de Maria, ninguém conhece a pequena que nasceu e todos querem ajuda-la.

O filho de Ana [nome fictício], 27 anos, tem apenas dois meses de idade. Ela foi presa aos oito meses de gestação e conta que estava totalmente deprimida quando resolver entrar para o mundo do tráfico vendendo porções de pasta base de cocaína a R$ 10. “Eu não conhecia o homem que me ofereceu. Estava sentada em frente à minha casa e chorava muito quando ele me questionou. Falei que estava com dois meses de aluguel em atraso e ele me ofereceu a droga. Eu aceitei”. Ela ainda não foi ouvida pelo juiz e tão pouco sentenciada. O marido, com quem teve dois filhos, também está preso. “Estava preso antes de eu entrar no tráfico”, afirmou. “Ele ta na Máxima, preso pelo artigo 57 [furto] e também por estar foragido da Colônia Penal”, lembrou. “Minha intenção era só pagar o aluguel”, concluiu.

“Já cheguei a analisar tudo sim e eu sei que errei. 'Tô disposta a pagar, mas também estou tentando melhorar, 'tô estudando aqui dentro para sair e arrumar um serviço bom. O que eu estou passando aqui não paga a saudade que sinto das minhas filhas que estão la fora”, argumentou. Ana avalia a situação em que vive como sendo constrangedora. “Mas ele vai ficar bem, eu não abro mão dele de jeito nenhum”, afirmou a mãe

  
“Ele vai ficar bem. Eu não abro mão dele de jeito nenhum”

Trabalho com responsabilidade

Na creche, os filhos de Maria, Ana e de outras cinco mães, ficam na responsabilidade das outras detentas que trabalham na ala. “Elas são muito cuidadosas e por ser uma bebê com problemas de saúde, a atenção é redobrada com ela”, afirmou Maria. As mulheres escaladas para trabalhar na creche do presídio passam por avaliação psicológica antes de assumir a responsabilidade. Elas passam o dia no trabalho e as mães assumem o turno a partir das 17h levando as crianças para as celas.

Joana [nome fictício], 26 anos, está presa há onze meses e há quatro cuidando das crianças na creche do presídio. Ela conta que o marido, com quem estava casada desde os 17 anos, foi preso por tráfico de drogas. Eles se separaram e ela acabou se envolvendo com outra pessoa. Ana foi presa em casa onde um amigo do casal vindo de Goiânia havia deixado 260 gramas de “óleo”. “Óleo?” questionou a reportagem. “Sim, pasta base”, explicou. Olhos verdes, cabelo escuro, maquiagem discreta, sobrancelha impecável. A jovem em questão foi miss no concurso do ano passado dentro do sistema penitenciário. “O trabalho é bom porque nos ocupa. Quando a gente vem trabalhar aqui nem parece que estamos presas. Parece que vamos sair daqui e ir para casa. É uma experiência boa nos faz repensar na vida dos nossos filhos”, afirmou.


Doações

A sala dos bebês possui berços, carrinhos e todo o espaço elaborado exclusivamente para receber as crianças. É bem ventilado e higienizado. Materiais de higienização do local e gêneros alimentícios chegam ao local através de convênio com o governo do Estado. Todos os outros materiais como roupas de cama, roupas dos bebês, fraldas, colchões, são doados. “Eu mesma trago uma coisa ou outra de vez em quando”, diz a diretora do presídio. Os interessados em fazer doações podem entrar em contato direto com a creche pelo telefone 3901-1336 ou na Assistência Social pelos telefones 3901-1338 ou 3901-1333.

  

Dalma Fernandes de Oliveira é diretora do presídio Feminino Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande

Fotos: Bruno Henrique

Reportagem publicada às 9h
 

Investigação

Defesa de Braga Netto ressalta lealdade do general a Bolsonaro

Nota diz que nunca houve plano de assassinar alguém

23/11/2024 21h00

 Bolsonaro e Braga Netto,

Bolsonaro e Braga Netto, Agência Brasil

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A defesa de Walter Souza Braga Netto, general da reserva do Exército, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro, divulgou nota neste sábado (23) dizendo que o general mantém lealdade ao ex-presidente da República. "Durante o governo passado foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022 e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis.”

Os advogados Luís Henrique César Prata, Gabriella Leonel Venâncio e Francisco Eslei de Lima, do escritório Prata Advocacia (sediado em Brasília), assinam a nota de Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente da chapa de Bolsonaro, derrotada nas eleições de outubro de 2022.

Braga Netto é um dos 37 indiciados na última quinta-feira (21) pela Polícia Federal no inquérito sobre “associação criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito e golpe de Estado". A PF apurou que uma das reuniões para tratar de suposto plano golpista para impedir a posse e matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes (STF) teria sido realizada na casa de Braga Netto em novembro de 2022.

Ao postar a nota em perfil na rede social X, Braga Netto afirma que “nunca se tratou de golpe, e muito menos de plano de assinar alguém. Agora parte da imprensa surge com essa tese fantasiosa e absurda de ‘golpe dentro do golpe’. Haja criatividade...”

No dia do indiciamento, a defesa de Braga Netto reclamou da falta de acesso ao relatório entregue pela Polícia Federal ao ministro Alexandre de Moraes e criticou o vazamento de informações do documento pela imprensa.

Leia a seguir a íntegra da nota:

A Defesa técnica do General Walter Souza Braga Netto repudia veementemente a criação de uma tese fantasiosa e absurda em parte da imprensa de que haveria "um golpe dentro do golpe".

Apesar do silêncio de muitos setores institucionais da nossa sociedade, o General Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, General de Exército que comandou tropas do Comando Militar do Leste no RJ, a inédita Intervenção Federal na área de Segurança Pública no Estado do RJ e foi Chefe do Estado-Maior do Exército destaca que ao longo de sua trajetória, sempre primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais.

Lembra, ainda que, durante o governo passado foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao Presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022 e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis.

A defesa do General Braga Netto acredita que a observância dos ritos do devido processo legal elucidarão a verdade dos fatos e as responsabilidades de cada ente envolvido nos referidos inquéritos, por suas ações e omissões.

Por fim, é vital levantar a questão a quem interessa este tipo de ilação e suposição fora do contexto do inquérito legal, que ainda não foi disponibilizado oficialmente para as defesas dos interessados.

Educação

Enade: inscritos devem responder questionários até 23h59 de hoje

Exame teórico será aplicado neste domingo

23/11/2024 20h00

Estudante com prova do Enade

Estudante com prova do Enade Foto: UFT/Divulgação

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Os estudantes que farão o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2024 das Licenciaturas neste domingo (24) devem responder ao Questionário do Estudante até as 23h59 (horário de Brasília) deste sábado (23).

A prova teórica será aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para 283.550 inscritos.

O questionário do Estudante coleta informações que permitam caracterizar o perfil dos estudantes e o contexto de sua formação acadêmica, consideradas pelo Inep como relevantes para a compreensão dos resultados teóricos e práticos dos estudantes no Enade e para subsidiar os processos de avaliação dos cursos de graduação.

O preenchimento completo do Questionário do Estudante é um dos itens que caracteriza a efetiva participação do estudante no exame.

Anualmente, a inscrição no Enade é obrigatória para todos os estudantes de cursos de licenciatura habilitados à avaliação teórica ou à avaliação prática, vinculados às áreas avaliadas, conforme o edital.

A partir desta edição, o exame passa a ter dois tipos de avaliação: a teórica, tradicionalmente realizada, e a nova prova prática dos estudantes de graduações direcionadas à docência.

Cada uma das avaliações terá um cronograma específico.

Áreas de conhecimento avaliadas

O exame das licenciaturas será aplicado em cursos de 17 áreas de conhecimento diferentes. A edição de 2024 avaliará licenciaturas das áreas de artes visuais; ciências biológicas; ciências sociais; computação; educação física; filosofia; física; geografia; história; letras (inglês); letras (português); letras (português e espanhol); letras (português e inglês); matemática; música; pedagogia e química.

O exame terá foco na avaliação dos cursos que formam professores para a educação básica. O Inep informa que o objetivo é aprimorar as avaliações e a formação de docentes no Brasil.

Aplicação da prova
Para saber o local de aplicação da prova, bem como obter informação sobre atendimento especializado e tratamento pelo nome social, quando for o caso, o participante deve acessar o Cartão de Confirmação de Inscrição, disponível no Sistema Enade, com CPF . O acesso ao documento só é liberado após o preenchimento do Questionário do Estudante.

Neste domingo, os portões de acesso aos locais de provas serão abertos às 12h (horário de Brasília) e fechados às 13h. O início da aplicação será às 13h30, com encerramento às 18h para os participantes regulares. Os estudantes que solicitaram tempo adicional e tiveram o pedido aprovado pelo Inep terão mais uma hora para finalizar a prova.

Orientações para o Enade 2024

Neste domingo, o participante deverá comparecer ao local das provas com caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente, Cartão de Confirmação de Inscrição e documento de identidade original com foto válido.

Antes da participação na prova, é importante que o inscrito guarde, no envelope porta-objetos, o telefone celular e quaisquer outros aparelhos eletrônicos desligados, além de óculos escuros e artigos de chapelaria (boné, chapéu, gorro ou similares), e material de papelaria (caneta de material não transparente, lápis, réguas e borracha, entre outros).

Também não é permitido ficar com celulares e quaisquer outros aparelhos eletrônicos descritos no edital ou fone de ouvido.

O envelope porta-objetos deve ser mantido, durante todo o período de prova, debaixo da carteira, lacrado e identificado.

Enade

Realizado anualmente pelo Inep, o Enade é um dos componentes do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

O exame avalia o rendimento dos concluintes dos cursos de graduação em relação aos conteúdos previstos nas diretrizes curriculares, o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias para formação geral e profissional, bem como o nível de atualização dos estudantes com relação à realidade brasileira e mundial.

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