Devo começar o recap de hoje de And Just Like That celebrando que, pelo menos, um casal e um personagem masculino da franquia não foi destruído para que uma das heroínas pudesse seguir com a vida ou mudar alguma coisa.
Sim, Harry está com câncer, mas ele está otimista — e o funeral que tanto me preocupou quando as imagens vazaram, felizmente, não era o dele. Ufa!
Em compensação, Carrie e Aidan estão ladeira abaixo. Já falei aqui sobre o quanto entendíamos Aidan de forma equivocada, assim como torcíamos, também erroneamente, por Mr. Big. Mas as críticas à Carrie são antigas e igualmente justificadas.
Avançamos dois meses desde a fatídica incursão dela ao campo, e Aidan liga animado porque o filho problemático viajaria por uma semana — o que permitiria a ele ficar com a namorada.
Mas, ao chegar, em vez de abrir a porta com a chave que Carrie lhe deu, ele resolve jogar pedrinhas na janela. Resultado óbvio: quebra o vidro. E Carrie, em vez de simplesmente aceitar os pedidos de desculpa e as ofertas de reparação, insiste em dizer que, uma vez quebrado, não tem volta. Uma metáfora nada sutil (e mal colocada) para os dois.
Aidan, que flerta com o patético — já fez cocô nas calças num episódio e tem ideias de jirico no outro —, desta vez aparece com as calças curtas e rasgadas num funeral. Ele desaba: a tal viagem de Wyatt deu errado, o menino instável (sem medicação, porque o pai não quer) voltou atrás, foi forçado a ir e agora Aidan se sente um merda. Simpatizamos.
Mas ele está longe de ter condições emocionais de pedir — ou oferecer — suporte e estabilidade para Carrie. Wyatt não vai dar trégua em cinco anos, e o próprio Aidan reconhece que talvez não haja arco-íris no fim da estrada. Com ninguém.
O episódio segue em desencontros até que, no final, já desconfiado de tanto ouvir o nome do vizinho Duncan e notar que Carrie anda toda cuidadosa com ele (até abriu mão de andar de salto alto em casa!), Aidan resolve agir como Carrie em Sex and The City: confessa que dormiu com a ex-mulher, Kathy. Um déjà-vu importante para quem acompanhou o longo histórico dos dois.
Carrie se surpreende, mas aos 60 é muito mais madura do que foi em seis temporadas da série original. Ela diz — e genuinamente — o que Aidan nunca conseguiu escutar no passado: está tudo bem. Ela entende que entre ele e a mãe dos filhos sempre haverá um vínculo, e que sexo pode acontecer sem estar no plano. Aidan se sente ainda mais idiota. E merece.
É então que vem o acerto de contas que os fãs aguardam há décadas: Aidan realmente queria que Carrie esperasse por ele — sem garantias, sem estar com mais ninguém. A verdade é que ele sempre quis possuir Carrie. Nunca bastou estar com ela. E como a promo do próximo episódio já anuncia: sai Aidan, entra Duncan.

Perdem-se pais, amigos, maridos, colegas. Reclamamos do luto prolongado de Carrie após a morte de Big, mas ela foi coerente com a história. Com a COVID-19, seria razoável eliminar outros personagens — mas optaram por exilar Samantha em Londres e transformar Stanford em monge tibetano. Está certo.
Agora, coube a Harry e Charlotte enfrentarem um novo luto: o da saúde. Charlotte está sofrendo duplamente, por ter que guardar o segredo do câncer do marido — e o desabafo vem num encontro inesperado com Carrie na farmácia. Ainda teremos mais lágrimas e é difícil não temer por esse casal, que representa o lado mais gentil da série. Espero que sejam poupados.
Miranda, a insuportável, finalmente encontrou uma namorada decente e a apresentou ao filho. Melhor ainda: conseguiu um apartamento (graças à Seema). Que continue no circuito secundário, porque sua vida trapalhona já deu.
Sobraram então Seema e Lisa. Lisa, envolvida com seu editor, perdeu o pai repentinamente. Está se culpando por ter desligado o celular e perdido a chance de uma última conversa — e ainda teve que lidar com a namorada-viúva dele.
Seema, por sua vez, sem dinheiro, teve que voltar a andar de metrô e táxi, o que para ela é uma tragédia pessoal. Isso parte o coração, porque Seema é a melhor adição da franquia. Queremos vê-la feliz, bem-sucedida e amada.
No fim das contas, o episódio mostra que And Just Like That ainda sabe onde tocar — mesmo quando tropeça nos próprios clichês. Ao permitir que Carrie finalmente enxergue Aidan como ele realmente é, a série fecha um ciclo que começou décadas atrás.
E ao fazer com que perdas, doenças e recomeços se imponham, ela lembra que amadurecer não é sobre finais felizes, mas sobre seguir — às vezes mais sozinhos, às vezes mais sábios, quase sempre com cicatrizes. O que vem depois? Ainda não sabemos. Mas como sempre, vamos com elas. E torcendo por Seema.