Prestes a completar 20 anos de carreira, Eduardo Muniz acabou de gravar participação na elogiada série “Silent Witness”, que é exibida desde 1996 na BBC, na Inglaterra. A atração, que está na sua 28ª temporada, é um dos dramas policiais de maior prestígio da TV britânica, conhecida por seus casos complexos e investigações forenses realistas.
Em 2022, o carioca ganhou destaque ao estrelar um episódio da premiada série americana “Grey’s anatony”. Na atração, ele deu vida a um personagem brasileiro. Eduardo fez sua estreia como ator no extinto “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, na Globo, em 2006. Em seu currículo também constam participações em novelas da Record, como “Luz do Sol”, “Caminhos do Coração” e “Amor e Intrigas”. Ele ainda assinou a direção de três peças brasileiras, como “Afogando em Terra Firme", que foi indicada ao Prêmio APCA.
Morando desde 2011 nos EUA com a esposa (e também atriz) Bia Borinn, Muniz já coleciona por lá diversos trabalhos como ator de cinema e de TV e como diretor de teatro. Em breve, começará a rodar o curta “Papai é um Robô”, escrito por Rodrigo Nogueira, do qual será o protagonista e o responsável pela direção.
Paralela à sua trajetória artística, Eduardo Muniz é a voz dos canais brasileiros Sportv e Modo Viagem, da rádio carioca Mix Fm e do Slime Blob no aplicativo do Waze.
Eduardo é Capa do Correio B+ desta semana e em entrevista exclusiva ao Caderno ele fala sobre carreira e seus trabalhos nos EUA aonde mora desde 2011.
O ator Eduardo Muniz é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Joanna Deggeneres - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Eduardo você já participou da aclamada série americana “Grey’s Anatony” e acabou de rodar a britânica “Silent Witness”. Como surgiram essas oportunidades para um ator brasileiro?
EM - Muita gente odeia essa resposta: eu tive foi muita sorte. Sorte de estar no lugar certo, na hora certa. Tive que fazer testes para ambos os papéis. Para Silent Witness tive que fazer dois testes.
Obviamente, quando a sorte vem, é preciso estar preparado. A preparação é algo muito pessoal: existem atores geniais que nunca pisaram numa escola de teatro, outros têm formação clássica na RADA ou na Juilliard. Eu me formei na CAL, no Rio de Janeiro, e numa escola pequena americana chamada Michael Howard Studios, em NY.
CE - Sempre pensou em ter carreira internacional? E como é poder fazer participação em projetos tão relevantes?
EM - Jamais pensei nisso, nem quando já morava aqui nos EUA. A ideia de tentar veio somente no fim de 2021, após a pandemia, fruto da necessidade de sustentar a família. Em poucos meses, peguei o Grey’s Anatomy e realmente pensei que logo viriam mais oportunidades. Fiz um filme em 2023, mas daí veio a greve dos atores que colocou a indústria como um todo no chão.
Estamos tentando recuperar até agora e, olhando pelo retrovisor, vem a Inteligência Artificial com tudo. Mas fiquei muito honrado de participar de duas grandíssimas séries. Foram experiências diferentes: no Grey’s sem tempo de preparação, meio no susto; Silent Witness foi o contrário, tive tempo para me preparar, um mês na Inglaterra com folgas entre as gravações. Usei os breaks para ir a museus e, principalmente, ao teatro. Assisti a peças maravilhosas que me inspiraram ainda mais a fazer um bom trabalho no set! (risos)
CE - Atuando pelo mundo, você consegue perceber diferenças na forma de se trabalhar? E o que aprendeu como ator no exterior que não teve a oportunidade no Brasil?
EM - Sim, sem dúvida. Isso varia de produção para produção, mas como filmar em Los Angeles custa uma verdadeira fortuna, tudo tem que ser rápido, existe um ritmo frenético — ainda mais em televisão. Na Inglaterra, senti um ritmo muito mais suave, e tive essa sensação até mesmo no dia a dia, num museu, num café. A relação com o tempo é diferente. Faz muitos anos que não atuo no Brasil em português, então ainda não tive a oportunidade de atuar depois de ter juntado essa bagagem de fora. Mas vontade não falta!
CE - Em 2026, você vai completar 20 anos de trajetória artística. Como avalia essa caminhada? E como surgiu seu interessa pelas artes cênicas?
EM - Novamente, fui muito sortudo. Tive a chance de fazer muito teatro, de fazer peças de sucesso que ficaram um tempão em cartaz. Isso me formou como ator e diretor. Mais importante ainda, tive a chance de formar uma família e de estar sempre atento ao equilíbrio com a carreira, afinal a infância é uma só e passa rapidíssimo. Acho que meu interesse pelas artes é o clássico: terceiro filho, pai sempre trabalhando, “pelo amor de Deus alguém me dá atenção e me ame”! rs. Eu me apaixonei pelo cinema muito novo, ia na locadora perto de casa e alugava 5–6 VHS de tudo quanto é filme. Aos 16 anos já tinha visto mais de 2000.
CE - No seu currículo consta indicação a prêmio por trabalho como diretor de teatro no Brasil. Pensa em retomar esse trabalho? E já pensou em atuar nos palcos dos EUA?
EM - Sem dúvida, eu amo dirigir tanto quanto atuar. Penso em dirigir no Brasil novamente, ou quem sabe por aqui também. Minha esposa (a atriz Bia Borinn) está produzindo uma peça sobre Carmen Miranda por aqui e me chamou para atuar. Então pode ser que aconteça logo, logo!
CE - E agora que o Brasil tem sido muito premiado com seu cinema pelo mundo, acha que os artistas daqui estão sendo olhados de outra forma pelo mercado internacional?
EM - Acho que sim. Ano passado com Ainda Estou Aqui, este ano com Agente Secreto levando 4 prêmios em Cannes, um deles pro Wagner, que é um cara que eu amo. E também O Último Azul, com a Denise, que foi minha mãe durante anos numa peça — uma amiga que o teatro me deu e que amo muito também. Esses filmes ajudam a derrubar os estereótipos de que o Brasil é só futebol e favela. Temos uma cultura riquíssima, e ainda tem muito mais coisa boa vindo por aí.
O ator Eduardo Muniz é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Joanna Deggeneres - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Eduardo Muniz mora nos EUA desde 2011. Como foi a decisão de se mudar? Do que sente falta no Brasil?
EM - Devo ser o único brasileiro que foi pros EUA para trabalhar menos e não mais. O plano, junto com minha esposa, era ter mais tempo em família. No ano em que viemos, eu estava dirigindo e atuando num espetáculo, gravando locuções em estúdios espalhados por São Paulo. Realmente totalmente ausente como pai. Não estava feliz, na verdade me sentia péssimo. Mesmo com toda atenção, dinheiro, sucesso. Ir para os EUA foi um chamado para recuperar um certo equilíbrio — e que bom que eu não só estava atento, mas segui a intuição de vir. E que minha esposa topou essa aventura comigo também.
Estive no Brasil em junho, mas logo tive que voar para a Inglaterra para filmar Silent Witness. Sinto falta da minha família. Perdi minha mãe no fim do ano passado e ainda estou vivendo o luto disso. Faz uma falta danada na minha vida. Mas também sinto falta dos meus amigos mais próximos, sinto falta da comida, da cultura. Não é moleza não, em casa é sempre uma discussão: “bora voltar?”
CE - Você agora está se dedicando a dirigir seu primeiro curta. Fale mais desse projeto. E pensa em investir em mais trabalhos atrás das câmeras?
EM - Papai é um Robô, escrito pelo meu amigo Rodrigo Nogueira, é fruto dessa constante busca por equilibrar a vida em família, o trabalho e os sonhos pessoais. É minha primeira direção em cinema, então também fruto da curiosidade por algo que jamais fiz antes. Eu sou o tipo de ator que cola no/na diretor(a) de fotografia e fico perguntando tudo sobre lentes, planos, câmeras etc. Faço o mesmo com diretor, roteirista, iluminador, figurinista. Sou fascinado por todos os aspectos do storytelling. Mas como tenho dislexia, sou um visual learner, acabo enchendo mais a paciência do diretor de fotografia mesmo! rs
CE - Cogita voltar ao Brasil para atuar? Tem vontade de fazer novelas (não só participações)?
EM - Sem dúvida. É um sonho poder atuar em português. Tive um papo com Wagner logo depois que ele voltou do Brasil e filmou O Agente Secreto, e ele me disse como estava feliz em atuar novamente em português. Fiquei com a maior vontade também!! Novelas são um pouco mais complexas porque meus dois filhos estão numa escola que eles adoram e geralmente novelas duram meses a fio. Então teria que ser um projeto muito tentador para topar. Mas nem eu nem minha esposa descartamos, não. Dá-se um jeitinho, né?
CE - Além de ser ator, você tem uma carreira sólida de locutor. E você é a “voz” de meios de comunicação relevantes, como a rádio Mix e os canais Modo Viagem e Sportv. Como surgiu a oportunidade de usar a sua voz como trabalho? E como é esse trabalho de locutor?
EM - O locutor surgiu por acidente. Fiz um teste, indicado pelo querido Marcelo Laham, para o que seria um comercial de Coca-Cola que, na verdade, era para ser a voz da Coca-Cola na Copa do Mundo da FIFA 2010. Peguei o trabalho e minha voz foi parar em cada casa, cada táxi, cinema, bar, desse Brasil.
Como eu tinha uma pegada de ator, mais natural, neutra de sotaque, e o mercado estava sedento por esse tipo de voz, acabei trabalhando sem parar até hoje. Poucos foram os dias em que não fiquei na frente de um microfone nos últimos 16 anos. Eu AMO esse trabalho, me dá liberdade para curtir a família. Tenho homestudio, então recebo os roteiros por e-mail, gravo no meu tempo e mando para o/a produtor(a). Como fiz mais de, sei lá, 2000 projetos nesses anos, já é segunda natureza. Nem penso muito — mas lógico, sem deixar o trabalho monocórdico. Acho que justamente porque não penso muito é que as locuções saem super naturais. (risos). Eu me divirto fazendo.
Eduardo na premiada série americana “Grey’s Anatony” - Divulgação

Neli Marlene Monteiro Tomari e Yosichico Tomari, que hoje comemoram bodas de ouro, 50 anos de casamento - Foto: Arquivo Pessoal
Donata Meirelles - Foto: Marcos Samerson


