O cantor João Fígar não define o atual momento da carreira como a volta aos palcos, mas assume que andou afastado das apresentações. “Aconteceu um acidente com meu filho e tive um pouco distante dos shows. De certa forma, pode ser realmente considerada uma volta”, aponta o músico, que canta amanhã no Pantanartes, às 21h.
Com trajetória que soma mais de três décadas, é um dos integrantes da geração que modernizou a música sul-mato-grossense, aliando tradição a achados contemporâneos.
Passou por fase distintas. Fígar lembra que a música fez parte da sua rotina desde a infância. “Com 9 anos, lembro de, escondido de meus pais, ir ao Teatro Glauce Rocha assistir a um festival estudantil coordenado pelas professoras Maria da Glória Sá Rosa e dona Henedina (Hugo Rodrigues). Fui convencido a subir no palco e participar. Fui premiado como melhor intérprete e ganhei 5 quilos de arroz”, recorda, bem humorado, do primeiro cachê.
Mais adiante, fez parte do Grupo Terra, que buscava integrar a sonoridade local à latino-americana. “Entrei com 15 anos. Era uma época em que as músicas paraguaia e boliviana tinham maior divulgação. A paraguaia até vingou mais, o mesmo não aconteceu com a andina. Hoje, a música gaúcha tem influência bem maior em no nosso Estado”, destaca, ao comentar aspectos da identidade sonora de Mato Grosso do Sul.
Encontros
Próximo do fim da década de 1970, João integrou a mítica e fundamental formação Tetê e os Lírios Selvagens. “Os únicos não Espíndola que fizeram parte somos eu e o Almir Sater”. Por sinal, foi por meio do Almir que Fígar conseguiu gravar o primeiro solo e ainda ganhar o nome artístico. “Estava voltando da Europa, depois de um ano e meio por lá estudando e tocando, que encontrei o Almir no avião. Ele terminou me apresentando e também o Geraldo Rocca e a Alzira Espíndola à gravadora 3M, na qual lançamos nosso discos”.
Com esse trabalho, João Fígar foi indicado ao Prêmio Sharp de Revelação de Pop/Rock, no ano em que o grande vencedor foi Ed Motta. Antes da estreia fonográfica, o músico assinava com seu nome de batismo, João Figueiredo Júnior. “O Almir me chama de João Figa e eu achava que era Fígar. O diretor da gravadora gostou do nome e acabou ficando”, lembra.
Em 1993, lançou “Rondon e Fígar”, ao lado de Guilherme Rondon. O álbum teve boa repercussão obtendo inclusive o Prêmio Sharp de Melhor Música Regional com “Paiaguás”. A parceria durou cerca de oito anos e possibilitou que os músicos se apresentassem em vários pontos do País. Fígar acha que faltou a vários representantes da geração que iniciaram na música sul-mato-grossense nas décadas de 70 e 80 divulgar o trabalho com mais intensidade fora do Estado, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo. “O que se percebeu é que aqueles que tentaram isso conseguiram ampliar o seu trabalho”.
Atualmente, acha que não há o reconhecimento amplo do que se produziu na música local em outros períodos. “Esses dias, depois que foi exibida uma reportagem comigo na televisão, uma mulher me disse que a música ‘Solidão’ representava muito para ela e o marido. Um reconhecimento legal. No entanto, não sinto isso das novas gerações”.