Quando o filme As Quatro Estações foi lançado em 1981, ainda era criança e vi o original, mas era nova demais para compreender tudo o que Alan Alda capturou com tanta precisão em uma produção que foi sucesso de crítica e trazia, além dele próprio, as gigantes Carol Burnett e Rita Moreno no elenco.
É um conto conhecido: amigos chegando à meia-idade e começando a questionar o que significam felicidade, casamento e recomeços.
Lançado em 22 de maio de 1981, o filme original marcou a estreia do premiado ator como diretor de cinema. Conhecido até então como ator de televisão, especialmente por seu papel como o sarcástico Hawkeye Pierce em MASH*, Alda surpreendeu o público e a crítica com uma comédia dramática madura e afiada sobre a complexidade das relações de longa data entre adultos — casamentos, amizades e tudo o que se transforma com o passar do tempo.
As Quatro Estações foi um projeto pessoal de Alan Alda. Ele escreveu o roteiro inspirado em suas próprias reflexões sobre amizades adultas e as crises silenciosas que afetam casamentos de longa duração.
Dirigir e atuar no filme foi um desafio que ele encarou com sensibilidade e leveza, extraindo um tom agridoce que se equilibra entre o humor e a melancolia.
O estilo de Alda como diretor se mostrou íntimo, quase teatral, privilegiando os diálogos e o desenvolvimento psicológico dos personagens. A ambientação em cenários naturais — as casas de campo, a neve, os bosques — reforça o tema do tempo que passa, com as estações funcionando como metáforas visuais do envelhecimento e da renovação.
O sucesso do filme levou à criação de uma série de televisão homônima em 1984, produzida pelo próprio Alda e exibida na CBS, com ele e Carol Burnett reprisando seus papéis. Mas não deu certo e não sobreviveu mais do que uma temporada.
Ainda assim, a tentativa mostra o impacto cultural duradouro do filme e o desejo de explorar mais a fundo a vida emocional desses personagens. E precisou 44 anos para funcionar na TV como ele pensou. A história permanece atual e relevante. Foi por isso que Tina Fey, fã declarada do filme, liderou uma nova adaptação, que se tornou um dos destaques da programação de maio na Netflix.

Dividindo a história em quatro partes — alinhadas à sinfonia As Quatro Estações, de Antonio Vivaldi —, Alda se inspirou em um episódio pessoal em que julgou um amigo com severidade e depois percebeu que não só estava errado, como também que amizades atravessam suas próprias “estações”. A partir disso, escreveu o roteiro com essa noção de ciclos afetivos e emocionais.
Fey foi sagaz ao manter o formato de série, com oito episódios (dois por estação), cobrindo quase dois anos na vida de seis amigos. Os três casais — Nick (Steve Carell) e Anne (Keri Kenney-Silver), Kate (Fey) e Jack (Will Forte), Danny (Colman Domingo) e Claude (Marco Calvani) — mantêm, há mais de 25 anos, a tradição de viajarem juntos a cada estação do ano.
Tudo começa a desandar quando Nick anuncia que vai se separar de Anne, chocando os amigos, que os consideravam o casal mais feliz e apaixonado. A ruptura abala não apenas o grupo, mas o equilíbrio dentro de cada relacionamento.
O tema de casamento, divórcio e conflitos geracionais é atemporal. Mas a série atualiza os dilemas, o humor e as tensões para refletirem os tempos atuais, preservando o equilíbrio que Alan Alda alcançou entre comédia e drama — e mantendo aquele olhar afetuoso para todos os personagens, sem julgamentos.
Pode parecer simples, mas não é. Nenhum dos seis é idealizado; todos têm defeitos, mas são falhas coerentes e tratadas com empatia.
Se já é difícil criar química entre casais em cena, imagine entre um grupo inteiro. Ainda assim, As Quatro Estações consegue — e com isso nos envolve rapidamente.
Assim como no filme de 1981, cada episódio se passa em uma estação específica, reforçando a ideia de que as relações humanas também vivem seus próprios ciclos: de florescimento, crise, queda e reinvenção.
A participação rápida de Alan Alda — que se aposentou após o diagnóstico de Parkinson, mas atuou aqui também como produtor — é emocionante e reverente. Ele aparece como Don, pai de Anne, oferecendo conselhos melancólicos sobre o tempo e a convivência.
Sua presença funciona quase como uma bênção simbólica à nova geração, conectando as duas versões. Aliás, se quisermos imaginar poeticamente, Anne bem que poderia ser filha de Jack, o personagem de Alda no original. As estações passam — para cada geração.
Por tudo isso, o novo As Quatro Estações não é apenas uma homenagem, mas uma expansão do filme original. Reflete um momento cultural de reconstrução — num mundo pós-pandemia, com amizades remendadas e relações reavaliadas —, retomando uma narrativa sobre vínculos afetivos que tentam, com mais ou menos sucesso, resistir às mudanças inevitáveis do tempo.
E sem dar spoilers: quando achamos que a história vai para um lado, ela nos surpreende e segue por outro.
Vale muito assistir à série — seja numa maratona só ou aos poucos, saboreando cada estação.