Walcyr Carrasco e Walter Avancini começaram a trabalhar juntos em meados dos anos 1990. Carrasco escrevia novela “Xica da Silva”, novela idealizada e dirigida por Avancini para a Manchete.
O autor usou na época o pseudônimo de Adamo Rangel, pois tinha um contrato em vigor com o SBT.
Mas a amizade entre os dois foi além dos limites do estúdio e de qualquer emissora.
Na virada dos anos 2000, quando o diretor voltou à Globo, quis aproveitar a sintonia que teve com o texto do amigo e o indicou para que desenvolvessem juntos alguns projetos para o horário das seis.
Nesta parceria, conceberam o sucesso “O Cravo e A Rosa”, uma adaptação de “A Megera Domada” muito bem sucedida.
Por conta do fracasso de “Estrela-Guia” – que durou apenas 83 capítulos –, a dupla nem conseguiu ficar muito tempo fora do ar.
Cerca de três meses depois, os dois retomaram os trabalhos para realizar “A Padroeira”, que este mês completa 20 anos de exibição.
“Avancini tinha urgência em trabalhar. Todo mundo sabia que ele estava doente, mas ele não falava muito sobre o assunto. Os encontros para pensar a novela eram divertidos e interessantes. Gênio que só ele, sempre queria ir além do trivial. ‘A Padroeira’ representa, para mim, a alegria de poder trabalhar de novo com meu amigo”, ressalta o autor.
Ambientada no ano de 1717 na vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, “A Padroeira” reúne duas tramas distintas de amor e fé. Baseada no romance “As Minas de Prata”, de José de Alencar, o contexto amoroso da novela reside na paixão impossível entre o simples Valentim e a bem-nascida Cecília, papéis de Luigi Barricelli e Deborah Secco.
Além das diferenças sociais, o casal tem de enfrentar a ira e as investidas de Dom Fernão de Avelar, de Maurício Mattar.
“Apesar de ser uma mocinha bem clássica, Cecília também era bem empoderada. Só que isso só vai se desenvolvendo ao longo da trama, quando ela questiona o interesse do pai em casá-la com Fernão”, explica Deborah.
Ignorado pela pretendente, Fernão acaba jurando para si e para todos que Cecília um dia será sua esposa. “Ele se sente humilhado e quer virar o jogo através da força e opressão. A insegurança o leva à loucura”, destaca Mattar.
No quesito fé, Walcyr Carrasco recorreu à história documentada pela Igreja Católica sobre a aparição de uma imagem à beira do Rio Paraíba do Sul.
Foi a partir daí que se iniciou o culto à Nossa Senhora Aparecida.
“A literatura nacional já rendeu diversas novelas incríveis. Além disso, queria falar sobre a religiosidade brasileira e achei que as histórias casariam bem”, revela o autor.
Apesar dos ganchos certeiros para o horário das seis, a audiência das primeiras semanas de “A Padroeira” foi abaixo dos 30 pontos esperados pela Globo.
Nos bastidores, além da crise com a repercussão, o estado de saúde de Avancini piorou e ele teve de se afastar da trama definitivamente.
Diretor de núcleo da produção, Roberto Talma assumiu e fez modificações profundas em boa parte da obra, diminuindo o tamanho de alguns personagens e escalando novos nomes para reforçar o elenco.
“A missão da direção foi tornar a trama mais leve”, afirma Luiz Henrique Rios, integrante da equipe de direção coordenada por Talma.
Em poucos dias, o novo diretor trocou a música de abertura, fez ajustes de figurino, a fotografia ficou bem mais clara e apostou na escalação de nomes como Rodrigo Faro, Susana Vieira e Daniel de Oliveira para reforçar a comicidade da trama.
Até a vilã Imaculada, de Elizabeth Savalla, teve de amenizar sua densidade e se tornou um tipo mais caricato e exagerado.
“Estreei na tevê com o Avancini. Então, perdê-lo ao longo da novela foi muito difícil. É um dos trabalhos mais estranhos da minha carreira. O jeito foi seguir em frente do jeito que desse”, lembra Savalla, falando sobre o amigo que acabou falecendo em setembro de 2001, após uma longa e silenciosa batalha contra um câncer de próstata.
Mesmo com as modificações, a novela continuou a passear entre os 23 e 25 pontos no Ibope. Entre os destaques do elenco, nomes como Mariana Ximenes, Murilo Rosa, Patrícia França, Yoná Magalhães, Paulo Goulart, Bianca Byington e Stênio Garcia.



As pinturas de Isabê também estarão na Casa-Quintal 109 de Manoel de Barros, museu na antiga residência do poeta, no Jardim dos Estados - Foto: Divulgação


Filme lança hoje - Foto: Divulgação

Patricia Maiolino e Isa Maiolino
Ana Paula Carneiro, Luciana Junqueira, Beto Silva e Cynthia Cosini


