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Trabalho home office durante a pandemia: como funciona, dicas e estratégias

Método foi a única opção para empresas sobreviverem durante pandemia da Covid-19. Veja dicas de como ser produtivo em casa

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Você sabe como funciona o trabalho home office? O regime de trabalho existe há várias décadas, mas ganhou popularidade com a pandemia da Covid-19. 

Trabalhadores e empresas começaram a utilizar o home office a partir das décadas de 1980 e 1990, quando a internet ganhou popularidade.

Com a invenção de notebooks e celulares, além da grande oferta de redes de wi-fi em residências e locais públicos, o trabalho remoto ganhou notoriedade pelo mundo.

Outros fatores que conquistaram muitos empregados, é a flexibilidade, não ter que “perder tempo” para se arrumar e dirigir até a empresa. 

Com a pandemia do Coronavírus que atingiu o mundo em 2020, o trabalho home office se tornou a única alternativa em muitas empresas para manter a produtividade. O isolamento social gerou esforços acelerados para adaptação da prática.

De acordo com a Pesquisa de Gestão de Pessoas na Crise de Covid-19, realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), cerca de 94% das empresas brasileiras afirmam que atingiram ou superaram suas expectativas de resultados com o trabalho home office. 

No entanto, 70% dessas empresas pretendem encerrar ou reduzir a prática para apenas 25% dos funcionários quando a pandemia terminar. 

O estagiário de produção da refinaria da Archer Daniel Midland Company (ADM), multinacional localizada em Campo Grande, Felipe Macgregor, relata que o home office foi uma medida adaptativa necessária para o momento de pandemia.

Macgregor detalha que para muitas empresas foi possível inserir estratégias como reduzir gastos com escritórios físicos e até melhorar o desempenho, com funcionários em casa, que em situações comuns não seriam alcançadas. 

“Creio que depende do ramo/setor que a empresa está em inserida. No meu caso, por ser uma indústria, é meio que essencial estar presencialmente lá, acompanhando o processo, o produto e toda a equipe”.

Nem todos estavam preparados para essa nova realidade repentina. Muitos não contam com os equipamentos necessários para manter um trabalho online ou autodisciplina que é necessária para manter a produtividade em casa.

Pesquisa Potencial do teletrabalho na pandemia, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que no Brasil o trabalho em home office é possível para 22,7% das ocupações. 

De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), este dado pode aprofundar as desigualdades entre os estados do país. “Estados como DF (31,6%), SP (27,7%) e RJ (26,7%) podem ser favorecidos em detrimento de Estados como PI (15,6%), PA (16%) e RO (16, 7%)”, é detalhado em nota técnica do MPT.

Para aqueles que já conhece como o trabalho remoto funciona, é visível que pode se tornar desvantajoso, como a dificuldade em manter uma rotina de trabalho, ou a sensação de isolamento. Algumas pessoas também não conseguem separar o horário de trabalho e o de lazer.

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Trabalho home office: como funciona

O home office é um termo em inglês que pode significar, trabalho remoto ou trabalho realizado em casa. O home office também pode ser aplicado para aqueles que trabalham em ambientes alternativos, como cafés. 

A funcionalidade do trabalho à distância depende do formato escolhido pelo empregador e pelo empregado. As atividades podem ser realizadas de forma parcial, durante alguns dias, ou de forma integral.

A forma de trabalho também varia de empresa para empresa, podendo ser totalmente remoto, onde o empregado não precisa ir até à sede da organização em nenhum momento, ou de forma híbrida, onde é ofertado tanto o formato de trabalho home office como presencial.

Mesmo sendo um trabalho realizado a distância, o trabalho do funcionário é monitorado e avaliado. O empregado tem responsabilidades e prazos a cumprir para manter a produtividade da empresa.

A flexibilidade da jornada de trabalho é comum no home office, podendo ser totalmente flexível, parcialmente flexível, ou ter horários rígidos. É comum em diversas áreas os funcionários serem avaliados com base na produtividade e entrega de projetos, sem a necessidade de manter uma rotina fixa. 

Segundo Mcgregor explica que esta trabalho em formato home office desde abril deste ano. O monitoramento é realizado através de tarefas realizadas diariamente, semanalmente e mensalmente. 

“Quanto a horários, nós apenas monitoramos o ponto virtual, pois o RH utiliza o login na VPN [Rede privada virtual] da empresa para ‘bater’ o ponto”, explica o estagiário.

O que é necessário para trabalhar home office?

De modo geral, para conseguir fazer o trabalho home office funcionar é preciso um computador ou notebook, uma boa conexão de internet, e acesso e permissões para ‘softwares’ e ferramentas internas na empresa. 

Para tornar o home office mais fácil, é importante fazer uso das ferramentas tecnológicas proporcionadas no meio digital. Algumas ferramentas fundamentais para compartilhar informações com toda a equipe de trabalho, como aplicativos de conversa e vídeo chamadas, de gerenciamento de projetos e compartilhamento de documentos.

Como funciona o trabalho home office na legislação da reforma trabalhista

Com a nova lei trabalhista algumas regras foram determinadas para quem trabalha em home office com vínculo empresarial. 

A legislação aprovada na reforma trabalhista determina que qualquer gasto do empregado pelo trabalho realizado em casa, como internet e equipamentos, deve ser acordado com o patrão.

Prestação de serviços é gerada através da conclusão de tarefas e não por horas trabalhadas. Com isso, a empresa é isenta do pagamento de horas extras, porém o trabalhador não possui controle de jornada. 

No contrato também deve ser especificadas atividades que serão exercidas e as condições para compra de equipamentos necessários para realização das tarefas.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) lançou nota técnica em setembro de 2020 com 17 recomendações de modo a garantir a proteção de trabalhadores no home office durante a pandemia. O objetivo do documento é indicar diretrizes a serem observadas nas relações de trabalho por empresas, sindicatos e órgãos de administração pública. 

O documento trata de recomendações para a jornada de trabalho, o respeito e a privacidade aos empregados. Algumas das recomendações para o trabalho home office do MPT são:

Respeitar a ética digital no relacionamento com os trabalhadores, preservando espaço de autonomia para realização de escolhas quanto à sua intimidade, privacidade e segurança pessoal e familiar.

Oferecer total apoio tecnológico, orientações técnicas e capacitações aos trabalhadores para realização dos trabalhos remotos e em plataformas digitais. 

Garantir intervalos para descanso, repouso e alimentação, de forma a impedir a sobrecarga habitual psíquica, muscular, com demandas de produção adequadas ao trabalhador.

As diretrizes servirão para fiscalização do MPT, mas essas recomendações não têm força judicial e as punições às empresas poderão ser questionadas na Justiça. 

Vantagens e desvantagens do trabalho home office

É possível identificar no trabalho home office vantagens e desvantagens diversas, tanto para a empresa quanto para o empregado. Diante da pandemia de Covid-19, a principal vantagem se torna a prevenção e o isolamento social, de modo a prevenir a saúde.

Mcgregor explica que a maior vantagem que ele encontrou com o trabalho remoto foi o deslocamento para a sede da empresa. “Moro a 23km de distância da planta da empresa, então ter essa comodidade é vantajoso”. 

Há empresas que incentivam funcionários a implementar o home office, destacando vantagens como a economia com o transporte, alimentação e infraestrutura. 

Dentre as vantagens do trabalho home office estão:

  • Maior flexibilidade de horário;
  • Ganho de tempo que seria gasto na locomoção para a empresa;
  • Redução de estresse decorrente do trânsito;
  • Independência na execução de tarefas diárias;
  • Liberdade profissional;
  • Possibilidade de empregos em qualquer região;
  • Mais qualidade de vida para o empregado;
  • Menor desgaste físico e mental;
  • Maior proximidade com a família.
  • Economia para a empresa em relação a gastos com estruturas de um escritório.

Dentre as desvantagens estão:

  • Isolamento social; 
  • Interferências e distrações, com familiares, vizinhos, visitas e questões domiciliares; 
  • Dificuldade em manter uma rotina de trabalho;
  • Falta de horários fixos para descanso ou para encerrar a jornada de trabalho;
  • Possível aumento de carga de trabalho;
  • Falta de suporte e comunicação imediata com colegas de trabalho;
  • Falta de ferramentas adequadas.

Trabalho home office: expectativa e realidade

Muitos trabalhadores migram para o home office apenas com expectativas vantajosas, como total liberdade para estabelecer os horários, não precisar se arrumar e sair de casa. No entanto, se a pessoa não entender como funciona o home office e ter um planejamento concreto, tudo pode virar um pesadelo. 

O trabalhador vai estar distante do resto da equipe, com isso a comunicação online é de suma importância. O estagiário, Macgregor, relata que durante o expediente podem ter atrasos de respostas e auxílios necessários, que seriam resolvidos facilmente no trabalho presencial. 

“Presencialmente eu apenas iria chamar a pessoa, analisar os dados e discuti-los ali na mesma hora. Encontrei problemas como o computador não funcionar devidamente ou a rede da empresa as vezes travar. Dentre outras complicações que presencialmente seriam resolvidas com mais facilidade”, explica Macgregor. 

Não me adaptei ao trabalho home office: o que fazer?

O maior desafio do home office é se adaptar a uma rotina flexível e manter disciplina e organização em casa. Para não se perder é importante conhecer os métodos que podem auxiliar na melhor produção das tarefas e para manter o foco. 

É preciso entender que mesmo estando em casa o trabalho deve ser feito da mesma forma como no local da empresa. 

No entanto, é inevitável que surjam distrações ao longo do dia no ambiente doméstico. Com isso é necessário um maior esforço para seguir a rotina. Busque um local silencioso, sem distrações, onde é possível manter o foco e a dedicação às tarefas.

Saiba que é necessário criar uma rotina, com início e fim de expediente. Não é porque o trabalho é realizado em casa que as 24 horas devem ser dedicadas às atividades da empresa. Separe horários de descanso, alimentação e lazer durante o dia.

Trabalhar muitas horas por dia recorrentemente pode causa estresse e afetar na qualidade de vida, o que também impacta na produtividade e qualidade das tarefas realizadas.

O que muitos não sabem é que o trabalho pode se tornar mais intenso, pois o empregado fica teoricamente disponível o tempo todo, além de não contar com a sociabilidade e pausas para conversar com os colegas. 

Se o problema for a sensação de isolamento, repense se o trabalho em home office é o melhor. Existem alternativas como o trabalho híbrido, onde o trabalho em casa seja realizado apenas em alguns dias na semana. 

Estratégias para melhorar o trabalho home office

Se pretende iniciar no formato home office de trabalho e não sabe por onde começar, saiba que é possível manter uma rotina produtiva e de qualidade. 

Para manter a produtividade em casa, Macgregor, buscou aprimorar o conhecimento das ferramentas utilizadas pela empresa, para não depender totalmente de colegas de trabalho. 

“No geral, meu dia é bem roteirizado, por ter tarefas predeterminadas. O que fiz foi melhorar meu conhecimento sobre as ferramentas e aprimorar quanto às análises, tornando assim mais eficiente o meu trabalho diário”, explica ele. 

Confira algumas dicas para trabalhar em home office:

Monte uma estação de trabalho adequada

Encontre um local que seja organizado e que possa trabalhar com tranquilidade e conforto. Busque cadeiras ergonômicas e fones de ouvido para não se distrair com barulhos externos.  

Se mora com a família deixe claro que não está disponível para tarefas da casa durante o expediente e precisa que o barulho seja moderado, como televisão, conversas altas e músicas. 

Fique atento a iluminação do ambiente que deve ser adequada às atividades que serão realizadas. Identifique se a visão está confortável para enxergar todos os materiais de trabalho.

Crie uma rotina de trabalho

Planeje todas as atividades que tenham que ser feitas durante o dia e vá marcando o que já foi concluído. Com isso, é gerada uma sensação de dever cumprido, que resultam em maior produtividade e rendimento.

Durante a rotina, não esqueça de marcar horários de pausa e descanso. Pequenas paradas para conversar, tomar um café, caminhar são essenciais para manter o engajamento no trabalho e relaxar a mente.

Para montar um horário de expediente saiba em quais momentos do dia gera mais produtividade e dinâmica de trabalho. Algumas pessoas trabalham melhor no período matutino e conversando com colegas de trabalho. Outras preferem trabalhar a tarde ou a noite, sem muito contato com outras pessoas. 

Tenha uma conexão de internet estável

A velocidade da conexão deve ser suficiente para acessar todos os programas necessários. Caso não seja adequada, a internet vai ter falhas, lentidão e perdas de conectividade. Sem internet não é possível manter o trabalho home office afetando na produção das tarefas e tempo de serviço.

Mantenha postura profissional

Quando o trabalho é realizado em casa, muitos pensam em usar pijama o dia todo e ficar o mais confortável possível. No entanto, é comum no expediente ocorrerem reuniões por chamada de vídeo, onde é necessário interagir com clientes ou outros profissionais da equipe da empresa.

A dica é sempre tomar um banho e se vestir como se estivesse se arrumando para sair de casa. Com isso, é mais fácil manter o foco no trabalho, além de que você sempre se apresentará de forma apropriada nas reuniões. 

Conclusão

Durante a pandemia o trabalho home office não foi uma escolha e sim a única opção de trabalho para muitos empregados e empresas. Com a criação de notebooks e redes de wi-fi disponíveis em vários locais foi possível implementar o estilo de trabalho com rapidez e facilidade. 

No entanto, nem todos estavam preparados para esse formato de trabalho remoto e não possuíam equipamentos necessários. Algumas pessoas também não conseguiram se adaptar a flexibilidade de rotina, perdendo produtividade e foco. As distrações que ocorrem dentro de casa também dificultam a produção de atividades durante o dia. 

Mesmo com tantos desafios, é possível tornar o conforto do lar em um local adequado para produzir e manter disciplina na produtividade exigida pela empresa de trabalho, proporcionando maior qualidade de vida, maior equilíbrio entre o trabalho e a família, menos estresse e liberdade na rotina de trabalho. 

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Cidades

TCE suspende licitação para reforma de ponte sobre o rio Paraguai

Inconsistências e riscos de gastos excessivos na licitação levaram o Tribunal de Contas do Estado a suspender o certame

13/12/2025 13h30

Imagem divulgação

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Menos de um mês depois de assumir como conselheiro do Tribunal de Contas, o ex-integrante do governo do Estado, Sérgio de Paula, suspendeu a licitação de R$ 11,7 milhões para obras na ponte da BR-262, sobre o Rio Paraguai.

A decisão foi publicada nesta sexta-feira (12), em edição extra do Diário Oficial do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul.

No dia 26 de novembro, a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos de Mato Grosso do Sul (Agesul) lançou a licitação prevendo investimento de até R$ 11.728.608,10 para a execução de obras de recuperação estrutural.

Os envelopes com as propostas feitas pelas empreiteiras seriam abertos na segunda-feira (15). No entanto, foi determinada a suspensão do certame após a equipe técnica do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS) identificar “inconsistências e lacunas” em informações como:

  • Caderno de desenhos;
  • Relatório de critérios e especificações técnicas;
  • Verificação estrutural;
  • Projeto de recuperação estrutural;
  • Projeto de sinalização temporária;
  • Plano de execução.

A justificativa para suspender o processo licitatório da reforma da ponte foram inconsistências no Projeto Básico, que podem gerar gastos acima do necessário. Para isso, foi apontada a necessidade de atualização dos dados técnicos.

“Tais inconsistências podem acarretar riscos de sobrepreço, aditivos contratuais futuros e execução inadequada da obra, comprometendo a economicidade e a eficiência, em desacordo com a Lei nº 14.133/2021. Embora o projeto tenha avançado em sua conformidade com a nova Lei de Licitações, as lacunas técnicas e a necessidade de atualização são significativas. Para uma decisão embasada e para mitigar risos futuros, é crucial que as informações complementares e as atualizações necessárias sejam providenciadas e analisadas”, consta no ato.

Diante dos indícios de irregularidades no Estudo Técnico Preliminar (ETP) e no Projeto Básico, o relator, conselheiro Sérgio de Paula, determinou a aplicação de medida cautelar para suspender o processo licitatório até a regularização dos pontos apontados.

Previsão

Com previsão de início das obras somente no segundo trimestre de 2026, o valor estimado, como adiantou o Correio do Estado, indica que a reforma da ponte pode custar o dobro do apontado pelo ex-secretário de Obras, Hélio Peluffo.

Em 2023, ele previu gastos em torno de R$ 6 milhões na recuperação da estrutura da ponte, que tem sofrido diversas intervenções e situações que resultaram em tráfego em meia pista.

Essa situação ocorreu em 2023, quando a interdição durou mais de um ano, até que os reparos emergenciais fossem concluídos na pista de rolamento.

Além disso, há situação emergencial nos “amortecedores” instalados entre as pilastras e a parte superior da ponte (pista), que apresentam desgaste por falta de manutenção. Essa obra deverá ser bancada, agora, com recursos públicos.

Pedagiada "até ontem"
 

Investimento público em uma ponte seria algo normal não fosse a cobrança de pedágio, feita até setembro de 2022. Pequena fatia da receita era repassada ao Estado e a única obrigação da empresa era fazer a manutenção da estrutura, que tem dois quilômetros e foi inaugurada em 2001.

Porém, em 15 de maio de 2023 a empresa Porto Morrinho encerrou o contrato e devolveu a ponte Poeta Manoel de Barros sem condições plenas de uso, embora tivesse faturamento milionário.

Em 2022,  com tarifa de R$ 14,10 para carro de passeio ou eixo de veículo de carga, a cobrança rendeu R$ 2,6 milhões por mês, ou R$ 21 milhões nos oito primeiros meses daquele ano.

No ano anterior, o faturamento médio mensal ficou em R$ 2,3 milhões. Conforme os dados oficiais, 622 mil veículos pagaram pedágio naquele ano. Grande parte deste fluxo é de caminhões transportando minério. A maior parte destes veículos têm nove eixos e por isso deixavam R$ 126,9 na ida e o mesmo valor na volta.

Esse contrato durou longos 14 anos, com início em dezembro de 2008, e rendeu em torno de R$ 430 milhões, levando em consideração o faturamento do último ano de concessão. 

Em março de 2017, a Porto Morrinho conseguiu um abatimento de 61% no valor da outorga. Na assinatura, em 22 de dezembro de 2008, o acordo previa repasse de 35%  do faturamento bruto obtido com a arrecadação tarifária estabelecida em sua proposta comercial. A partir de março de 2017, porém, este valor caiu para 13,7%. 

Se tivesse de repassar 35% dos R$ 2,6 milhões arrecadados por mês em 2022, a Porto Morrinho teria de pagar R$ 910 mil por mês ao Estado. Com a repactuação do contrato, porém, este valor caiu para a casa dos R$ 355 mil. Em ambos os casos os valores teriam alguma variação porque ainda seria necessário descontar impostos.

Ou seja, a repactuação garantiu R$ 555 mil mensais a mais aos cobres da concessionária, que mesmo assim não cumpriu com sua única obrigação, que era manter a ponte em condições de uso. 

E, mesmo depois de parar de cobrar pedágio, ela continuou cuidando da ponte, entre setembro de 2022 até maio de 2023.  Neste período, recebeu indenização milionária, de pouco mais de R$ 6 milhões. 

O pedágio acabou por causa do fim do acordo do governo estadual, que construiu a ponte, com o DNIT, já que a rodovia é federal. Porém, o governo federal só aceita receber a ponte depois que estiver em boas condições de uso. 

** Colaborou Neri Kaspary

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baixa adesão

Fundo Pantanal indeniza desde banqueiro a gigante do Agro

Mas, o Programa que disponibilizou R$ 40 milhões está repassando aos proprietários pantaneiros menos de 10% do previsto para 2025

13/12/2025 12h30

O tuiuiú é considerada a ave-símbolo do Pantanal, mas também pode ser encontrada bem longe deste bioma

O tuiuiú é considerada a ave-símbolo do Pantanal, mas também pode ser encontrada bem longe deste bioma Bruno Rezende/Secom

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Na lista dos 45 proprietários de terras do Pantanal que receberão recursos do Fundo Clima Pantanal, um programa que indeniza fazendeiros que preservam áreas mais amplas do que aquilo que determina a legislação, aparecem desde fazendeiros tradicionais a banqueiros e gigantes do agronegócio.

Mas, conforme publicação do diário oficial do Governo do Estado desta sexta-feira (12) a adesão ficou abaixo do esperado e menos de 10% das verbas disponíveis serão distribuídas no primeiro ano do programa, criado principalmente para combater o desmatamento.

Entre os contemplados, com R$ 100 mil, está Tereza Bracher, esposa do ex-presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher. A família vair receber a indenização por estar preservando em uma de suas fazendas pantaneiras quase seis mil hectares acima do estipulado pela legislação. 

Com patrimônio estimado na casa dos R$ 15 bilhões, Cândido Bracher foi CEO do Itaú Unibanco entre abril de 2017 e janeiro de 2021. Atualmente,  hoje é integrante do Conselho de Administração da instituição financeira, que fechou 2024 com lucro de R$ 40 bilhões. 

E a banqueira ainda buscou indenização em uma segunda fazenda no Pantanal,  mas foi desclassificada por ter sido enquadrada no item 8.6 das normas que regulamentam a distribuição dos R$ 40 milhões do Fundo.

Este item diz que não pode ser contemplado que  estiver com irregularidades no Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou por estar com passivos ambientais não declarados ou que não estejam cumprindo termos de compromisso de recuperação de áreas degradadas.

Em maio deste ano o Ministério Público abriu investigação para apurar suposta omissão do banqueiro em um megaincêndio que destruiu mais de 52 mil hectares em julho de 2024 no Pantanal da Nhecolândia. O fogo teria começado na Fazenda Tupanceretã, de 25 mil hectares, pertecence à família. 

Tereza Bracher também aparece como contemplada indireta em uma outra propriedade. Ela é uma das integrantes da Associação Onçafari, entidade que vai receber pouco mais de R$ 45 mil de indenização pela preservação de 824 hectares de vegetação nativa.

Esta associação, que adquiriu milhares de hectares no Pantanal para criar uma espécie de corredor ecológico que possibilite procriação de onças-pintadas, conseguiu cerca de R$ 180 milhões com filantropos para a criação de reservas privadas no Pantanal. Teresa Bracher é uma destas doadoras. 

Mas, os banqueiros não são os únicos bilionários que aparecem na lista. Outra contemplada é a SLC Agronegócios, uma fazenda dedicada à criação de bovinos no município de Corumbá.  Os bilionários donos desta fazenda receberão R$ 100 mil do Fundo Pantanal por preservarem pouco mais de 3,7 mil hectares. 

A fazenda pertence ao grupo que se apresenta como um dos maiores produtores de commodities agrícolas do país. Possui cerca de 733 mil hectares de área plantada em sete estados. Além de Corumbá, o grupo também produz em fazendas em Cassilância, Chapadão do Sul e Sonora. 

A SLC produz algodão, milho e soja e se dedica à criação de gado, além de ser uma das grandes produtoras de sementes destas cultura.Ela foi uma das primeiras empresas do agronegócio a ter ações negociadas em Bolsa de Valores de São Paulo, a BR.

A famosa Fazenda Bodoquena, de cerca de 77 mil hectares e conhecida por concentrar até 40 mil bonivos, também aparece na relação daqueles que receberão indenização. Neste caso, serão apenas R$ 39 mil, uma vez que atestou estar fazendo preservação extra de 705 hectares de vegetação. 

A fazenda pertence ao Grupo Votorantim, que há mais de sete décadas também atua na produção de cimento em Corumbá, no coração do Pantanal. O grupo é controlado pelos familiareas de Antônio Ermírio de Moraes, um dos rostos mais conhecidos do bilionário clã. Ele morreu em 2014. A família é considerada a terceira mais rica do país, com patrimônio estimado em 15,4 bilhões de dólares, ficando atrás somente das famílias Marinho e Safra.

Mas, nesta lista dos contemplados também aparecem fazendeiros "comuns",  para os quais a indenização de até R$ 100 mil fará alguma diferença. Esté é o caso de Timotheo Reis Proença, que já presidiu o sindicato rural de Aquidauana. Ele cadastrou 1,28 mil hectares como preservação extra e por conta disso receberá R$ 71 mil. 

BAIXA ADESÃO

Ao todo, segundo o Governo do Estado, estão sendo  indenizados 126 mil hectares, o que está garantindo repasse da ordem de R$ 3,25 milhões aos proprietários. 

O valor é praticamente o mesmo ao que está sendo repassado a três ONGs que dizem atuar no combate a incêndios e no tratamento de animais silvestres atingidos pelas queimadas no Pantanal. 

Dos R$ 40 milhões, R$ 1,438 milhão foi destinado ao Instituto Homem Pantaneiro (IHP), R$ 996 mil para o instituto SOS Pantanal e R$ 497,5 mil para o IPCTB - Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil. 

Somados, os repasses às ONGs chegam R$ 2,931 milhões, o que equivale a 7,3% dos R$ 40 milhões anunciados pelo Governo do Estado ao Fundo Pantanal para o primeiro ano de vigência do programa. 

O valor repassado aos proprietários rurais ficou longe daquilo que estava previsto por conta da baixa adesão. Na primeira chamada foram recebidas apenas 71 inscrições de imóveis rurais localizados no Bioma Pantanal. E, após análise dos documentos,  45 propriedades conseguiram cumprir as exigências. 

Mesmo assim, o secretário Jaime Verruck, da Semadesc, comemora os resultados. “O PSA Pantanal demonstra que é possível alinhar desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Estamos criando um modelo em que o produtor rural passa a ser reconhecido como parceiro estratégico na proteção do bioma, recebendo por um serviço ambiental que beneficia toda a sociedade”, afirmou. Segundo ele, o programa também fortalece a imagem de Mato Grosso do Sul como referência nacional em sustentabilidade e políticas climáticas inovadoras.

Agora, os proprietários classificados serão convocados pela Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural (Funar), agente executor do PSA Conservação, para assinatura do Termo de Adesão. A partir desse instrumento, os provedores de serviços ambientais passam a integrar formalmente o programa e a receber os valores correspondentes às áreas preservadas. 

De acordo com o secretário-adjunto da Semadesc, Artur Falcette, a robustez técnica do edital foi um dos diferenciais do programa. “Todo o processo foi construído com base em critérios objetivos, análises técnicas aprofundadas e uso de ferramentas geoespaciais. Isso garante credibilidade ao PSA e cria um ambiente favorável para sua continuidade e ampliação”, destacou. Ele ressalta que a experiência da primeira chamada servirá como base para o aperfeiçoamento das próximas etapas.

Segunda chamada 

Com a conclusão da primeira etapa, a Semadesc confirmou o cronograma da segunda chamada do PSA Conservação, prevista para 2026. A publicação do edital e a abertura das inscrições ocorrerão em 23 de fevereiro, com encerramento em 6 de abril.

As inscrições deferidas serão divulgadas em 16 de abril, com prazo para recursos até 20 de abril. A avaliação das propriedades ocorrerá até 1º de junho, com publicação do resultado final até 15 de junho. A assinatura dos Termos de Adesão está prevista a partir de 16 de junho de 2026.

Nesta segunda chamada, poderão participar proprietários que não conseguiram se inscrever na primeira etapa. As regras permanecem as mesmas, incluindo a possibilidade de cancelamento de autorizações de supressão de vegetação nativa vigentes na data de abertura do edital, quando houver, sendo que o pagamento será referente ao exercício de 2026. 

“O PSA é uma política de Estado, construída para ter continuidade e escala. A segunda chamada amplia o alcance do programa e reforça nosso compromisso com a conservação do Pantanal”, concluiu Jaime Verruck.

 

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