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"Vamos brigar pela autonomia financeira das mulheres"

A ministra Cida Gonçalves disse em entrevista ao Correio do Estado que o combate à violência contra a mulher será uma das prioridades da gestão

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Em entrevista ao Correio do Estado, a ministra das Mulheres, Aparecida Gonçalves, relatou que a autonomia econômica das mulheres será uma das prioridades da Pasta. Cida aponta que outro grande desafio será combater os diferentes tipos de violência contra a mulher. 

“Durante os próximos quatro anos, não teremos tempo para resolver todos os problemas que estamos encontrando no País. Mas o que nós temos como meta e objetivo é fazer o possível para que as diferentes formas de violências que estão acontecendo em todos os âmbitos sejam reduzidas”, salientou a ministra. 
 
A senhora atua em Mato Grosso do Sul, um estado com histórico violento em relação às mulheres. Ser escolhida para o Ministério das Mulheres representa o que para a luta contra a violência contra a mulher?

O convite feito pelo presidente Lula para que eu assumisse o Ministério [das Mulheres] é uma vitória dos movimentos de mulheres, que têm me apoiado muito. 

Significa, também, que eu tenho uma grande responsabilidade pela frente, mas acredito que podemos avançar na garantia de direitos, pois agora temos um governo alinhado com as pautas de justiça social, de direitos humanos e, portanto, de políticas como equidade de gênero, igualdade salarial entre homens e mulheres e inclusão no mercado de trabalho.
 
A senhora terá pela frente diversos desafios para recompor a Pasta. Quais serão as prioridades para a sua gestão no Ministério das Mulheres? 

Na verdade, temos algumas prioridades para o Ministério que já foram desenhadas durante a campanha do presidente Lula. São 13 pontos de pautas e prioridades para as mulheres. 

Além disso, fiz parte também do grupo de transição de governo, em que já fizemos alguns diagnósticos de como o Ministério estava e o que estamos herdando. 

E nós já temos mais ou menos uma linha de três ações prioritárias. Uma é a questão da autonomia econômica e uma política de cuidados com a mulher. 

Porque a pandemia de Covid-19 escancarou o que é o trabalho da mulher de forma não remunerada, que engloba a rotina de ficar em casa e de todas as perspectivas que vieram a público com o home office. 

E isso nós precisamos trazer para o debate político, para encontrarmos uma solução que consiga remediar o estresse e cansaço dessa mulher. 

A segunda pauta é a questão da articulação institucional para fortalecer as secretarias estaduais de políticas para as mulheres, para que nós tenhamos uma política de capilaridade. E como resultado para o trabalho com as mulheres, teremos um ministério no âmbito federal, uma secretaria forte no Estado e uma no município.

Por outro lado, teremos como prioridade a participação das mulheres, em que precisamos fortalecer a bancada feminina no Congresso Nacional, na Assembleia Legislativa e nos municípios. É importante que, tanto no nível público quanto no privado, possamos colocar as mulheres nos espaços de poder. 

E, por fim, temos como trabalho prioritário o enfrentamento à violência contra a mulher, esse será o carro-chefe na nossa gestão.

Nós vamos retomar as Casas da Mulher Brasileira e o número 180 para denúncia, informação e orientação. Muitas pessoas permanecem na situação de violência por não saberem os respaldos a que têm direito. 

A mulher tem medo de denunciar, por exemplo, as agressões que sofre, com medo de perder a guarda dos filhos, o que não vai ocorrer.

Dentro dessas prioridades de cuidado com as mulheres, como o Ministério vai lidar com a questão da autonomia financeira da mulher?

Quando se discute a autonomia econômica, as mulheres fazem parte da maior parte do quadro de exclusão e desemprego.

É importante partirmos do pressuposto que a desigualdade colocada no Brasil e no mundo passa pela desigualdade de gênero, que é a desigualdade de oportunidades, remuneração e reconhecimento entre homens e mulheres. 

As mulheres já ganham 20% menos que os homens que desempenham a mesma função. No quadro de pandemia ou crise econômica, as primeiras demissões sempre são de mulheres, sempre com a justificativa de que as mulheres são descartáveis para empresas porque precisam cuidar dos filhos e demais familiares. 

Quando ela consegue voltar ao trabalho, o mercado já não é mais o mesmo, o que a coloca dentro do quadro de trabalho informal e sem direitos.

Isso a coloca em uma condição desigual, em que a autonomia econômica precisa desempenhar o papel de construir políticas públicas para que essa mulher seja inserida no mercado de trabalho em condições dignas. 

Para isso, faremos parcerias com o Ministério do Planejamento. E temos, ainda, o desafio de trabalhar a questão da desigualdade salarial.

Porque se criou uma mística de que as mulheres que estão no mercado de trabalho já estão em vantagem. No entanto, precisamos que haja cargos de chefia ocupados pelas mulheres também.

A senhora, por duas gestões dos governos da presidenta Dilma e do presidente Lula, já estava inserida no Ministério das Mulheres. Em 2003 havia a empolgação do primeiro ano de mandato de Lula. Este ano, quando a senhora assume o cargo de ministra, o Brasil está muito diferente do de 2003?

Nós temos hoje um Brasil do ódio, que nos últimos anos foi alimentado pelo preconceito e pela misoginia. Nós temos um Brasil que mata a pessoa por sua orientação sexual na rua, que a espanca. 

Um País que mata o pai que anda de mão dada com o filho, por presumir que se trata de um casal homoafetivo. Esse é o Brasil que nós estamos vendo hoje e que, nos últimos quatro anos, teve de sua autoridade máxima [Jair Bolsonaro] a permissão para que essas barbáries fossem cometidas. 

Nós temos um País que autoriza, por meio da liberação de armamento aos civis, que os conflitos sejam resolvidos de forma violenta.

Quando fizemos a Lei Maria da Penha, tinha a justiça restaurativa, o juiz de pequenas causas, e era nesse âmbito que os conflitos eram resolvidos, desde problemas do trânsito até o gato do vizinho. 

E esses problemas hoje estão sendo resolvidos com armas, e não pelos meios oficiais. Essa é uma diferença fundamental deste País que o presidente Lula tem encontrado e que temos o desafio de enfrentar. 

Então, sim, é um Brasil muito diferente. Em 2003, quando nós assumimos, a esperança era de construirmos um País melhor, com uma democracia fortalecida e de participação. Hoje, estamos focados na reconstrução do Brasil.

Os números aqui no Estado assustam. Em todo o ano de 2022, tivemos 50 feminicídios, segundo a Secretaria de Estado de Justiça. Por hora, duas mulheres sofrem algum tipo de violência em MS. Além da questão punitiva da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio, existem outras estratégias para barrar a violência contra a mulher?

Durante os próximos quatro anos não teremos tempo para resolver todos os problemas que estamos encontrando no País. Mas o que nós temos como meta e objetivo é fazer o possível para que as diferentes formas de violência que estão acontecendo em todos os âmbitos, doméstico, trabalhista, sexual e política, sejam reduzidas. 

O desafio é que precisamos assegurar, como União, condições de atendimento às mulheres que precisam de ajuda, e que elas tenham a chance de sair dessa condição de violência. Precisamos atuar para que a mulher tenha a chance de fazer o boletim de ocorrência, ser assistida e tratada com dignidade. 

Estamos entrando no lugar de uma mulher que disse para todas as mulheres do País que elas precisavam ser ‘recatadas e do lar’, que a cor rosa é de menina e a azul é de menino. Tivemos todo um processo de desconstrução do papel da mulher nos últimos seis anos, algo muito grave para as políticas públicas.

E reconstruir todos os direitos das mulheres, com autonomia financeira e o poder de decisão sobre seu próprio corpo, será nosso grande desafio, haja vista que não temos 10% dos recursos de quando eu deixei a Pasta em 2016.

Para se ter uma ideia, deixamos na gestão da presidenta Dilma R$ 263 milhões no ministério, e estamos herdando por volta de R$ 26 milhões, o que mostra a prioridade que o governo passado lidava com a Pasta.

Mato Grosso do Sul aparece sempre nas primeiras posições no ranking de feminicídio elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Como a senhora avalia esse dado?

Mato Grosso do Sul aparece no topo do ranking de feminicídio por tipificar de forma correta os crimes. Precisamos que haja uma classificação nesses dados que apontam em quais estados os dados contam com a tipificação. Isso não significa que os homens daqui são menos violentos.

O que podemos dizer é que não temos elementos para afirmar que MS é uma das unidades federativas mais violentas se os outros estados não nos dão elementos para comparação. Precisamos criar um elemento que seja de prevenção ao feminicídio, e o primeiro passo é desarmar a população.

Não temos como discutir o enfrentamento ao feminicídio se mantivermos os homens armados. Se formos analisar os dados dos últimos quatro anos, além de ter aumentado a crueldade, a forma como as mulheres morreram deixou de ser por arma branca e passou a ser por arma de fogo. 

O presidente Lula se elegeu em um meio polarizado. Como a senhora vai lidar com as mulheres que não votaram no atual presidente?

Nós não vamos fazer políticas públicas para quem votou no Lula ou no Bolsonaro. Eu sou a ministra da Mulher do Brasil, e de todas aquelas que escolheram residir em nosso País. As políticas serão pensadas e executadas para todas. 

Eu vou falar com o governador de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e de todas as demais unidades da federação para trabalharmos em prol de todas as mulheres. 

Houve um retrocesso na garantia dos direitos das mulheres nos últimos anos. Então nosso objetivo principal é fazer com que as mulheres não tenham perda de direitos. 

Perfil

Aparecida Gonçalves - Cida Gonçalves é especialista em gênero e em enfrentamento à violência contra mulheres e ativista de defesa dos direitos das mulheres há mais de 40 anos.

Natural de Clementina, interior de São Paulo, Cida construiu sua trajetória política em Campo Grande, onde foi coordenadora do movimento popular de mulheres nas décadas de 1980 e 1990.

Como representante desse grupo, coordenou o processo de articulação e fundação da Central dos Movimentos Populares no Brasil.

Nos anos 2000, foi assessora da Coordenadoria à Mulher da Secretaria de Assistência Social, Cidadania e Trabalho do Estado em uma das gestões do governador Zeca, do PT. Nos governos de Lula e Dilma Rousseff, entre 2003 e 2016, foi Secretária Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, atuando na construção da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio.

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Transparência

Campo Grande ocupa a posição 159ª em qualidade de internet no Brasil

Em relação à qualidade da internet em nível nacional, Mato Grosso do Sul ficou longe da excelência. Os municípios das regiões Sudeste e Sul do país obtiveram as melhores notas

23/10/2024 15h00

Pesquisa aponta a qualidade de internet em cidades brasileiras

Pesquisa aponta a qualidade de internet em cidades brasileiras Reprodução/

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Campo Grande ficou na 159ª posição no ranking nacional de acesso a dados móveis (4G/5G) no país, segundo o IPS Brasil (Índice de Progresso Social do Brasil), que mede a qualidade da internet. De acordo com os dados, que variam de 0 a 100, a capital de Mato Grosso do Sul obteve a nota 78,49.

O levantamento, realizado pelas entidades Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), Fundação Avina, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, iniciativa Amazônia 2030, Anattá - Pesquisa e Desenvolvimento e Social Progress Imperative, apresenta indicadores sobre a cobertura de rede móvel no país.

Segundo os dados publicados no jornal O Estadão, a pesquisa analisa diversos componentes de desenvolvimento social nos 5.570 municípios do país (incluindo o Distrito Federal e Fernando de Noronha), mostrando a densidade da qualidade da telefonia móvel e da banda larga fixa.

Segundo a pesquisa, Campo Grande foi identificada como a cidade com melhor “acesso à informação e comunicação”. Logo atrás, está Dourados, na 291ª posição, com desempenho de 76,53, seguida de Três Lagoas, na 417ª posição, com nota de 74,90. Ponta Porã ficou em 1.732ª lugar, com pontuação de 66,24.

De olho na expansão nacional da qualidade da internet fixa e dos dados móveis, Mato Grosso do Sul ficou bem longe da excelência. A cidade que apresentou a melhor qualidade de internet foi Armação de Búzios (RJ), com a nota 91,02, seguida por Roseira (SP) e Agudos do Sul (PR), que pontuaram 90,85 e 89,91, respectivamente.

Conforme os dados, os números revelam a grande desigualdade social presente na sociedade brasileira. Os municípios que obtiveram as melhores notas no desempenho da internet fixa e móvel estão localizados em regiões consideradas mais desenvolvidas economicamente, como Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A média da qualidade da internet ficou em 69,77 nos 4.257 municípios do país, que apresentaram notas entre 51 e 80 pontos.

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Cidades

Ansioso pelo 13° salário? Confira a data de cada parcela

Conhecido como gratificação natalina, o benefício é pago para trabalhadores com carteira assinada, ao fim de cada ano. No entanto, há casos em que o pagamento pode ser adiado ou adiantado, confira

23/10/2024 14h00

Ansioso pelo 13° salário ? Confira a data de cada parcela

Ansioso pelo 13° salário ? Confira a data de cada parcela Divulgação

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O 13º salário, também conhecido como Gratificação Natalina, é um benefício extra pago no final do ano aos trabalhadores com carteira assinada.

O valor do 13º é equivalente a um mês de salário, caso o trabalhador tenha mantido vínculo com a empresa por um ano. Se o trabalhador tiver sido contratado há menos tempo, o valor será proporcional ao tempo de contratação. 

Este benefício é pago em, no máximo, duas prestações. Em 2024, a primeira parcela deverá ser paga até 30 de novembro, e a segunda até 20 de dezembro. Além dos trabalhadores com carteira assinada, também têm direito ao 13º salário os aposentados, pensionistas e beneficiários do INSS que recebem determinados benefícios. 

Caso a data do prazo final caia em um domingo ou feriado, o empregador deve realizar a antecipação do pagamento caso contrário, está sujeito a multa.

Como calcular o valor a receber

  • Para realizar o cálculo do décimo terceiro siga os passos abaixo: 

1º passo: Divida a remuneração integral (salário bruto) por 12.

2° passo: Multiplique o resultado pelo número de meses trabalhados.

No cálculo inclua horas extras, adicionais (noturno, de insalubridade e de periculosidade) e comissões. A base de cálculo do 13° salário é sempre o salário bruto, sem deduções ou adiantamentos, referente ao mês de dezembro do ano atual ou, em caso de demissão, ao mês da rescisão contratual.

Férias, término do contrato e justa causa

Em casos de férias, o funcionário deverá solicitar o adiantamento do benefício, para que seja possível receber a primeira parcela até janeiro do próximo ano. 

Já se houver o encerramento do contrato antes do término das parcelas, o valor poderá ser pago. Seja por fim do prazo de contrato, pedido de demissão ou dispensa.

Situações em que a demissão foi por justa causa, o funcionário dispensado não têm direito a receber o valor. 

Perco o direito ao 13º se tiver muitas faltas?

Sim, trabalhadores que acumularem mais de 15 faltas não justificadas em um mês podem ter descontada do 13º a fração correspondente a 1/12 do salário.

Posso receber o 13º logo que sou contratado?

O empregado tem direito ao décimo terceiro salário a partir de 15 dias de serviço.

Aposentados e pensionistas têm direito ao 13º? 

Sim, tanto os aposentados quanto os pensionistas do INSS têm direito a receber o 13º salário.

Sou empregador, preciso pagar o 13º a todos os funcionários no mesmo mês?

Não é obrigatório que o empregador pague o 13º salário no mesmo mês a todos os empregados. No entanto, deve-se respeitar os prazos para o pagamento da primeira e da segunda parcela.

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