Monique Hortolani está no filme “CIC – Central de Inteligência Cearense”, com direção de Halder Gomes, que estreiou nos cinemas no dia 28 de agosto. No longa, a atriz interpreta a agente secreta Divina, que é o cérebro por trás da CIC e braço direito do chefe Espírito Santo (Nill Marcondes). Para dar vida à personagem, ela mergulhou no universo das artes marciais.
Aos 37 anos e 12 de carreira, Monique tem no currículo o musical infantil “Maísa no ar” e os espetáculos “Viúva, porém Honesta” e “Bonitinha, mas ordinária”. No cinema, fez parte do elenco do longa-metragem “Divaldo, o mensageiro da paz”. Na TV, atuou na série “A vida secreta dos casais”, da HBO, na novela “Gênesis”, da Record e na série “O Cangaceiro do Futuro”, da Netflix
Baiana, Hortolani é autora e roteirista, e atualmente desenvolve um longa-metragem inspirado em histórias reais. Também é idealizadora do projeto Destrava, dedicado ao ensino de comunicação e oratória, por meio de cursos e consultorias para pessoas e empresas que buscam destravar o seu potencial comunicativo.
A atriz é Capa do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala sobre carreira, escolhas e estreias.
A atriz Monique Hortolani é capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Nicole Kruger - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana CE - Monique você está em cartaz nos cinemas com o filme “CIC – Central de Inteligência Cearense”. Conte sobre esse trabalho e sobre a dobradinha com Halder Gomes, diretor do projeto com quem você já trabalhou antes.
MH - Foi uma alegria enorme estar em CIC! É um filme muito diferente do que a gente costuma ver no Brasil, porque junta espionagem e ação com o humor cearense, que tem um ritmo e uma sagacidade únicos. O resultado é uma comédia de ação cheia de identidade, que fala a nossa língua, valoriza a nossa cultura e, ao mesmo tempo, dialoga com o grande público.
A minha personagem, a Divina, chega nesse universo com um jeito muito próprio: moderna, cabelo azul, batom preto, meio rock and roll (risos). Ela é uma agente nada óbvia, que não tem nada daquela espiã clássica dos filmes de fora e é justamente isso que torna tudo tão divertido. E trabalhar novamente com o Halder foi muito especial. Ele tem esse olhar generoso para os atores e uma paixão enorme por colocar o Nordeste no centro das narrativas.
Já tínhamos feito O Cangaceiro do Futuro, na Netflix, juntos, e reencontrá-lo em CIC foi como retomar uma parceria criativa muito bonita. Halder é aquele diretor que sabe o que quer, mas também dá liberdade pro elenco propor, arriscar e criar. Isso faz toda a diferença na hora de dar vida a uma personagem como a Divina.
CE - O filme mistura comédia com ação. Como é pra você como atriz fazer um trabalho diferente do que está acostumada?
Aliás, todo artista diz que fazer rir é mais difícil: e pra você?
MH - Foi um desafio e, ao mesmo tempo, uma delícia! Eu nunca tinha feito um trabalho que misturasse ação com humor, então foi muito especial. A comédia tem essa liberdade de brincar com gêneros, de não se levar tão a sério… então colocar espionagem, cenas de ação e, no meio disso, agentes meio atrapalhados e meio super-heróis brasileiros foi divertidíssimo.
A Divina, por exemplo, não luta no filme, mas eu quis que o corpo dela tivesse essa prontidão de agente secreta. Por isso comecei a treinar artes marciais durante a preparação. Achei que seria só pro filme, mas acabei me apaixonando (risos). Hoje sigo treinando, virou parte da minha rotina, até já conquistei a faixa camuflada, acredita? (risos). Esse treino me ajudou muito a entender fisicamente como habitar esse universo, mesmo sem ter cenas de luta. Agora, sobre fazer rir… é realmente uma arte!
Exige ritmo, escuta, generosidade em cena. E o mais bonito é que a graça não vem de algo forçado, mas do encontro, da troca com o outro. No caso da Divina, o humor nasce muito da forma como ela se relaciona com os personagens, dessa sagacidade que ela tem. Pra mim, foi um desafio super gostoso, porque eu não sou comediante, mas adoro humor. Foi um aprendizado enorme! Cada trabalho nesse gênero me dá a chance de experimentar coisas novas e crescer como atriz.
CE - E como é fazer cinema nacional neste momento em que as produções brasileiras estão sendo aclamadas pelo mundo?
Você cogita carreira internacional incentivada pelo sucesso a arte brasileira lá fora?
MH - A gente tá vivendo um momento muito especial do cinema nacional. Essas grandes premiações mostraram pro Brasil e pro mundo que as nossas histórias têm força, originalidade e qualidade técnica pra competir de igual pra igual com qualquer produção internacional. Ver o cinema brasileiro sendo aplaudido lá fora é emocionante demais e dá um orgulho enorme!
Ao mesmo tempo, eu vejo esse momento também como uma responsabilidade, a gente precisa aproveitar essa visibilidade pra abrir portas, trazer mais diversidade de narrativas e continuar formando público. Porque o reconhecimento é incrível, mas o desafio mesmo é transformar essa conquista de agora em algo constante, num movimento contínuo de valorização do nosso cinema. Eu acredito demais que o cinema brasileiro tem força pra dialogar com qualquer público.
As nossas histórias são universais, mas sempre carregadas da nossa identidade, que é riquíssima. E claro, penso sim em carreira internacional, mas não como um objetivo isolado. Vejo mais como uma consequência natural de um trabalho que nasce aqui, com raízes brasileiras. Acho lindo quando a nossa arte atravessa fronteiras e chega a outras culturas e, se um dia eu tiver a oportunidade de levar a minha trajetória pra fora, vou abraçar com certeza (risos).
CE - Monique é baiana e mora em SP por conta da carreira. Como você enxerga essa necessidade de tantos artistas nordestinos e de todo país que precisam se mudar para o eixo Rio-SP em busca de oportunidades profissionais nas artes?
MH - Olha, eu acho que ainda existe uma concentração muito grande de oportunidades no eixo Rio-São Paulo. Foi por isso que me mudei pra cá há 16 anos.. queria estar perto do mercado, onde as coisas estavam acontecendo com mais frequência. Não é que faltem bons profissionais em outros lugares, muito pelo contrário, o Brasil é riquíssimo em artistas, professores e escolas incríveis em todas as regiões, mas historicamente os maiores projetos e produções estavam aqui. Então, pra mim, foi um passo natural na época.
Mas é muito bonito ver como esse cenário vem mudando. Hoje tem cada vez mais produções surgindo no Nordeste, mais artistas da região ganhando visibilidade e mais histórias locais ocupando espaço nacional. CIC é um ótimo exemplo, um filme de humor cearense, cheio de identidade, estreando em todo o Brasil. Claro que ainda tem muito caminho pela frente. O ideal seria que os artistas não precisassem sair das suas cidades para ter oportunidades.
CE - Inclusive, estamos vendo cada vez mais artistas e produções nordestinos em evidência no país. Como você observa esse movimento? Acha que já impactou sua carreira?
MH - A gente tá vivendo um momento muito especial pro mercado de atores nordestinos. Claro que ainda tem um caminho pela frente, mas é visível que estamos conquistando mais espaço e mais respeito. E o público, cada vez mais, está aberto a ver e ouvir personagens com diferentes sotaques do Brasil e isso é lindo demais. É emocionante ver tantas obras com atores nordestinos protagonizando, isso me deixa imensamente feliz. Na minha carreira, com certeza já impactou. A minha primeira experiência no cinema foi interpretando a Georgetta em Divaldo, O Mensageiro da Paz, uma personagem baiana muito especial pra mim.
Mas naquela época eu sentia que ainda havia menos visibilidade para atores nordestinos. Hoje, alguns anos depois, é emocionante perceber como esse cenário se abriu e como estamos ocupando cada vez mais espaço. Estar em projetos como O Cangaceiro do Futuro, na Netflix, e agora em CIC é resultado direto desse movimento de valorização dos artistas e das produções nordestinas. São personagens muito diferentes, com sotaques distintos, e que me deram a chance de mostrar justamente essa versatilidade que faz parte do ofício do ator.
Mas também é fato que algumas barreiras ainda existem. Muitas vezes, se você não se encaixa no imaginário que certas pessoas ainda têm sobre “como deve ser” um nordestino, pode ser mais difícil conquistar determinados espaços. Por isso é tão importante reforçar: o Brasil é miscigenado, diverso, e não existe isso de “ter cara de tal lugar”. O ator precisa ter liberdade pra transitar, interpretar personagens da sua região, mas também de qualquer outra parte do país.
A atriz Monique Hortolani é capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Nicole Kruger - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Como Monique Hortolani decidiu se dedicar à carreira artística? Sabemos que a trajetória nas artes é difícil. Já cogitou desistir?
MH - Desde criança eu sonhava em ser atriz, e o cinema sempre foi a minha paixão. Lá em casa a gente tinha um hábito muito gostoso...minha mãe alugava vários filmes e séries, a gente se juntava pra maratonar, fazia pipoca, e todo mundo comentava depois como se fosse crítico de cinema (risos). Esse clima de família, de estar todo mundo junto, de conversa em volta das histórias…”, me marcou muito e plantou essa sementinha de querer estar dentro desse universo.
Mas, claro, a trajetória artística não é fácil. Eu penso em desistir todos os dias (risos). É uma carreira muito difícil, cheia de desafios, de incertezas, de espera… e de muita rejeição também. Mas, ao mesmo tempo, é o que me move, é onde encontro sentido. Cada vez que eu entro em cena, ou vejo um trabalho pronto e sinto a reação do público, tudo se renova. Essa troca me lembra por que comecei e me dá força pra continuar.
A verdade é que eu não consigo desistir, se eu conseguisse, já teria feito há muito tempo (risos). Eu acredito que ser artista não é exatamente uma escolha, a gente nasce assim. Sou completamente apaixonada por contar histórias, seja atuando, escrevendo ou produzindo. E, no fim das contas, acho que é esse amor que me faz seguir em frente, mesmo diante das dificuldades.
CE - Você se assiste? É muito crítica consigo mesma?
MH - Eu me assisto sim, até porque acho importante pra ver onde posso melhorar. Mas olha… não me assisto muito, não (risos). Eu sou muito crítica comigo mesma! Sempre acho que poderia ter feito diferente, escolhido outro caminho, sabe? Então, geralmente assisto uma ou duas vezes e pronto, porque senão começo a implicar comigo (risos). No fim, acho que essa autocrítica faz parte, me ajuda a querer sempre evoluir. Mas tento não me levar tão a sério e lembrar que cada trabalho também é um aprendizado.
CE - O que deseja realizar na profissão que ainda não teve oportunidade?
MH - Vixe… muita coisa! (risos) Quero fazer mais filmes, mais séries e também uma novela, que é um formato que ainda não tive a chance de explorar como gostaria. Tenho muita vontade de voltar ao palco também, em peças dirigidas por pessoas que admiro, dividindo cena com atores com quem ainda não tive a sorte de trabalhar. Um dos meus maiores sonhos é ver os filmes que eu escrevo ganhando vida nas telonas… acho que vai ser um dos momentos mais felizes da minha vida quando eu puder sentar na poltrona do cinema e assistir a uma história minha acontecendo diante do público.
E claro, também sonho com uma carreira internacional. No dia em que eu trabalhar com o Wagner Moura e com a Viola Davis eu zerei a vida! (risos) E, aqui no Brasil, tenho uma admiração enorme pela Maeve Jinkings e pela Alice Carvalho, que são minhas atrizes favoritas e com quem eu espero muito dividir cena um dia. Enfim, tem muito sonho dentro de mim, viu?
CE - Atualmente, você está escrevendo o projeto de um roteiro de cinema. O que pode adiantar sobre ele? E pensa em investir nessa carreira de autora? Quais suas referências?
MH - É um sonho antigo que finalmente estou vivendo. É um filme inspirado em fatos reais, no estilo true crime, que carrego com muito carinho por ser um projeto que também traz um alerta social muito importante. É uma história forte, que fala sobre manipulação e relações de poder, mas também sobre coragem e solidariedade.
O que eu posso adiantar é que, além de escrever, eu também atuo nele (risos). E tem outro detalhe que me enche de orgulho... é um projeto feito por mulheres e desenvolvido por mulheres, que pra essa história em especial é fundamental. Escrever tem sido um processo transformador, porque é muito diferente de atuar. Quando estou na frente das câmeras, entro no universo que alguém já criou, mas escrevendo, eu mesma construo esse universo do zero. Isso me dá uma liberdade criativa imensa.
Claro que é um grande desafio, mas estou apaixonada por esse lugar da escrita. E sim, penso em investir cada vez mais nessa carreira de autora. Quero muito continuar criando histórias e, quem sabe, também produzindo mais lá na frente. Acho que é uma forma de ampliar minha voz como artista, não só interpretar, mas também colocar no mundo as histórias que eu acredito que precisam ser contadas.
Tenho muitas! (risos) Eu adoro o Spike Lee, porque ele consegue unir entretenimento com reflexão social de um jeito muito poderoso. Também admiro demais a Greta Gerwig, tanto pela sensibilidade quanto pela coragem de contar histórias sob uma ótica feminina, com tanta autenticidade. O Tarantino é outra referência que eu amo, pelo estilo único, pelos diálogos afiados, pela maneira como ele cria tensão e, ao mesmo tempo, surpreende o espectador.
Já o Charlie Kaufman me inspira pelo mergulho psicológico, pela capacidade de explorar o absurdo e o íntimo ao mesmo tempo, criando narrativas que desafiam a gente a olhar pra dentro. Acho que o que mais me fascina nesses autores é justamente essa mistura... cada um, à sua maneira, mostra que roteiro não é só sobre contar uma boa história, mas sobre oferecer um olhar, provocar o público, abrir novas camadas de entendimento.
Cangaceiro do Futuro - DivulgaçãoCE - Em paralelo, você tem um trabalho em que ensina oratória pra pessoas comuns e profissionais que dependem da comunicação. Como surgiu essa ideia? E como
MH - O Destrava nasceu de forma muito natural, da minha experiência como atriz e também da trajetória da minha sócia, Carol Rossi. A gente trouxe muita coisa do teatro, porque ali aprendemos que comunicar não é só falar bonito, é também escutar, ajustar o tom, o ritmo, a energia… E percebemos que essas técnicas poderiam ajudar qualquer pessoa no dia a dia. Então desde 2021, temos trabalhado com pessoas de perfis muito diferentes... já passaram por nós juízes, médicos, publicitários, líderes de empresas, jovens começando a carreira… e cada um chega com seu jeito, seus trejeitos, suas inseguranças.
É muito especial ver cada um descobrindo o seu jeito de se comunicar, do jeito mais verdadeiro possível. Hoje temos um curso online, consultorias individuais e também treinamentos em empresas. E o mais bonito é que eu sinto que aprendo tanto quanto ensino. Como atriz, observo o humano o tempo todo, e no Destrava tenho contato com realidades que acabam me inspirando até na criação de personagens. No fim das contas, uma coisa alimenta a outra: a arte me deu as ferramentas, e o Destrava me dá a chance de compartilhar isso de forma simples, ajudando outras pessoas a se comunicarem com mais confiança.

Neli Marlene Monteiro Tomari e Yosichico Tomari, que hoje comemoram bodas de ouro, 50 anos de casamento - Foto: Arquivo Pessoal
Donata Meirelles - Foto: Marcos Samerson


