Dilfa Almeida de Albuquerque Proença, de 74 anos, está internada há 6 dias na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leblon, aguardando por uma vaga em hospital.
Seus sintomas são tosse com sangue, febre, anemia e perda de apetite. Um exame de endoscopia, realizado na rede particular, apontou que há sangue nas vias respiratórias da idosa.
Conforme apurado pela reportagem, ela deu entrada na UPA Leblon na manhã de segunda-feira (6), tossindo ‘bolas’ de sangue. No local, passou por exames de raio X no pulmão que indicaram que o lado direito estava limpo, mas que o lado esquerdo estava escuro, com uma ‘massa’.
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De acordo com o médico, o estado é grave, requer cuidados e transferência para hospital urgentemente, para realização de exames de alta complexidade.
“O médico que pediu o raio X explicou que é necessário fazer uma tomografia para saber exatamente o que seria essa massa, mas como na UPA não há esse tipo de exame, apenas em um hospital ela conseguiria ter esses cuidados. A vaga foi solicitada assim que ela chegou, mas ainda não houve retorno”, explicou o familiar.
Na quarta-feira (8), a família entrou com um processo na Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul para conseguir uma vaga em caráter de urgência para dona Dilfa. No mesmo dia, o juiz deferiu e mandou a Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG) conceder a vaga em até 72 horas, prazo que acabou neste sábado (11).
Mas, neste domingo (12), a idosa permanece internada aguardando a vaga. Ou seja, a prefeitura descumpriu a ordem judicial.
Segundo a família, a tosse é persistente e dura há mais de um ano, o que seria um reflexo da Covid-19. Porém, a partir de semana passada, expele ‘bolas’ de sangue.
O Correio do Estado procurou a Prefeitura de Campo Grande, através do e-mail, para saber quando a vaga será liberada para a idosa. Mas, até o fechamento desta reportagem, não foi respondido. O espaço segue aberto para resposta.
CAOS
Campo Grande enfrenta crise na saúde pública há meses, na ala pediátrica e adulta. O caos está encancarado em:
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Superlotação: ultimamente, UPAs têm virado hospitais improvisados - pacientes esperam dias e dias internados em UPAs por uma vaga em hospital, o que gera superlotação e fila de pacientes para ser transferidos para hospitais
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Escassez de vagas em hospitais: hospitais estão superlotados, o que inviabiliza a chegada de pacientes que estão aguardando em UPAs
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Falta de infraestrutura: UPAs carecem de infraestrutura para realização de exames de alta complexidade como ressonância magnética, tomografia computadorizada, biópsias, endoscopias, hemodiálise, cateterismo, histeroscopia, entre outros. Esses tipos de exame só podem ser feitos em hospitais
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Falta de recursos: Santa Casa de Campo Grande está em déficit de R$ 45 milhões e cobra a Prefeitura Municipal de Campo Grande para que a instituição possa realizar o pagamento de dívidas milionárias como fornecedores, funcionários terceirizados e contas de energia. Na manhã desta sexta-feira (10), o hospital anunciou que foi à Justiça cobrar reajuste no contrato com a prefeitura, que está “congelado” desde 2023, o que impossibilita pagamento de dívidas milionárias, Atualmente os R$ 32,7 milhões da prefeitura não seriam suficiente para suportar a demanda da Santa Casa.
O município está sem secretário de Saúde há 37 dias, sendo a única pasta sem um nome para comandá-la. A última gestora da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) foi a médica Rosana Leite, exonerada do cargo em 5 de setembro de 2025.
Atualmente, quem comanda a Sesau é um comitê gestor formado por cinco membros: gestora coordenadora interina, Ivoni Kanaan Nabhan Pelegrinelli; gestora de planejamento e execução estratégia, Catiana Sabadin Zamarrenho; gestora jurídica Andréa Alves Ferreira Rocha; gestor de finanças e orçamento, Isaac José de Araújo; gestor administrativo Vanderlei Bispo de Oliveira e o gestor de contratação André de Moura Brandão.
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) deu 15 dias para a Prefeitura montar plano, reduzir escassez de leitos e apresentar uma solução para a saúde pública da Capital.
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) se reuniu, nesta quinta-feira (9), com os Executivos municipal e estadual para tratar da questão dos leitos na Capital.
Essa audiência foi proposta pelo órgão fiscalizador diante de ação civil pública movida desde 2014, que tem como objeto a “ampliação do número de leitos gerais (clínicos e cirúrgicos) e de UTI adulto e infantil na Capital, diante do deficit histórico de vagas hospitalares na rede pública e da consequente sobrecarga das unidades de urgência e emergência”.
Na audiência judicial foi decidido a suspensão do processo por 90 dias, justamente para as partes chegarem a um acordo. Com isso, o Município se comprometeu a apresentar, dentro de 45 dias, um levantamento atualizado da necessidade de leitos hospitalares e propostas de ações estruturantes para a diminuição da crise.
Além de diversas ações do MPMS, a Saúde de Campo Grande tem gerado mais trabalho ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS). No ano passado, foram 1.090 notas técnicas elaboradas pelo Núcleo de Apoio Técnico ao Judiciário (NatJus) envolvendo demandas por leitos hospitalares.
Já de janeiro a julho deste ano – cinco meses a menos do que o período analisado do ano passado – foram 1.114 notas técnicas. Porém, o que chama a atenção são os dados de pedidos de judicialização de agosto até agora: 435 em aproximadamente 70 dias (cerca de 6 pedidos por dia).
Em resumo, o Poder Judiciário registrou um aumento de 42% nas demandas recebidas acerca de leitos hospitalares de 2024 a este ano. Os dados foram fornecidos pelo Comitê Estadual de Mato Grosso do Sul do Fórum Nacional da Saúde do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
* Colaborou Felipe Machado




