Vivendo uma crise financeira nos últimos anos, a Santa Casa de Campo Grande decidiu suspender cirurgias em função do desabastecimento de insumos hospitalares que vem se agravando a meses.
Conforme a apuração do Correio do Estado, diversos equipamentos e medicamentos usados no dia a dia para o atendimento aos pacientes e no trabalho dos servidores do hospital estão em falta.
Entre os equipamentos estão desde os mais complexos – como órteses, próteses e materiais especiais (os chamados OPME) – até os mais básicos, como luvas, máscaras e capotes (aventais hospitalares), os quais são essenciais para garantir a segurança das cirurgias e estão em falta na Santa Casa.
Em razão da falta desses equipamentos, as cirurgias ortopédicas e as neurocirurgias que necessitem dos materiais de próteses, por exemplo, estão sendo suspensas no hospital, uma vez que a situação impossibilita qualquer realização minimamente adequada.
Medicamentos como antibióticos e anticoagulantes também enfrentam desabastecimento no hospital filantrópico. Até a nutrição parenteral, que é um tipo de alimentação especial oferecida para os pacientes, muitos deles recém-nascidos, está em falta.
Segundo o apurado, além da falta de insumos, alguns equipamentos presentes no hospital estão quebrados há meses, por conta de falta de manutenção. Um desses equipamentos é o broncoscópio, que é usado em cirurgias para a visualização do aparelho respiratório (traqueia, brônquios e pulmões).
Para informar a situação caótica que está vivendo, a Santa Casa de Campo Grande enviou um ofício neste mês para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e outras instituições de saúde, comunicando sobre a piora da situação crítica de desbastecimento de insumos essenciais para a assistência de pacientes.
Nesse documento, a Santa Casa solicita a transferência de pacientes internados para outros hospitais da cidade, a fim de assegurar o devido atendimento e a assistência adequada.
A preocupação com as transferências se deve a possíveis problemas internos que podem ter sido causados com a falta de insumos, como diversos riscos de contaminação e infecção nos pacientes e nos servidores.
Pacientes com patologias que são atendidos pelas especialidades do bucomaxilo (lesões na face), da ortopedia e da neurocirurgia já estão sendo orientados a não comparecer na unidade hospitalar, em virtude da falta de material para o correto atendimento.
Questionada pelo Correio do Estado sobre o desabastecimento de insumos, a Santa Casa de Campo Grande –até o fechamento desta reportagem – não se pronunciou. O espaço segue aberto.
SITUAÇÃO FINANCEIRA
Conforme já informado em reportagens do Correio do Estado, o hospital filantrópico vem fechando o balanço financeiro ano após ano no vermelho.
Com uma dívida acumulada de milhões de reais, a Santa Casa de Campo Grande, nos sete primeiros meses de 2023, teve um deficit muito semelhante ao registrado durante 2022.
De acordo com um documento de prestação de contas da entidade filantrópica publicado no Diário Oficial de Campo Grande (Diogrande), em 2022, faltou no caixa do hospital o total de R$ 103.386.469,00.
De janeiro até julho de 2023, o fluxo de caixa do hospital demonstrou um deficit operacional de R$ 101.681.114,18.
De acordo com informações da Câmara Municipal de Campo Grande, em 2024 e no começo deste ano, a Santa Casa vem tendo um deficit financeiro mensal de R$ 9 milhões.
Os problemas na superlotação e a falta de equipamentos vem sendo recorrentes principalmente no setor de neurocirurgia.
Em 2023, neurocirurgiões da Santa Casa de Campo Grande se reuniram com a diretoria do hospital e reivindicaram melhorias no setor, em razão da sobrecarga de trabalho.
A equipe de cirurgiões na época era formada por sete profissionais, e os médicos pediram a contratação de mais neurocirurgiões, além de requererem um reajuste contratual e uma aquisição de novos implementos e materiais para o setor, como insumos para as salas de operação.
REPASSES
Segundo informações divulgadas no Diogrande, a Prefeitura de Campo Grande vem transferindo R$ 1,9 milhão em recursos financeiros mensais para a Santa Casa.
No dia 29 de janeiro, um novo termo aditivo no convênio entre o hospital e o município foi celebrado no valor de R$ 5 milhões, com vigência de 60 dias.
Em setembro de 2024, o governo de Mato Grosso do Sul assinou um convênio de R$ 15 milhões com a Santa Casa de Campo Grande. No ano passado, a administração estadual repassou ao hospital cerca de R$ 83 milhões.
À época, R$ 9.047.314,70 mensais foram referentes ao repasse financeiro para custeio e manutenção de leitos UTI neonatal, assim como R$ 2 milhões em convênios e R$ 200 mil advindos de emendas parlamentares estaduais.
SAIBA
Setores atingidos mantém atendimentos
Apesar da suspensão de cirurgias, os setores de urgência e emergência seguem atendendo pacientes na Santa Casa.


