Maria Matheus
Depois de uma reunião tensa, com bate-boca e acusações, a Executiva do PTB aprovou, por nove votos a um, aliança com o governador André Puccinelli (PMDB) e anunciou apoio à candidatura de José Serra (PSDB) ao Palácio do Planalto. O presidente da sigla, Ivan Louzada, foi acusado por filiados insatisfeitos de barrar a discussão das propostas do PT, favorecendo apoio do PTB ao PMDB. Os dissidentes prometeram recorrer à Justiça e à direção nacional e ameaçam, inclusive, pedir desfiliação.
Sem ser convidados, petebistas que defendem coligação com o PT compareceram ontem pela manhã à sede do PTB e tentaram impedir a votação da cúpula do partido. O advogado Antônio Trindade, do PTB de Aquidauana, alegou a falta de legitimidade da executiva para decidir aliança.
Com base no artigo 32 do estatuto partidário, Trindade afirmou que indicativo de apoio só poderia ser definido em convenção. "A Comissão Executiva não tem esse poder de orientar. Ele teria de convocar uma convenção extraordinária ou então, esperar a convenção de junho", explicou. Louzada rebateu: "A executiva é soberana. Pode decidir e depois encaminhar ao diretório".
Os filiados também cobraram do presidente do PTB resposta às denúncias de que o governador André Puccinelli teria oferecido dinheiro ao partido para se aliar ao PMDB. A desconfiança vem do fato de a cúpula do PTB ter escolhido proposta para montar estrutura de campanha considerada inferior à apresentada pelo PT. "Por que escolher uma proposta que é mais fraca que a outra, se não for por vantagem financeira?", questionou o petebista Wilson Santos. Trindade admitiu, no entanto, não haver provas de que o apoio do partido tenha sido vendido.
Louzada sugeriu que as denúncias sejam apresentadas à Polícia Federal e ao Ministério Público. "Toda denúncia deve ser apurada, para que eles verifiquem se tem algo contra mim". Ele negou que Puccinelli tenha oferecido dinheiro. "Nem eu pedi", garantiu. "Nós queremos é fazer deputado estadual e federal", frisou.
"Milão"
Louzada disse não saber o que André Puccinelli quis dizer quando, na reunião com o PTB, semana passada, falou em "milão, milão, milão". "Ele é quem tem que responder isso", esquivou-se. Questionado, o presidente do PTB contou que no momento da declaração do governador, eles falavam de "estrutura de campanha".
"Ele não me chamou, não me deu esse ‘milão’. Se tivesse dado, seria até bom, eu teria colocado para todo mundo aí", ressaltou. "Eu quero estrutura de campanha, pode até me dar ‘milão, milão, milão’, mas para os candidatos, tudo através de recibo eleitoral, como doação de campanha", acrescentou.
Debandada
Os petebistas insatisfeitos planejam ingressar com representação contra a decisão da cúpula do partido na Justiça e na direção nacional. "Se o PTB não analisar de forma transparente essa proposta do PT, todas as grandes lideranças vão sair em bloco do partido", ameaçou Trindade. Ivan Louzada tratou a ameaça com indiferença. "Quem quiser sair, que saia", disse.
O suplente de senador, Antonio João Hugo Rodrigues, disse que vai aguardar os resultados da decisão judicial e administrativa. "Não tem como (as lideranças) saírem em debandada. Se eles vão tentar um remédio político e depois um administrativo, temos que esperar o resultado disso", comentou.
Depois da reunião, Louzada viajou a Brasília, onde participaria hoje do lançamento da pré-candidatura de Serra à Presidência da República e apresentaria a decisão da executiva regional ao presidente nacional, Roberto Jefferson.