Ao voltar de uma pauta, passando pelas proximidades da antiga Pedreira Nasser, no Bairro São Francisco, eu me deparei com uma cena interessante: uma rua transformada em um grande secador de arroz ao ar livre, com operários movimentando constantemente os grãos, sob o sol escaldante daquela tarde de 18 de março de 1976. O produto, depois de passar por aquele “processo”, era levado para a máquina beneficiadora e, a partir daí, chegava às mesas dos consumidores. A produção era alta no Estado, aproximando-se da estimativa, embora não uma superssafra.
“Bastou o início da colheita, na microrregião de Campo Grande, para que pelo menos uma rua da cidade e um pequeno beco fossem novamente transformados em ‘secadores’ de arroz e, a exemplo do que ocorre todos os anos, agora um pouco mais cedo que o normal”, informava a reportagem da edição do jornal Correio do Estado, de 19 de março de 1976. Entrevistei alguns dos trabalhadores, e um deles disse que “a rua com asfalto é o melhor secador do mundo”. Isto porque, conforme explicou, bastava que o produto fosse convenientemente espalhado para que o sol se encarregasse de tirar grande parte da umidade do grão, uma vez que o processo rudimentar de revolvimento fazia com que os de baixo passassem para cima e vice-versa.
A utilização da rua também tinha uma explicação: o baixo índice de circulação de veículos. Mas, conforme a reportagem, o local apresentava já “grandes manchas de terra e cascalho, o que tem atrapalhado um pouco os encarregados da secagem, que evitam os trechos mais sujos e varrem os mais limpos para o emparelhamento do arroz”.
O Correio do Estado informava, também, que a secagem na rua era um fato “mais do que normal” e, no caso, evidenciava não uma grande produção, mas “muito mais a falta de secadores, o que obriga os produtores a se utilizarem de todos os recursos para secar sua produção. Um simples olhar mostra que o arroz atualmente submetido ao processo de ‘secagem asfáltica’ é inferior ao do ano passado, com grãos menores e ainda com muita umidade”.
Quinze dias depois, a edição do dia 2 de abril trazia ampla reportagem sobre a produção de arroz na região sul do Mato Grosso (o estado não havia sido dividido). Informava que a colheita prosseguia normalmente e que, se a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretaria de Agricultura não fosse alcançada, ficaria muito próximo de que isso ocorresse, “apesar de todas as doenças, pragas e da estiagem verificada em algumas regiões”.
Houve um período de seca nos últimos dias de março daquele ano, o que ofereceu excelentes condições para as colheitas, fazendo com que as máquinas trabalhassem aceleradamente, enquanto, segundo a reportagem, em outras áreas de produção menores, os ceifadores também se empenhavam na colheita para aproveitar o período da estiagem.
“De um modo geral, já se pode dizer que a produção total de Mato Grosso atingirá de 30 milhões a 32 milhões de sacas, muito embora a Secretaria de Agricultura garanta que atingirá 35 milhões previstas em janeiro, com base no último levantamento das áreas fechadas. Para muitos produtores, as três pesadas – e gerais – chuvas da semana que passou foram altamente benéficas, melhorando as condições das áreas plantadas em dezembro e que estavam ameaçadas de prejuízos de monta, estimados em torno de 40% a 50%. As chuvas encontraram as plantas com os cachos ainda verdes e propícios à formação de grãos, aumentando consideravelmente a produtividade”, conforme trecho da reportagem.
Informava, ainda, que nos municípios de Terenos, Aquidauana, Jaraguari, Rochedo, Bandeirante, Camapuã e outros que integravam a microrregião de Campo Grande, “os depósitos reservados para as sacas de arroz estão sendo totalmente tomados, o mesmo acontecendo com os espaços das empresas beneficiadoras que, diante da oferta, compram o mais que podem e chegam até mesmo a formar estoques nas calçadas”.
Naquele ano, para se ter uma ideia, só a microrregião de Campo Grande (para efeito de previsão da safra, Mato Grosso foi dividido em sete) tinha uma projeção de 690 mil toneladas.
Uma foto, na capa, mostrava as sacas de arroz empilhadas na calçada de uma das beneficiadoras de Campo Grande: mesmo não sendo considerada uma
superssafra, a colheita prosseguia refletindo o potencial econômico do grão e tendo Campo Grande, a “Capital Econômica” do Estado de Mato Grosso, como um desses pilares.