Em 17 de setembro de 2024 o deputado João Henrique Catan (PL-MS) subiu na tribuna da Assembleia Legislativa para fazer uma série de elogios à empresa Prevident. Um ano depois, nesta sexta-feira, 12 de setembro de 2025, a Polícia Federal prendeu o empresário Maurício Camisotti, apontado como proprietário desta Prevident.
Ele foi preso por ser um dos principais responsáveis pelos desvios da ordem de R$ 6 bilhões de aposentados e pensionistas do INSS entre 2019 e 2024.
Além de Maurício Camisotti, a Operação Cambota levou à prisão Antônio Carlos Camilo Antunes, o "Careca do INSS". Na casa dos investigados foram apreendidos uma Ferrari, uma réplica de um carro de Fórmula 1, além de relógios e dinheiro em espécie.
A ação é desdobramento da Operação Sem Desconto, realizada em abril deste ano. Além dos dois mandados de prisão preventiva, a PF cumpriu nesta sexta-feira 13 mandados de busca e apreensão no estado de São Paulo e no Distrito Federal.
Segundo a PF, a ação apura os crimes de impedimento ou embaraço de investigação de organização criminosa, dilapidação e ocultação de patrimônio, além da possível obstrução da investigação.
Ao assumir a tribuna há exatamente um ano, o deputado Catan afirmou que “a empresa Prevident é uma empresa séria, tem mais de 37 anos no mercado, 20 mil dentistas, um milhão de duzentos mil usuários e beneficiários suspendeu todos os atendimentos, inclusive dentro da rede Cassems…”
Na época, ele defendia a criação de uma CPI para investigar a Cassems, instituição com dez hospitais em Campo Grande e nas nove maiores cidades do interior.
O que o deputado bolsonarista possivelmente não esperava é que a Prevident, segundo ele uma “empresa séria”, viria a ser pivô de um escândalo gigantesco. O controlador da Prevident, Maurício chegou a tomar, segundo estimativas da PF, R$ 56 milhões em um único mês dos aposentados.
A empresa da qual o deputado Catan se mostrava fã faz parte do grupo THG (Total Health Group), comandado por Maurício Camisotti. E, segundo a investigação da Polícia Federal, o empresário comandava, indiretamente, três entidades que juntas foram responsáveis pelo maior desconto de aposentados ao longo do ano passado.
As três associações juntas respondem por 17,3% dos descontos estimados de 2024, somando R$ 456,5 milhões. Assim, superaram a campeã oficial em descontos, que é a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), com R$ 435 milhões.
Os elogios de Catan à Prevident ocorreram sete meses depois de o site de notícias Metrópoles ter iniciado uma série de denúncias sobre descontos irregulares de aposentados e que acabaram levando a Controladoria Geral da União e a Polícia Federal a desencadearem a operação Sem Desconto. As reportagens já citavam o envolvimento dos proprietários da Prevident no esquema.
No pronunciamento, Catan questionava a contratação da empresa Suda Odonto, que segundo ele estava impedida pela Agência Nacional de Saúde (ANS) de comercializar planos desde setembro desde 2022 e mesmo assim foi contratada pela Cassems. Por conta disso, a Prevident, de Maurício Camisotti, acabou rompendo com a Cassems.
AMBEC
Entre as principais entidades que conseguiram tomar dinheiro dos aposentados no ano passado está a Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos). Ela foi a terceira entidade que mais descontou valores em 2024.
Ela é investigada por ser controlada por “laranjas” ligados a Mauricio Camisotti. Foi fundada em 2006, e até fevereiro do ano passado, quando denúncias sobre descontos ilegais feitas pela associação foram publicadas no portal de notícias Metrópoles, ela era presidida por Maria Inês Batista de Almeida, ex-auxiliar de dentista que trabalhou nas empresas Brazil Dental e Prevident, ambas do grupo THG (Total Health Group), de Camisotti.
CARECA
O inquérito também cita que Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, seria procurador legal da Ambec. A PF caracteriza o “Careca do INSS” como figura central no esquema investigado, como um lobista que representava as associações junto ao INSS, cooptando funcionários públicos para liberar os descontos milionários.
Ainda de acordo com a PF, o empresário Maurício Camisotti usou sua corretora de seguros, chamada Benfix, para pagar R$ 1 milhão à empresa de consultoria do “Careca do INSS”.
Ele era procurador com "total poderes" da Ambec, cuja presidente, à época, tinha 69 anos e era "aposentada por incapacidade permanente desde 2008". No período investigado, a Polícia Federal identificou que a associação enviou R$ 11 milhões para uma das empresas do “Careca”.
Do momento em que Antunes assumiu como procurador da associação até agora, a Ambec recebeu mais de R$ 492 milhões a partir de descontos realizados nas aposentadorias de idosos e pensionistas.
Em maio, depois da eclosão do esquema de fraudes no INSS, a reportagem do Correio do Estado procurou o deputado para tentar falar sobre seus comentários feitos na tribuna e ele enviou nota dizendo que “qualquer ilegalidade tem que ser investigada e apurada! Não tenho ligação e nem conhecimento com a empresa”
Veja o vídeo




