Em 2018, a Prefeitura de Campo Grande deu início a um dos maiores projetos de revitalização e intervenção urbana já realizados na Capital. Foram cinco anos de obras, que envolveram a instalação de fiação subterrânea, trazendo limpeza à paisagem, ampliação de 35 quilômetros de calçadas acessíveis, iluminação de LED, mobiliário urbano totalmente novo, com bancos, lixeiras e outros 78 conjuntos, além do plantio de 1.300 árvores.
No período de obras, o processo foi desgastante, especialmente para os comerciantes. A queda no movimento, as incertezas e a redução nas vendas foram alguns dos vários desafios. No entanto, vários resistiram. Hoje, a Rua 14 de Julho tem mais de 500 lojas e pontos comerciais, mostrando que está mais viva do que nunca.
Quem caminha pelo Centro hoje encontra calçadas largas, acessibilidade, arborização reforçada, postes modernos e iluminação que valoriza a arquitetura e a segurança. O visual renovado traz à rua um novo status de cartão-postal, sendo palco de eventos culturais, especialmente os bares, com shows de rock e encontros musicais, e datas comemorativas, como o Natal Iluminado.
Além de embelezar e valorizar a região, a revitalização trouxe novas lojas, cafeterias e fez reviver a vida noturna na região, que há anos estava parada. A abertura de bares, pizzarias, lounges e lanchonetes faz da 14 de Julho uma nova opção de lazer quando o comércio encerra as atividades.
RUA QUE NUNCA DORME
Bar é um dos vários abertos nos últimos anos na Rua 14 de JulhoLapa para o Rio de Janeiro. Augusta para São Paulo. Lagoa para Florianópolis. 14 de Julho para Campo Grande. Claro que comparar é inevitável, mas é na mistura de rock, samba, pagode e eletrônico que a rua da Capital caminha para se tornar uma referência na vida noturna.
Quando as lojas comerciais fecham as portas, um novo público toma conta das ruas e desfruta de atrações para todos os gostos.
Kayky Sanches, de 31 anos, é proprietário do Má Donna Bar. Abriu seu negócio há pouco mais de um ano, e o impacto da revitalização da 14 de Julho é algo sentido em sua trajetória. Ele conta que a decisão de inaugurar o bar só foi possível graças às mudanças estruturais realizadas no Centro.
“Antes da revitalização, era inviável abrir qualquer comércio do meu tipo ali. Não havia calçadas adequadas e o fluxo intenso de veículos afastava o público. Depois da modernização, eu vi o potencial da 14 e decidi investir. Foi uma oportunidade de desenvolver a cultura e o lazer no coração da cidade”, afirma.
Para Kayky, mesmo que o período de obras tenha trazido dificuldades para muitos comerciantes, os resultados hoje mostram que a espera valeu a pena.
“A revitalização veio para contribuir de fato com a rua. Na época, foi ruim para o comércio em geral, mas hoje Campo Grande só tem a ganhar com ela”, diz.
Ele explica que a movimentação de clientes aumentou significativamente e que o novo perfil da via trouxe uma parcela da população interessada em lazer e vida noturna, atraindo desde o público jovem até os mais experientes, já que “tem espaço para todo mundo”, como conta.
“A 14 está se tornando um ponto de encontro. Não é todo mundo ainda que conhece o que está acontecendo ali, mas eu acredito que daqui para a frente o movimento vai ganhar ainda mais força e público”, analisa.
E tem espaço mesmo. Na rua, é possível encontrar desde espetinho até pizza extragrande, copo de cerveja e drinques mais sofisticados, rodas de samba e DJ. Para alguns, é um lugar de curtir, para outros, um lugar para desestressar.
“A 14 de julho aberta à noite foi uma inovação em Campo Grande. É um lugar onde você pode conhecer pessoas novas, porque tem uma diversidade de público muito grande. Você pode escolher entre ficar tranquilo ou aproveitar mesmo, pode escolher o tipo de vibe que você quer para a sua noite”, conta Caroline Silva, de 23 anos.
A jovem é frequentadora assídua da rua. Ela conta que esse espaço era a parte que faltava para a Cidade Morena.
“O incentivo aos bares, aos investimentos noturnos foi um grande acerto para a cidade. É muito bom ver essa movimentação e Campo Grande tão cheia de vida. Todo mundo elogia bastante, e eu estou lá praticamente todo fim de semana”, conta, aos risos.
Ela reforça a rua como ponto de encontro em função das opções de entretenimento e lazer disponíveis.
“É um lugar de encontrar pessoas que, talvez, você não encontraria em outros lugares, já que o público é muito variado. Você pode se encontrar com os amigos, com um namorado, pode desestressar, tanto que toda segunda-feira tem o Samba do Trabalhador, que é justamente um ambiente para você sair do trabalho e ouvir um samba, um pagode, além dos programas especiais nos fins de semana. Eu espero que dure muito, eu só ouço elogios”, afirma.
Com o sucesso alcançado, o Má Donna já faz parte de planos futuros de ampliação.
“Queremos tornar o ambiente cada vez mais confortável para as pessoas. É muito gratificante ver a 14 sendo ocupada, com a população buscando lazer, cultura e diversão. É lindo ver a cidade se transformando dessa forma”, conta Kayky.
NOSSA IDENTIDADE
Mais que uma rua, a 14 de Julho representa parte de Campo Grande. Sua requalificação urbanística não apenas preservou sua memória, mas a projetou para o futuro, tornando o Centro um espaço de convivência, lazer e turismo.
A rua foi fundada em 1909, com as demais ruas da região central da Capital. Considerada o coração de Campo Grande, a via era, na fundação da cidade, a via que dava acesso à principal rua comercial da cidade, a Rua 26 de Agosto.
Inicialmente, a via recebeu o nome de Rua 14 de julho em homenagem à Queda da Bastilha. A intenção era fazer uma alusão à modernidade e, na época, a Revolução Francesa e seus ideais passavam a mensagem que se queria para o centro de Campo Grande.




