Há um crítico de cinema e TV em todos nós que consumimos entretenimento e quando de cara percebemos que já conhecemos a história contada mil vezes temos que fazer uma escolha: nos deixamos levar ou detonamos o filme/série? Prime Target, a série de oito episódios da Apple TV Plus se encaixa nessa escolha. Parece que é a nova estratégia da plataforma que há quatro anos me enganou como a “nova HBO” e hoje é a mais insossa de todas, mas falarei mais sobre isso à frente.
Prime Target , criada por Steve Thompson, nos apresenta quatro histórias que vão convergir para uma grande conspiração. Da explosão em Bagdá à Cambridge, passando pelo Sul da França, há algo suspeito que move o mercado negro da informação. A série nos convida a embarcar nessa aventura repleta de clichês para ter algumas horas de diversão com um thriller de espionagem revisitado.
O “herói” da trama é o candidato a Ph.D. da Universidade de Cambridge Edward Brooks (Leo Woodall) o gênio (autista?) fixado em números primos que está prestes a desenvolver um localizador de números primos, que poderia decodificar cada chave digital da Terra.
O que ele não sabe é que seu orientador, e um outro número de pessoas, é observado pela Agência de Segurança Nacional (NSA), que quer impedir que mercenários se apropriem da descoberta. É mais ou menos isso a história, que traz reviravoltas, lindos cenários e um elenco de beldades também.
A agente Taylah Sanders (Quintessa Swindell) assume a responsabilidade salvar o desagradável social Brooks, e de mantê-lo seguro. Como o New York Times resume perfeitamente: “Não pense muito sobre a premissa. Apenas aproveite os constantes momentos de suspense e as pessoas bonitas”. Isso porque a aventura que une uma dupla improvável é uma sequência repetida de corridas, sustos e fugas impossíveis.
A inversão de que é a mulher salvando o homem está alinhada com os novos tempos, a fluidez dos personagens também, a inclusão… tudo certinho e também contribuindo para previsibilidade.
Dito isso, é muito bom ver a construção de novos astros, ter sangue novo nas telas é algo que sempre devemos apreciar e Leo Woodall vem ganhando momento desde que chamou a atenção mundial na segunda temporada de The White Lotus e da refilmagem de One Day na Netflix, sem esquecer que está no último Bridget Jones também. Aliás, ele lembra um jovem Matt Damon e é curioso que a série seja uma mescla de Gênio Indomável (Good Will Hunting) e Jason Bourne.

De todos os clichês, o que mais me incomoda é que todo gênio seja um neurodivergente. Tive esse problema com outra série da Apple TV Plus, A Química do Amor, com Brie Larson: como se todo perfil de exatas não tivesse humanas em si. Seria colocar qualquer pessoa que seja boa com palavras forçosamente ruim com números. Não é simples assim e menos ainda apurado.
Mas é o que temos e com isso, assim como todas produções sobre matemática e química, há longos diálogos acelerados para falar de números e fórmulas de maneira que o público se sinta incapaz de questionar o que está sendo feito ou dito, sendo chamado e tratado como burro, para que a história funcione. Assim, Prime Target é fixada em números. Supere a resistência e se coloque onde eles te querem (sem entender nada da parte de cálculos) e terá um suspense sem compromissos.
Os críticos estão massacrando a série (uma ironia que coloque o algoritmo para baixo), mas se você está na Apple TV Plus tem tido dificuldade de reencontrar coisas tão geniais como Ted Lasso, o principal e melhor conteúdo da plataforma.
E Ted Lasso também só é “isso tudo” porque estava no ar em um momento singular – a pandemia de Covid 19 – onde a positividade da série era essencial para muitos de nós para manter a esperança e o foco no futuro. A plataforma tem estrelas de grandeza, produções luxuosas, mas em termos de conteúdo está cada vez mais vazia de originalidade. Uma pena.
Ah, e Prime Target? O alvo é semelhante às doideiras de A Diplomata ou outras aventuras que têm sido elogiadas. Claro que é divertida! Só não é nada genial…
