Levantamento veio a público no dia em que foi confirmada a morte da mulher trans atacada domingo em Campo Grande
No dia em que foi confirmada a morte de Pâmela Mirela, de 31 anos, mulher transexual que teve 90% do corpo queimado em incêndio criminoso no domingo, veio a público um estudo mostrando que 105 pessoas transexuais foram mortas no país em 2024.
Os dado é do registro nacional realizado pela Rede Trans Brasil. O número de homicídios representa queda de 12% em relação ao levantado em 2023, quando houve 119.
Mesmo com a diminuição, o Brasil segue sendo o país que mais mata trans desde 2008, segundo o Trans Murder Monitoring, parceria global de monitoramento de assassinatos de membros da comunidade. Dos 350 casos reportados no mundo, 30% foram em solo nacional.
Segundo o levantamento da Rede Trans Brasil, a região Nordeste lidera no total de vítimas, com 40. Em seguida, vêm Sudeste, com 35, Centro-oeste, com 14, Norte, com 10, o Sul, com 5, e o Distrito Federal, com 1.
Para catalogar os casos, a Rede Trans Brasil recolhe as mortes divulgados pelos meios de comunicação e as denunciadas à própria organização. Desde o início do monitoramento, em 2016, já foram registrados 1.181 assassinatos de pessoas trans.
Segundo último levantamento do Observatório de Mortes e Violência LGBTI+, de 2023, a cada 38 horas uma pessoa da comunidade morria violentamente no país.
Pâmela
A confusão que culminou com a morte de Pâmela Mirela começou na noite de sábado (18), quando ela estava em uma boate, frequentada por garotas de programa. Ela se envolveu em uma briga com outras mulheres trans, identificadas como “Baby” e “Yara”. A confusão se deu por conta de serviços de prostituição e programas sexuais que elas praticam.
Como vingança, “Baby” e “Yara” foram até a Vila Carvalho, onde Pâmela mora, para “acertar as contas”, na manhã de domingo (19).
Em posse de galão de gasolina e isqueiro, despejaram o líquido por debaixo das portas e pelas frestas do muro, atearam fogo no local e foram embora.
O fogo se alastrou rapidamente pela residência e Pâmela, que estava dentro de casa, sofreu queimaduras graves, tendo 90% do corpo atingido.
O vizinho, que estava na frente da casa, viu as autoras ateando fogo contra a casa da transexual, pegou o extintor de incêndio de sua casa e de seu carro para socorrer a vítima e acionou o Corpo de Bombeiros. Neste momento, as duas viram que a vítima estava sendo socorrida e tentaram esfaqueá-la, mas o vizinho não permitiu e saíram correndo.
As duas acabaram sendo presas na segunda-feira (20). Elas estavam em uma pensão para transexuais no bairro Amambaí.
Pâmela foi socorrida e levada à Santa Casa, onde acabou morrendo cerca de 48 horas depois de sofrer o ataque.