O trecho da BR-262 entre Miranda e Corumbá corta o Pantanal e o trânsito na região tem matado atropelado centenas de animais silvestres todos os meses. Para tentar reduzir essa mortalidade, sinalização específica para orientar motoristas e estudo sobre a movimentação da fauna passaram a acontecer a partir dessa sexta-feira (10).
A proposta é manter a sinalização por tempo indeterminado em sete áreas. Câmeras trap também foram instaladas para auxiliar na identificação de animais que utilizam trechos e servir para futuras pesquisas.

Essa ação foi implantada pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e tem o trabalho conjunto da Polícia Militar Ambiental (PMA) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). A Superintendência Regional de Mato Grosso do Sul do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) deu apoio na instalação dos oito bonecos de sinalização e vai auxiliar a manter limpo os trechos de ponte onde as câmeras traps foram instaladas.

O médico veterinário do IHP, Geovani Tonolli, pontua que os locais de alerta com a sinalização foram definidos com base na reincidência de atropelamentos. "O trabalho é para alertar pontos críticos. Colocamos manequins sinalizadores e o objetivo é que os motoristas que passam pela rodovia vejam a sinalização e diminuam a velocidade e fiquem atentos para evitar atropelamentos da vida silvestre. Escolhemos áreas onde identificamos que a fauna utiliza mais para cruzar a rodovia, onde estão mananciais de água", detalha.
Levantamento do IHP identificou que entre 2016 e janeiro de 2023, 17 onças-pintadas morreram vítimas de atropelamento na BR-262, nos 200km que separam Miranda e Corumbá. Na lista vermelha da União Nacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), a espécie é classificada como quase ameaçada. O caso mais recente ocorreu em 27 de janeiro deste ano.
O Sargento PMA Augusto Graça ressalta que diferentes espécies estão sendo vítimas dos atropelamentos. Além da sinalização, os motoristas precisam assumir uma consciência de conservação. "Infelizmente tivemos registro de morte de onça-pintada, antas, tamanduás e muitos outros. As câmeras instaladas embaixo das pontes nesse trecho entre Miranda e Corumbá ainda vão nos auxiliar a identificar que animais passam nessas áreas. Queremos diminuir os atropelamentos e também precisamos conscientizar os cidadãos que utilizam a rodovia para ter atenção", indica o sargento. O cabo PMA Luiz Henrique também participou da instalação dos equipamentos.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) integra a iniciativa e está realizando orientações regulares na base instalada em Miranda. Também há equipe que percorre a rodovia, entre Aquidauana e Corumbá, para sinalizar possíveis animais na rodovia e tentar tirá-los da pista.
Já o monitoramento com as câmeras trap servem para averiguar o comportamento da fauna em diferentes pontos. Existem cerca de 60 pontes na rodovia que podem servir de corredor para a fauna utilizar em detrimento da pista de rodagem e estudos devem ser realizados para averiguar a viabilidade desse sistema. "Um dos locais escolhidos, por exemplo, foi identificado porque notamos que o local é passagem de animais silvestres. Encontramos ali pegadas frescas, o que mostra que esses animais estão utilizando esse local. Notamos também uma trilha onde eles estão transitando. Encontramos pegadas de anta, veado, quati. As câmeras, agora, vão ajudar nesse monitoramento da fauna pantaneira que usa essas pontes como passagem", explica a médica veterinária do IHP, Mariana Queiróz.
As ações implantadas agora em março começaram a ser discutidas mês passado, depois de reunião entre o IHP, a PMA e a PRF. As chuvas mais constantes e aumento de áreas alagadas tendem a gerar maior movimentação de animais silvestres na BR-262, que corta o meio do Pantanal, em Mato Grosso do Sul.


