A organização criminosa que atuava no jogo do bicho no interior de Mato Grosso do Sul e buscava dominar a contravenção também no Estado era muito bem estruturada e tinha uma cadeia clara de comando, de acordo com investigação do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS). Entre os membros presos durante a quarta fase da Operação Successione há um sargento da Polícia Militar, o primo de um megatraficante, políticos e empresários do Estado.
As investigações apontam que o grupo seria chefiado pelo deputado estadual Roberto Razuk Filho, o Neno Razuk, que teria seu pai ao lado, Roberto Razuk, além de seus dois irmãos, Rafael Godoy Razuk e Jorge Razuk Neto. Porém, além do núcleo principal desta organização voltada ao jogo do bicho, várias pessoas também atuavam com função de destaque.
Uma dessas pessoas era Jonathan Gimenez Grance, conhecido como Cabeça. Ele é primo de Jarvis Pavão e teria uma função importante também na organização criminosa do parente. Já no jogo do bicho, segundo consta na investigação, ele teria sido responsável por supervisionar os roubos feitos pela organização contra rivais, crime que ocorreu em 2023.
Na época, ele chegou a ser preso ao lado de Carlito Gonçalves Miranda em flagrante “na posse de várias armas e veículos blindados”.
“Além disso, apurou-se ser um dos responsáveis pela residência onde foram apreendidas as máquinas caça-níqueis, conforme informou Flávio Henrique Espíndola Figueiredo, além de orientar os integrantes da organização criminosa sobre como agir perante as autoridades durante as investigações dos roubos, objeto da Operação Successione”, afirma o MPMS.
A apreensão a que se refere o MPMS ocorreu em 2023, pouco antes da primeira fase da Successione. Na residência em questão, foram encontradas 700 maquininhas usadas no jogo do bicho.
Além de Cabeça, outro personagem também integrava o esquema do jogo do bicho, porém, de dentro da segurança pública. Esse era Anderson Lima Gonçalves, recentemente promovido para sargento da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul com um salário de R$ 11,4 mil por mês.
De acordo com investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o PM, “na condição de sargento da polícia militar lotado em Ponta Porã, tinha a função de divulgar informações sigilosas disponíveis em sistemas de informação restritos à segurança pública, tais como: Sigo, Infoseg, etc., mediante o recebimento de propina, para viabilizar as atividades ilícitas do grupo criminoso, como levantamento de dados da pessoa a ser vítima de extorsão do grupo”.
Além disso, o MPMS também diz que Anderson articulou a liberação de Celso Ramão Diaz de Lima, que teria sido preso na fronteira do Brasil com o Paraguai.
“Em favor do grupo, por determinação do gerente Gilberto Luis dos Santos, a quem [Anderson] era subordinado, sendo incumbido de negociar o abatimento no valor da propina para liberação pela polícia Paraguaia”, declara o Gaeco.
OUTROS ENVOLVIDOS
A investigação revelou que Rafael Razuk atuava como membro do núcleo principal e tinha poder de decisão. Ele chegou a questionar certas decisões do irmão Neno, que seria o principal chefe do grupo, chamando de “equivocadas e inoportunas”.
Já Jorge Razuk Neto era o gerente e articulador, focado na modernização da jogatina, sendo responsável pela idealização e execução do site Apponline, uma plataforma online para o jogo do bicho, expandindo o alcance do esquema para o nicho digital.
Segundo apurado, Jorge também era sócio de Sérgio Donizete Balthazar na empresa de fachada Criativa Technology Ltda. Os sócios também atuavam em atividades relacionadas à jogatina, sendo proprietários do domínio betmaiss.com.
Sérgio também atuava na função de transporte de máquinas caça-níqueis e depósito de quantias físicas sem indicação de origem em uma conta bancária e solicitação de cobrança de devedores com “graves ameaças”.
Outro preso foi Rhiad Abdulahad, filho de José Eduardo Abdulahad, o Zeizo, que o MPMS aponta que exercia uma posição de articulação e comando, usando sua condição de advogado para comandar as atividades da organização, tomar decisões sobre a expansão da jogatina e a implementação de novas frentes de atuação.


Segundo o documento, há R$ 6,5 milhões de tributos em atraso - Foto: Gerson Oliveira


