“Vendo tudo que estava sendo produzido, tanto dentro quanto fora do bairro, eu percebia que muitas vezes não era o retrato do que eu estava vivendo ali. Sempre via o pessoal indo até a periferia, mas não pertencendo àquele espaço e produzindo coisas a respeito. Uma visão totalmente externa”, explica a diretora e roteirista Thauanny Maíra.
Aos 22 anos, a jovem decidiu reunir um grupo de profissionais para filmar o curta-metragem “A Margem É o Centro”, que traz informações e personagens do bairro Moreninhas, um dos mais famosos de Campo Grande.
“A visão era externa ou então voltada para o lado jornalístico, por exemplo, quando o foco era uma tragédia”, ressalta Thauanny sobre a representação do bairro, que para ela vai muito além disso.
O sentimento de pertencimento está presente durante todo o diálogo com a jovem diretora, que mora desde que nasceu no bairro, ao lado da família.
“A ideia era ir em busca de histórias bem interessantes, de pessoas tentando fazer a diferença. No início eu pensei em fazer em conjunto com um amigo, que infelizmente faleceu no ano passado. Quando comecei a gravar no início deste ano, não é uma questão de homenagem, mas é o começo de uma coisa que faríamos juntos”, frisa.
O amigo em questão acabou falecendo em decorrência de um acidente de trânsito, e Thauanny chegou a cogitar incluir uma fala dele sobre o bairro.
“Eu ia colocar no começo do documentário, mas eu preferi guardar, esperar maturar um pouco para ter mais estrutura, acho que esse projeto como um todo serviu como um laboratório para algo maior”, conta.
No curta-metragem, que está disponível no YouTube, a diretora reúne personagens interessantes do bairro, como a professora de capoeira Michelle de Souza, filha de uma das primeiras moradoras das Moreninhas. Durante seu depoimento, ela conta de seu trabalho voluntário no bairro e também sobre o sentimento de pertencimento.
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Representatividade
Produzido em sua maioria por jovens negros, segundo a diretora, o curta-metragem dá voz aos moradores da periferia.
“Acredito que esse filme é o começo de um novo movimento de ressignificação dos espaços marginalizados, das pessoas que ali vivem e produzem, ninguém melhor para contar a nossa história do que nós mesmos”, acredita Thauanny.
“Quero mostrar para os jovens negros que se interessam pelo audiovisual que a gente precisa se juntar para criar uma identidade nossa, porque o audiovisual é muito elitizado, essas iniciativas, não é um espaço que foi criado, aos poucos um projeto como esse tem o papel de desenvolver esse espaço”, pontua.
Para ela, ainda é preciso romper algumas barreiras.
“Acima de tudo foi muito mais a questão de um exercício, um primeiro passo de algo que pode se tornar muito grande, de jovens que podem meio que dominar esse cenário, que eu acho que está muito atrasado, é sempre uma bolha que é difícil da gente entrar, mas que agora que conseguimos é para fazer a diferença”, ressalta.
Thauanny espera ter mais tempo também para desenvolver os projetos.
“Eu espero desenvolver trabalhos ainda melhores do que esse, porque para o curta tivemos apenas um dia para gravar. Foi bem corrido, o prazo da Fundação de Cultura foi supercurto e a gente trabalhando, estudando, dependendo de ônibus para chegar em casa. Muita gente não tinha computador para editar, não tinha logística para fazer um negócio muito maior”, explica.
Serviço –
Para conferir o curta-metragem, acesse o Youtube . O projeto tem financiamento do Edital Emergencial da Lei Aldir Blanc (14.014/2020).



As pinturas de Isabê também estarão na Casa-Quintal 109 de Manoel de Barros, museu na antiga residência do poeta, no Jardim dos Estados - Foto: Divulgação


Filme lança hoje - Foto: Divulgação

Patricia Maiolino e Isa Maiolino
Ana Paula Carneiro, Luciana Junqueira, Beto Silva e Cynthia Cosini


