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Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz destaque no musical "Hairspray" Aline Cunha

Em cartaz com "Hairspray" na pele de Motormouth Maybelle, a personagem é uma figura central na trama. "Interpretar a Maybelle, em Hairspray, é uma realização e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade social."

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Aline Cunha é uma atriz e cantora paulistana que, apesar de ter uma carreira relativamente recente no teatro musical, vem ganhando destaque e reconhecimento no cenário artístico. Com uma carreira de cantora profissional iniciada aos 15 anos, ela se destacava em concursos de karaokê, onde sua habilidade vocal já chamava atenção.

Com uma forte conexão com a música, influenciada principalmente por seus pais, que a apresentaram a grandes nomes da música nacional e internacional, como Michael Jackson, Whitney Houston, Sandra de Sá, Tim Maia e Elis Regina, essas referências moldaram sua paixão e estilo musical e trilharam parte do seu caminho.

Aline é um nome em ascensão no teatro musical brasileiro, ela tem se destacado com sua força vocal e interpretação intensa. Com uma carreira que começou na música e se expandiu para os palcos, ela já enfrentou desafios pessoais e profissionais para chegar onde está hoje, incluindo sua atuação de destaque como Motormouth Maybelle no musical "Hairspray".

Embora formada também em Gastronomia pela cruzeiro do Sul, Aline sempre buscou aperfeiçoamento em sua carreira artística, participando de cursos e oficinas que enriqueceram sua formação, mas foi somente em 2022 que ela tomou a decisão de se dedicar integralmente à arte, deixando para trás seu antigo emprego em uma empresa para seguir sua verdadeira paixão.

"Foi uma virada de chave. Trocar a segurança de um emprego tradicional pelo incerto caminho das artes foi assustador, mas extremamente libertador", conta Aline, referindo-se a sua participação no musical “Se Essa Lua Fosse Minha”, considerada por ela um divisor de águas. "A conexão que senti com o público e com o próprio processo criativo foi algo que mudou minha vida para sempre", relembra.

Outro momento marcante de sua carreira aconteceu no primeiro semestre deste ano, ao ser convidada para dar vida a cantora Sister Rosetta Tharpe no musical “O Rei do Rock”, uma das figuras mais influentes e pioneiras do rock and roll. "Interpretar Rosetta foi um dos maiores desafios da minha carreira até agora. Ela foi uma mulher à frente de seu tempo, uma verdadeira revolucionária, e dar vida a essa personagem tão importante me fez crescer muito como atriz", reflete ela, que, anteriormente, esteve no elenco de “Bonnie & Clyde - O Musical”.

Atualmente, Aline está em cartaz com a nova montagem brasileira do musical “Hairspray”, onde interpreta Motormouth Maybelle, um dos papeis principais da produção, que exige uma performance vocal potente e emocionante na pele de uma mulher forte e inspiradora, que luta pela inclusão e igualdade racial durante a década de 1960.

Aline se destaca em números poderosos como "I Know Where I've Been", canção que carrega uma mensagem de resistência e esperança, temas centrais da trama, e que vem arrebatando plateias - com aplausos de pé, em cena aberta - tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, onde a produção segue em temporada no Teatro Renault. "Toda vez que canto essa música, sinto a importância da mensagem que estamos transmitindo. É um momento muito especial, não só para mim, mas para todos que estão assistindo", comenta Aline.

"Sou fã da Queen Latifah e acompanhei seu trabalho em diversas produções. Ela foi uma das minhas principais referências para construir a personagem. A responsabilidade é enorme, mas ver a resposta do público faz tudo valer a pena." Para Aline, o impacto do espetáculo é tangível: “Recebo depoimentos de pessoas que saem do teatro inspiradas. Interpretar a Maybelle é uma realização e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade social.”

Mesmo com uma carreira que começou a se consolidar recentemente, Aline já se firmou como uma artista talentosa no teatro musical brasileiro. "Estar no palco é onde me sinto mais viva e conectada. Cada projeto me desafia e me motiva a evoluir como artista", conclui, ansiosa para os próximos desafios que virão em sua promissora jornada artística.

Aline é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista exclusiva ao Caderno ela fala de carreira, escolhas, desafios e de seu papel de tanta representatividade em "HairSpray".

“Hairspray”- Foto: João Caldas

CE - Como foi o seu início na carreira de cantora aos 15 anos? O que a despertou para ela e como descobriu os concursos de karaokê?
AC -
Eu sempre gostei de cantar e em casa fazíamos festas de família com karaokê. Meu pai sempre gostou de cantar também, então éramos parceiros ou concorrentes nos concursos que existiam entre os anos 2000 e 2005. Em um desses concursos, um dos jurados chamado Lelo Andrade, gostou do meu timbre e me convidou para participar de um grupo chamado Orquestra de Boca.

Trabalhávamos como garçons cantores e fazíamos muitas apresentações com temas musicais ou produções próprias para eventos corporativos. Meus pais ou tios me acompanhavam por eu ser menor, mas deu tudo certo e aprendi muito com os participantes do grupo, o nosso instrutor já mencionado acima e eventos que participamos.

CE - Quais foram as influências musicais mais marcantes que moldaram seu estilo e paixão pela música?
AC -
Muitas das minhas influências vieram de filmes e histórias marcantes. Lembro que quando tinha entre 5 e 6 anos houve um seriado na Globo chamado “Os Jacksons” que fez com que eu virasse muito fã de Michael Jackson.

Um filme chamado “Sarafina” com a Whoopi Goldberg ajudou a despertar a minha vontade de cantar, pois mostrava que a música trazia esperança, vontade de lutar em grupo, valorização da mulher e mãe na época do apartheid. A partir daí comecei a assistir muitos filmes com música, como O Guarda-Costas e Mudança de Hábito, sempre aprendendo as músicas principais do filme.

Meus pais também gostavam muito de dançar e íamos em bailes para nos divertir. Ali comecei a desenvolver meu gosto por música dos anos 70 tipo Stevie Wonder, Chaka Khan e Earth, Wind And Fire e samba-rock tipo Clube do balanço, Jorge Ben jor e Trio Mocotó. 

Aos 15 anos entrei num grupo chamado Orquestra de Boca, que cantava músicas de musicais e quando entrei em algumas bandas comecei a cantar rock e meus favoritos no momento, Soul, blues e jazz.

Escreva a legenda aqui

CE - Como foi sua experiência ao vencer o concurso internacional de karaokê em 2019 e representar o Brasil no Japão?
AC -
 Foi uma das melhores sensações e experiências da minha vida! Eu não sabia que esse concurso existia e uma amiga muito querida, Renata que me indicou dizendo que caso eu participasse com certeza eu iria ganhar. Houveram várias fases e os jurados e responsáveis pelo concurso nos davam  orientações a cada etapa, para que pudéssemos melhorar a nossa performance.

Procurei seguir à risca cada uma delas… e ganhei o concurso em primeiro lugar junto a um amigue que hoje podemos chamar de “Rua”. A partir do resultado tivemos semanas de muita preparação, escolha de repertório e coreografia, interação com a cultura japonesa e corremos atrás da parte burocrática, pois eu nunca tinha saído do país, nem tinha passaporte. 

Acredito que a ficha caiu só quando chegou o dia da viagem e pude me dar conta de que tudo aquilo realmente estava acontecendo. Foi incrível todo o período da viagem, conhecer novas pessoas, valorizar muita coisa que temos aqui no Brasil ao mesmo tempo que via como Japão está avançado em matéria de tecnologia e segurança, ver quanta gente talentosa tem ao redor do mundo e conhecer um pouco de suas histórias. Fiquei em oitavo lugar na categoria solo e em segundo na categoria dueto.

CE - O que a motivou a fazer a transição de uma carreira em gastronomia para se dedicar integralmente ao teatro musical?
AC -
 O meu sonho era fazer faculdade de gastronomia e graças a ajuda dos meus pais e enfrentando dois empregos para juntar o dinheiro eu consegui realizar esse sonho. O único problema é que alguns sonhos nos distanciam da realidade e digo isso, pois na faculdade é que reparei que gastronomia é um curso na área de negócios, no qual ela te dá a base para entender os conceitos, modos de preparação, segurança alimentar e tudo que envolve a boa administração da área de A&B, mas não te dá a experiência necessária para atuar no mercado.

Então é uma área muito boa para quem já tem recursos para abrir o próprio negócio ou já trabalha na área, e no meu caso não tinha nenhum dos dois! Eu nunca me distanciei da música e surgiram oportunidades que fizeram com que eu ficasse ainda mais próxima dela e no momento resolvi investir. Mas não desisti de trabalhar nessa área, mas precisa de dedicação, tempo e se possível especialização.

                       Elvis - Divulgação

CE - Quais foram os principais desafios ao fazer a transição de uma carreira segura em outra área para o incerto mundo das artes?
AC - 
Com toda certeza são vários desafios que precisam ser superados para tomar uma decisão tão importante. No meu caso enfrentei a insegurança de ir para algo desconhecido, medo de ter tomado a decisão errada e ouvir aquele famoso “sabia que não ia dar certo” das pessoas, enfrentar julgamentos, saber que está passando por uma transição de carreira depois de ter passado dos 30 anos…

Mas aprendi que na vida a gente precisa aprender a finalizar ciclos e saber identificar oportunidades. Eu não estava mais gostando da rotina que eu tinha e sabia que se não fizesse alguma coisa ela ia continuar assim por muito tempo, tanto que trabalhei por 10 anos na mesma área e sinceramente, quando a oportunidade de entrar no Teatro musical “bateu na minha porta” não queria ficar me perguntando como teria sido se eu tivesse ido… Então resolvi enfrentar com medo mesmo até o momento tem dado certo.

CE - Como foi sua estreia nos palcos com o musical "Se Essa Lua Fosse Minha" e o que esse projeto significou para você?
AC -
 “Se Essa Lua Fosse Minha” foi um dos espetáculos mais especiais que pude participar. Ele está em meu coração, pois foi a minha primeira peça e a única que meu pai pôde me assistir antes de falecer na pandemia. Acredito que essa linda história desbloqueou a minha entrada no teatro musical, pois depois fui convidada para participar de uma outra peça e comecei a passar em audições.

É uma obra que o mundo deveria conhecer, pois trata do nosso folclore envolvida numa história de amor. Uma verdadeira obra de arte brasileira desenvolvida por Vitor Rocha e Elton Towersey. A experiência foi realmente desafiadora, pois eu não tinha experiência nenhuma com teatro e tive que ensaiar praticamente todos os dias na casa da preparadora, aplicar os feedbacks dado pela diretora e procurar me convencer que eu estava realizando bem aquele papel, pois o elenco era INCRÍVEL!!!! 

CE - Que desafios você enfrentou ao interpretar a pioneira do rock Sister Rosetta Tharpe no musical "O Rei do Rock"?
AC -
 Um dos principais desafios que encontrei foi encontrar materiais daquela época para referência e claro, que a responsabilidade de interpretar alguém que viveu e foi tão importante na história da música.

Existem muitos vídeos dela tocando, cantando e dançando, mas quase nada dela num dia normal ou falando sobre sua vida então eu não sabia como ela se comportava, que cor gostava, como andava, comia, conversava entre outras ações, mas com tanta pesquisa acabei encontrando uma entrevista de alguns segundos dela falando com um repórter e dali criei um modo de interpretá-la.

Um outro desafio muito grande era que ela era uma excepcional guitarrista e eu nunca toquei guitarra, então resolvi comprar uma parecida com a dela e fazer algumas aulas para ter uma vivência mais próxima possível de alguém que toque guitarra.

CE - Sobre a sua atuação como Motormouth Maybelle em "Hairspray", como foi a preparação? Buscou referências em outras adaptações ou atrizes como Queen Latifah, intérprete no cinema e Graça Cunha,  intérprete na primeira montagem brasileira?
AC -
 Os diretores e os criativos fizeram uma interação essencial com todo o elenco de Hairspray, pois antes de contar uma história da Broadway, nós estamos tratando de temas importantíssimos e que ainda estão presentes na sociedade: a quebra de padrões na tv, racismo, gordofobia e até mulheres que sentem vergonha do próprio corpo.

Então nos envolvemos com várias pesquisas de época, conversamos sobre depoimentos pessoais sobre racismo, lgbtqia+, falta de representatividade, indisponibilidade de acessórios ou vestimenta para obesos, lugar de fala entre outros temas que foram fundamentais para que TODOS pudessem desenvolver seu personagem. 

Eu busquei referências de mulheres da época dos anos 60, mães, principalmente solteiras, influencers obesas e mulheres inspiradoras que mostram que você é linda do jeito que você é e se tiver que fazer algo deve ser por você e nunca para agradar o outro.

Para atuação eu sou muito fã da Queen Latifah e procuro acompanhar o seu trabalho em todas as produções. Ela foi uma das minhas principais referências, mas também acompanho a Viola Davis, Octávia Spencer, Solange Couto, Zezé Motta e outras mulheres extraordinárias. Tive a honra de dividir o palco com a Graça Cunha em alguns shows e acho que ela é uma mulher sensacional e verdadeira inspiração de como ter presença de palco.

Infelizmente no ano que Hairspray teve a sua primeira edição, eu não tinha contato algum com Teatro musical, então assisti alguns momentos da peça por vídeo apenas.

CE - Como tem sido a recepção do público nas apresentações de "Hairspray" e qual a sensação de interpretar uma personagem tão importante em termos de inclusão e igualdade racial?
AC -
 O público tem recebido o espetáculo de uma maneira muito especial. Aplausos em pé, depoimentos de pessoas que dizem que saíram completamente inspiradas do teatro, outros dizendo que é uma excelente peça para levar alguém pela primeira vez ao teatro e até pessoas que se sentem orgulhosas por serem da área e assistir um musical tão inspirador.

Estou com a sensação de ser mais uma pessoa que está na luta para que as coisas mudem ao mesmo tempo que realizo mais um sonho. A Maybelle é uma das minhas personagens preferidas e interpretá-la no teatro é uma tremenda responsabilidade, mas uma realização profissional inesquecível.

Recebo depoimentos de pessoas que estão se inspirando na minha presença no palco para que não desistam de seus sonhos, na vida pessoal e na vida profissional e isso faz com que eu me sinta muito orgulhosa de cada ação que eu tive para realizar para estar neste espetáculo.

CE - O que você acredita que o futuro reserva para sua carreira e quais são seus próximos desafios no teatro musical?
AC -
 Ainda não sei o que o futuro me reserva. Procuro aproveitar cada momento, pois a gente nunca sabe o dia de amanhã. Espero que surjam personagens tão inspiradores quanto os que tem no musical Hairspray. 

Todo novo personagem é desafiante, mas acho que no meu caso seria interpretar uma vilã e/ou protagonista/alternante, ou participar de algo no audiovisual ou dublagem.

MÚSICA REGIONAL

Márcio de Camillo canta músicas de Geraldo Rocca em seu novo trabalho

Os dois me levam de volta ao Litoral Central, definição cunhada por Geraldo Roca para traduzir um pedaço de Brasil onde a água doce domina uma vastidão de terra que, supõe-se, um dia foi mar

01/04/2025 10h00

"O punhal afiado da poesia de Geraldo Roca corta manso na voz de Márcio de Camillo, sem perder o fio, nem a capacidade aguda de ferir de morte o senso comum" Foto: Divulgação/Márcio de Camillo

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Recebo mensagem de Márcio de Camillo me avisando sobre seu novo trabalho. “Márcio de Camillo canta Geraldo Roca”. Um show ao vivo que virou disco e já está disponível nas plataformas digitais.

Aproveito a estrada entre a minha casa e o trabalho para ouvir o disco. Ouvir Roca na voz de Camillo é quase um delírio. Uma surpresa, uma saudade imensa, muitas lembranças. Os dois me levam de volta ao Litoral Central, definição cunhada por Geraldo Roca para traduzir um pedaço de Brasil onde a água doce domina uma vastidão de terra que, supõe-se, um dia foi mar.

A praia pantanal me serve de ponte para unir, em mar aberto imaginário, o Rio de Janeiro – lugar de nascimento – ao coração do Brasil, onde Geraldo Roca se fez e se desfez desse plano. Seu coração, irrigado por sangue pantaneiro, fazia dos campos alagados, das fronteiras paraguaia e boliviana seu berço metafísico. E foi assim sempre.

Talvez isso também sirva pra explicar por que a passagem meteórica dele por aqui tenha início figurado e fim real nestas plagas, onde aprendemos desde cedo a sonhar em Guarany e poemar em Manoelês.

Os carros passam por mim em alta velocidade. Eu ouço Camillo cantando Roca. E me transmuto. O punhal afiado da poesia de Geraldo Roca corta manso na voz de Márcio de Camillo, sem perder o fio, nem a capacidade aguda de ferir de morte o senso comum. Não, Geraldo não cabe em uma única caixinha. E Márcio sabe disso. 

Às vezes, ele encarna um bardo. Um Dylan pantaneiro em letras incomuns, longas e lisérgicas. Em outras, reúne numa só figura a essência folk de Crosby, Still, Nash & Young. Mas nesse universo BeatFolkPolkaRock há espaço para a mansidão de um Caymmi fronteiriço, para a sutileza urbana de um Jobim. Geraldo, como eu disse, não cabe numa caixinha.

E tudo isso se transforma em mais, muito mais, na homenagem à altura dos arranjos, das violas, da flauta, do celo reunidos por Márcio de Camillo nesse show que vira disco e que se torna eterno de agora em diante. Pra gente não se esquecer. Nunca. 

Quando Geraldo Roca decidiu sair de cena, fechar as portas desse mundo, que já lhe arreliara o suficiente, era muito cedo pra isso. Foi o que todos pensamos. Mas ele era dono de seus próprios rumos. Sua poesia e sua música seguem aqui. Pra nossa sorte, a desassossegar nossos ouvidos e almas. Agora, mais ainda, na voz também infinita de Márcio de Camillo. 

P.S.: Márcio. A foto da capa é uma obra de arte. É você nele... É ele em você. Uma fusão, uma incorporação. Cara... que disco!!!

Brasília, 25/3/2025

"Souber ler a música de fronteira"

O cantor, compositor e instrumentista Márcio de Camillo estreou o show “Do Litoral Central do Brasil: Márcio de Camillo Canta Geraldo Roca”, no Teatro Glauce Rocha, no dia 24 de setembro de 2024. Com direção de Luiz André Cherubini, o show é uma homenagem ao “cantautor” Geraldo Roca, falecido em 2015, considerado um dos principais compositores da música regional de Mato Grosso do Sul.

Roca é autor, em parceria com Paulo Simões, da música “Trem do Pantanal”, sucesso na voz de Almir Sater. Considerado maldito por seus pares, era chamado de príncipe por Arrigo Barnabé. Sua produção musical pode ser considerada pequena, se tomarmos como referência a quantidade de composições e discografia, mas analisada a fundo, perceberemos um artista de voz potente e marcante, com composições inspiradas e profundas.

São polcas, rocks, chamamés, guarânias e até baladas, e Márcio de Camilo, amigo e admirador de Roca, aprofundou-se na pesquisa para definir o repertório como “uma panorâmica deste artista reverenciado, cantado e gravado por amigos que, assim como ele, fizeram parte da ‘geração de ouro’ da música pantaneira sul-mato-grossense: Paulo Simões, Alzira E, Geraldo Espíndola, Tetê Espíndola, Almir Sater, entre muitos outros”, como afirma Camillo.

“Além de um músico que eu admirava muito, não só como compositor, mas como violonista, violeiro e cantor, Roca influenciou muito a música da minha geração”, conta o músico. “Além disso, ele era meu vizinho, morava em frente à minha casa. A gente saía para jantar, para conversar, éramos amigos. Conheço a obra dele e vejo a obra dele na minha, compusemos uma canção juntos, em parceria com outros compositores, chamada ‘Hermanos Irmãos’”, relembra Camillo.

“Também dividimos uma faixa no CD ‘Gerações MS’ chamada ‘Lá Vem Você de Novo’. Roca é referência e pedra fundamental na construção da moderna música sul-mato-grossense. Ele soube ler a música de fronteira, mesclando elementos do rock, do pop, do folk, criando um estilo único. Ele é um verdadeiro representante do folk brasileiro”, conta.

A arte visual do show, com fotos feitas por Lauro Medeiros, foi baseada no álbum “Veneno Light”, que Geraldo Roca lançou em 2006. A foto principal de divulgação do show faz referência direta à capa deste álbum, cuja foto original é assinada pelo cineasta Cândido Fonseca. (Da Redação)

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Curiosidades

1º de abril: verdades sobre a origem do Dia da Mentira

Existem várias versões sobre o surgimento da data onde é "permitido" pregar peças

01/04/2025 07h00

1º de abril, dia da Mentira

1º de abril, dia da Mentira pathdoc / Shutterstock.com

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Mentir é um ato provavelmente tão antigo que podemos considerá-lo milenar. No entanto, o Dia da Mentira passou a ser celebrado oficialmente em 1º de abril a partir da instituição do Calendário Gregoriano, no século 16, em substituição ao Calendário Juliano, determinado no Concílio de Trento (o conselho ecumênico da Igreja Católica), na Itália.  

O calendário Gregoriano divide o ano em quatro estações distribuídas ao longo de 12 meses, ou 365 dias, de acordo com o movimento da terra e estabelece o primeiro dia do ano em 1º de janeiro. 

Historiadores contam que, com a instituição do novo calendário pelo papa Gregório XIII, em 1582, parte da população francesa se revoltou contra a medida e se recusou a adotar o 1º de janeiro. Os resistentes à mudança sofriam zombarias pelo resto da população, que os convidavam a festas e comemorações inexistentes no dia 1º de abril. Eram chamados de “tolos de abril”, já que este é o mês que a Páscoa acaba ocorrendo na celebração católica, evento que, anteriormente, iniciava o ano. 

Desse modo, nascia a tradição de zombaria e pregação de peças nesse dia, como uma forma bem humorada de protestar contra novas mudanças. 

Já a Encyclopedia Britannica, do Reino Unido, defende que as verdadeiras origens do Dia da Mentira não são totalmente conhecidas, já que a data é próxima à data de festivais como a Hilária, da Roma Antiga, em 25 de março e a celebração de Holi na Índia, que termina em 31 de março, que podem ter influenciado esse marco. 

No Brasil, a tradição de pregar peças no Dia da Mentira foi introduzida no ano 1828, quando o jornal mineiro A Mentira resolveu fazer uma brincadeira “mentirosa” e trouxe, na sua primeira edição, a morte de Dom Pedro I na capa, sendo publicado justamente no dia 1º de abril. Porém, o monarca só viria faleceu anos depois, em 1834, em Portugal. 

Em todos os casos, a ideia central do Dia da Mentira é fazer alguém acreditar em algo que não é verdade, sendo “feito de bobo”. Hoje, é comum receber ou enviar mensagens com brincadeiras aos mais próximos para dizer que a pessoa “caiu no 1º de abril”. 

Quando se torna um problema clínico

Apesar de ser “permitido” nessa data, a mentira pode se tornar um hábito e comprometer e degradar relações sociais. Notícias falsas ou com dados manipulados, por exemplo, podem ser considerados fake news e são punidas legalmente. 

Para o psiquiatra Fernando Monteiro, existem vários níveis de análise para a questão da mentira. Para ele, mentira é dar alguma informação ou omitir alguma informação de forma deliberada para uma outra pessoa.

“Imagine, por exemplo, uma pessoa que fala que existe uma conspiração da máfia chinesa para matá-la. Se essa pessoa realmente acredita nisso, dizemos que ela está ‘delirando’. Mas se ela não acredita nisso de verdade, ela está ‘mentindo’.Agora, imagine uma pessoa que diga que o Sol é um planeta. Mas ela está dizendo isso pois não teve acesso às descobertas científicas atuais. Nesse caso, ela não está 'mentindo', ela só está 'equivocada'. Como nossa mente é limitada, podemos cometer erros não intencionais. E isso é diferente de 'mentir', comenta o médico.

Fernando continua dizendo que a mentira, assim como diversos comportamentos, faz parte do espectro normal do ser humano.

“Como diria o Dr. House, "todo mundo mente". Não que isso seja certo ou errado, mas é um fato”, afirma e complementa dizendo que devemos tomar cuidado para “não transformar em doença, aquilo que é apenas um comportamento humano.” 

No entanto, existe um ponto onde esse comportamento pode se tornar estranho e anormal, quando deixa de ser algo normal do ser humano e se torna algo “patológico”. O médico explica que, quando uma pessoa desenvolve uma perturbação clinicamente significativa, causando prejuízos na vida social, educacional, profissional, ela desenvolveu um transtorno ou doença mental. 

“Para a mentira alcançar níveis preocupantes do ponto de vista Psiquiátrico, dois fatores são fundamentais: 

  • A pessoa precisa ter uma perda do controle do comportamento. (Exemplo: ela não tem absolutamente nenhum motivo para mentir, mas o impulso de mentir é tão forte que ela o faz.)
  • O comportamento precisa estar afetando várias áreas da vida (relacional, profissional, educacional, etc)”, finaliza. 

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