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Comportamento

Animais de estimação afetam relações dentro da família

Animais de estimação afetam relações dentro da família

New York Times

21/03/2011 - 06h00
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Primeiro, ele destruiu seus brinquedos. Depois foram os móveis, as roupas, os livros escolares – e, no final, a uma unidade familiar. James, um adorável vira-lata cor de chocolate, se transformou em garoto-problema em uma questão de semanas. “O xis da questão foi que minha mãe e minha irmã achavam que ele era esperto demais para ser tratado como um cachorro; elas pensavam que ele era uma pessoa e assim deveria ser tratado – e mimado”, disse Danielle, residente da Flórida que pediu que seu sobrenome não fosse revelado para evitar mais disputas familiares por causa do animal. “Passados 10 anos, o cachorro até hoje é uma fonte de discórdia e raiva”, ela complementou.

Há tempos psicólogos confirmaram o que a maioria dos donos de animais de estimação sente na própria pele: que, para algumas pessoas, os vínculos com os animais são tão fortes quanto os desenvolvidos com outros humanos. E, certamente, também menos complicados: a devoção de um cão por seu dono é livre de qualquer ironia, o ronronar de um gato não tem qualquer artifício (isso para não dizer desaprovação).

Entretanto, a natureza do relacionamento entre o homem e o animal apresenta inúmeras variações, e somente agora os cientistas estão começando a caracterizar tais diferenças e seus impactos sobre a família. Afinal, os animais domésticos não mudam somente a rotina familiar, mas também sua hierarquia, seu ritmo social e sua rede de relacionamentos.

Animal de companhia


Diversas novas linhas de pesquisa ajudam a explicar porque este efeito geral pode ser tão reconfortante para algumas famílias e uma fonte de tensões para outras. E as respostas têm muito pouca ligação com os animaizinhos.

“Primeiramente, o termo ‘animal doméstico’ não captura por completo o que estes seres representam para uma família”, disse Froma Walsh, psicóloga da Universidade de Chicago e co-diretora do Chicago Center for Family Health. Ela diz que o termo que prevalece entre os pesquisadores é “animal de companhia”, que é mais próximo do papel de filho que eles geralmente desempenham. “E da mesma forma que as crianças são recebidas no sistema familiar como pacificadoras, como mediadoras ou como fontes de discórdia, o mesmo acontece com estes animais”.

As pessoas estabelecem estes papéis em parte com base nas sensações e lembranças associadas a seu primeiro animal de estimação, dizem os psicólogos – ecoando o conceito freudiano de transferência, no qual os primeiros relacionamentos criam um molde para os posteriores. Em muitas famílias, isso significa que o cãozinho é o pacificador universal, o pilar das afeições compartilhadas.

Em uma enquete familiar revisada por Walsh em um artigo recente, uma mãe disse que a melhor forma de por fim a uma discussão entre irmãos era gritando: “Parem de brigar, vocês estão irritando o Barkley!”. A mãe afirmou que aquele argumento era muito mais eficaz do que dizer: “Pare de bater em seu irmãozinho” (Barkley não comentou o assunto).

Eles sentem a expectativa


Os animais geralmente sentem estas expectativas e agem de acordo com elas. Em um vídeo que mostra outra discussão familiar mencionada no artigo, um gato pula para o colo de uma mulher quando pressente uma discussão iminente entre ela e o marido. “E podemos ver que isso acaba funcionando, reduzindo a tensão entre eles”, comentou Walsh.

“Ela é minha primeira filha”, disse Adrienne Woods, violoncelista de Los Angeles, referindo-se a Bella, o filhotinho de husky siberiano que ela e o noivo acabaram de adotar. “O lado positivo (de ter um animal) é a sensação de paz interior. Eu me sinto como uma avó. É como ter um companheiro por quem você esperava há 30 anos”.

Sim, os animais de estimação também podem aumentar as tensões, e alguns casais acabam descobrindo isso do jeito mais difícil. O programa de TV “It’s Me or the Dog”, exibido no canal americano Animal Planet, aborda histórias deste tipo. E Cesar Millan, especialista em comportamento animal, tornou-se uma celebridade ao ajudar as pessoas a retomar o controle sobre seus indomáveis cachorros, trazendo a ordem de volta ao lar com linhas duvidosas de autoridade.

Muitas vezes, talvez, os animais domésticos se transformem em pressão psicológica não por falta de limites, mas porque os membros da família têm visões divergentes sobre o que um animal de estimação deveria ser. E tais visões são talhadas pela herança cultural, e isso acontece com muito mais freqüência do que percebemos.
 

"Filhinho"


Em um estudo sobre a relação entre animais de estimação e seus donos, a socióloga Elizabeth Terrien, da Universidade de Chicago, realizou 90 entrevistas detalhadas com famílias de Los Angeles - incluindo a família Woods. Uma tendência pôde ser claramente observada: pessoas de origem rural costumam considerar seus cachorros como guardiões, que devem ser mantidos fora de casa, enquanto que os casais de classe média tipicamente tratam seus cães como crianças, geralmente permitindo que eles durmam no quarto principal ou em uma cama especial.

Quando pedidos para descrever seus animais de estimação sem usar a palavra “cachorro”, pessoas de bairros mais afluentes surgiram com palavras como “filhinho, companheiro, amiguinho, irmão ou parceiro de crime”, disse Terrien. Em bairros com maior número de imigrantes latinos, os proprietários foram mais propensos a se referir aos animais como “protetor” ou mesmo como “brinquedo das crianças”. Ela conta: “Nesses bairros, às vezes vemos crianças dando puxões no cachorro com a guia, ou mesmo empurrando os animais de brincadeira - tipos de comportamento que seriam considerados abusivos por alguns donos de cachorros de classe média”.

Casados e separados


Tais diferenças costumam surgir somente depois da família adotar um animal e elas podem exacerbar os tipos de discórdia mais comuns em relação aos cuidados com o animal - como quanto gastar em consultas veterinárias, com que frequência levar o cachorro para passear e como o animal deve interagir com as crianças menores. Não é difícil encontrar o efeito adverso destes conflitos: quase todo mundo conhece um casal que já brigou por causa dos animais de estimação, chegando mesmo ao divórcio, porque o cocker spaniel da mulher deu uma mordidinha no rottweiler do marido.

E são inúmeros os solteiros “casados” com algum cãozinho ou cadelinha peluda – banindo qualquer pretendente que não se apaixone, e rápido, pelo animalzinho. A razão que leva a tais sentimentos tão profundos é que eles se tratam de ideologias, assim como de tendências culturais e psicológicas.

No verão de 2007, o sociólogo David Blouin, da Universidade de Indiana, realizou entrevistas extensas com 35 donos de cachorros daquele estado americano, escolhidos para representar uma mistura diversificada de cidades, países e moradores do subúrbio. Através da pesquisa, ele constatou que as pessoas podem ser divididas em três categorias de crenças em relação aos animais de estimação.

Os “controladores” enxergam os animais de estimação como um apêndice da família, um ajudante útil inferior aos humanos que, apesar de amado, é substituível. Muitas pessoas de áreas rurais – como os imigrantes entrevistados por Terrien – se encaixam nesta categoria.

Os “humanistas” são os donos que estimam seus animais domésticos como um filho preferido ou um companheiro especial, mimando o animalzinho, deixando que ele durma na cama e lamentando por sua morte como se fosse a de um filho. Este grupo inclui as pessoas que preparam refeições especiais para o animal, levam o mesmo para a aula de ginástica, para a terapia – ou que os incluem no testamento.

O terceiro grupo, dos “protecionistas”, batalha pela defesa do animal. Estes donos têm opiniões muito fortes sobre o bem estar dos animais, mas suas opiniões sobre como um animal de estimação deve ser tratado – se deve ou não dormir dentro de casa ou quando deve ser sacrificado – variam de acordo com o que acreditam ser “o melhor” para o animal. Este grupo inclui as pessoas que resgatam um cachorro preso a uma árvore do lado de fora de uma loja, geralmente devolvendo o mesmo ao dono com um discurso sobre como cuidar de um animal.

“Estas são ideologias, por isso os protecionistas são muito críticos em relação aos humanistas, que por sua vez são muito críticos em relação aos controladores, e assim por diante. Podemos ver como isto gera problemas se os membros de uma família têm tendências diferentes. Qualquer decisão sobre o cachorro, por menor que seja, deve ser pesada”, disse Blouin.

Inclusive quanto ao fim da vida do animal: é possível que casais discordem não somente sobre o momento em que um animal precise ser sacrificado, mas que também tenham reações emocionais completamente diferentes em relação à perda. “Para o dono que trata seu animal como um filho, aquela perda representa a perda de um filho – e é claro que supostamente os filhos não deveriam morrer antes de seus pais”, disse Terrien. É uma crise do fim da vida, que geralmente dá início a um longo período de tristeza. Enquanto que para o parceiro que enxerga o animal de forma diferente, a morte pode representar um alívio.

Nada disso justifica que um animalzinho engenhoso – usando a poderosa combinação de fofura, olhares sofridos e episódios em que fica preso dentro de caixas ou come giz de cera – não possa unir crenças tão antagônicas. Mas, terapeutas familiares dizem que, geralmente, estes diplomatas de quatro patas precisam de uma mãozinha dos animais de duas pernas para terem algum êxito.

Terrien conclui: “Ou as pessoas se dão conta disso e tentam lidar com as diferenças, ou acabam abrindo mão do animal – o que acontece com muito mais frequência do que imaginamos”.

Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
Rafael Ferreira Ribeiro Lima,
Leila Maria de Albuquerque,
Maria Aparecida de Moura Leite, 
Datis Alves de Souza,
Aurea Leite de Camargo,
Maria de Fátima Vendas Muzzi, 
Thiago Ferraz de Oliveira,
Ruth Lopes Abreu,
Sandra Rodrigues Pereira,
Paulo da Costa Oliveira,  
Paulo César Reis Mendonça,
Fernanda Marques Ferreira,
Terezinha Alves Araújo,
Lucilaine Aparecida Tenorio de Medeiros,
Maria Helena Alves Lima,
Rosana Paes de Matos,
Laura Holsback Alvarenga,
Renato de Freitas Martins,
Miriam Fontoura Prata,
Nelson Maia de Melo,
Cleonice Gomes de Oliveira,
Rodolfo de Morais Dias,
Jussara Leite Barbosa,
Hugo Sabatel Neto,
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Solange Xavier Vargas,
Augusto Coelho Freire,
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Rubens Mendes Pereira,
Lilian Gabriela Heideriche Garcia,
Ana Maria Coimbra Santos,
Nelly Vasconcelos Coelho,
Valmir de Andrade Ferreira,
Eliana Miyuki Aratani Kaiya, 
Flávia Ribeiro Ramirez,
Laurinda Paiva Peixoto,
Patrícia de Souza Queiroz,
José Antônio Braga,
Elaine Viana Nunes,
Washington Justino Gonzaga,
Maria Stella Maia Pepino,
Vânia de Toledo Neder,
Osvaldo de Moraes Barros Neto,
Raquel Barbosa Franco,
Suely Ferreira Leal,
João Rafael Sanches Florindo,
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Lúcia Torres Marchine,
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Adriana de Oliveira Rocha,
Suely Luiza Comerlato,  
Benedito Celso Dias,
Alirio Leitun,
Débora Queiroz de Oliveira,
Edson Pulchério Alves,
João Borges da Silva Filho,
Mário Zan Moreira,
Marcelo Luiz Ferreira Correa,
Valdecir Jorge,
Sérgio Carlos Borges,
Dr. Ruy Alberto Bueno,  
Marta Maria Vicente,
Guilherme Nucci dos Reis,
Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
Cláudia Garcia de Souza Trefilo,
Leonardo Marques Mourão,
Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

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Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

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