No pouco tempo que viveu, a menina de dois anos, que morreu na noite desta quinta-feira (26), em decorrência de sofrer maus-tratos por parte da mãe e do padrasto, deu pelo menos 30 entradas em diversos hospitais de Campo Grande, o que já seria um sinal evidente de que a criança poderia estar vivendo em situações degradantes.
Ao Correio do Estado, o médico pediatra, Alberto Costa, aponta que a quantidade de vezes os pais terem levado a criança 30 vezes aos hospitais dentro de 24 meses é “fora do normal”, especialmente porque a menina não apresentava qualquer tipo de doença grave que exigisse acompanhamento médico constante.
“Esse número de atendimentos médicos que essa criança recebeu está anormal, principalmente para quem não tinha nenhuma doença grave”.
Conforme explicado pela titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), Anne Karine Trevisan, em uma dessas idas ao médico, foi constatado que a menina tinha fraturado a tíbia, osso da perna que faz parte do joelho.
Já de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), outra entrada, em outubro de 2022, foi em decorrência de um quadro de vômito. A pasta não informou detalhes desta consulta ou de qualquer outro atendimento de urgência e emergência pelo qual a vítima passou.
Ainda de acordo com o pediatra, a quantidade de vezes que a criança esteve no médico já era um sinal de que a criança estaria sendo violentada, já que as passagens por médicos e setores de urgência tinham uma frequência que não é normal para uma criança saudável.
Costa ainda destaca que nos casos em que o médico desconfia ou até mesmo constata, por meio de aspectos físicos, que a criança está sofrendo maus-tratos, a atitude mais acertada é acionar a Justiça para que as medidas cabíveis sejam tomadas.
Neste caso em específico, a Sesau afirmou ao Correio do Estado que a equipe da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no qual a criança deu entrada já sem vida, seguiu todos os procedimentos que eram de competência da unidade de saúde.
Por fim, a Sesau não explicou porque o compilado de atendimentos médicos feito à criança não foi analisado, resultando em ações que poderiam ter colocado ela em proteção.
VIOLÊNCIA
Os pais da criança são separados e, ao notar que a menina estava com hematomas e outros sinais de maus-tratos quando a visitava, o pai registrou boletim de ocorrência por suspeita de que sua filha estava sendo violentada.
Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (27), a delegada da Depca, também explicou que, quando morreu, a criança apresentava sinais de que pode ter sido abusada sexualmente, mas apenas um exame necroscópico pode confirmar a violência sexual.
A mãe, de 25 anos, foi levada para a Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) para prestar esclarecimentos. À polícia, a mãe confirmou que a menina sofria agressões por parte dela e do padrasto, de 24 anos, como forma de corrigir o comportamento da menina.
Ainda em seu depoimento, a mulher afirmou que desconfiava de que o marido abusava sexualmente da menina, mas nunca denunciou porque o homem ameaçava tirar a guarda do outro filho, de um ano ano.
"Foi o que ela afirmou, nós não sabemos se realmente era isso que acontecia, nós temos muitas outras pessoas para serem ouvidas nesse inquérito", ressaltou Anne Karine.
Na tarde desta sexta-feira (27), os dois tiveram a prisão convertida em preventiva e devem seguir presos.



